“Uma cultura que enfatiza os valores STEAM na educação é fundamental para o progresso”

Professor da NYU, autor de best sellers e um dos maiores defensores da inovação, Steven Johnson ministra palestra para educadores na Jornada Pedagógica do SENAI. Confira entrevista

Autor de 13 livros, apresentador, podcaster e professor na New York University, Steven Johnson é um especialista em história das invenções e ideias, chamado pelo Wall Street Journal de “um dos mais persuasivos defensores do papel da colaboração na inovação”.

Entre suas obras estão best sellers como “De onde vêm as boas ideias”, “O mapa fantasma”, “Wonderland” e “Como chegamos até aqui”. Em seus textos, é possível conhecer o passado, o presente e o futuro da inovação. Ele mesmo um inovador, co-criou uma das primeiras revistas on-line, FEED, e o site de mídia hiperlocal, outside.in, vendido para o AOL em 2010.


“As duas perguntas que estão no centro do trabalho por mais de duas décadas são: de onde vêm as boas ideias e como podemos evitar que elas se virem contra nós”, destaca na apresentação da sua newsletter.


Com esse currículo, Steven Johnson ministrou a palestra magna da Jornada Pedagógica do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que aconteceu on-line nesta quinta-feira (3). Realizado anualmente desde 2016, o evento reúne docentes, coordenadores pedagógicos, gerentes e outros profissionais de cerca de 500 escolas SENAI, totalizando aproximadamente 10 mil participantes. O tema desta edição é criatividade e inovação na docência.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA  - Por que os países devem colocar ciência, tecnologia e educação como pilares do desenvolvimento social e econômico?

STEVEN JOHNSON - Grande parte da minha pesquisa ao longo dos anos analisou tendências de progresso de longo prazo, lugares onde os seres humanos conseguiram melhorar seus padrões básicos de vida ou sua saúde de maneira sustentada – como a duplicação da expectativa de vida global sobre a qual escrevi no meu último livro, Extra Life. E se você olhar para essas grandes mudanças, elas geralmente são impulsionadas por avanços na ciência e tecnologia: fertilizantes artificiais, antibióticos, vacinas de mRNA, design racional de medicamentos e agora as novas possibilidades que a inteligência artificial vai abrir. Portanto, criar uma cultura que enfatize esses valores STEM na educação é muito importante se quisermos que esse progresso continue. Eles não são toda a história: também precisamos de pessoas que possam explicar esses novos desenvolvimentos para um público de massa, e que possam lutar por eles na esfera pública. Mas sem a plataforma subjacente de ciência e tecnologia, é difícil fazer mudanças significativas acontecerem.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Quais tecnologias terão mais impacto no setor produtivo, especialmente na indústria, nos próximos 10 anos?

STEVEN JOHNSON - Vivemos um longo período de tempo conhecido como o "Inverno da IA", onde a inteligência artificial - que parecia tão promissora algumas décadas atrás - falhou em fornecer resultados significativos. Mas tudo isso está mudando, e mudando rapidamente. A DeepMind, empresa de IA da Google, acaba de lançar um sistema de aprendizado profundo chamado AlphaFold que pode explorar possíveis configurações de proteínas – o que é essencial para entender muitos sistemas biológicos e para o desenvolvimento de novos medicamentos – milhões de vezes mais eficiente do que os humanos poderiam fazer antes. A organização OpenAI acaba de lançar seu programa GPT-3, que é surpreendentemente bom em elaborar prosa original, respondendo a perguntas sobre uma vasta gama de tópicos. A Tesla parece estar fazendo um novo investimento significativo na construção de seu robô Optimus, aproveitando o trabalho que eles fizeram com a IA no desenvolvimento de carros automáticos. Acho que praticamente todos os setores – médicos, advogados, artistas, trabalhadores de linhas de montagem – verão seu trabalho alterado pela ascensão da IA nos próximos dez anos.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Como podemos trazer inovação para a sala de aula (educação de crianças, jovens e adultos) e por que os sistemas educacionais devem investir nela?

STEVEN JOHNSON - Sempre que dou uma palestra para os alunos - sejam eles do ensino médio, pós-graduação ou educação continuada - falo sobre um dos principais valores dos ambientes educacionais (em oposição ao "mundo real" da vida no mercado de trabalho): a oportunidade que as escolas oferecem para fazer conexões entre as disciplinas. Em um dia, você pode passar do pensamento sobre física à biologia molecular e à programação de computadores. A maioria dos ambientes de trabalho não oferece a oportunidade de fazer conexões entre diferentes campos, mas com minha pesquisa, uma das coisas que aprendi é que os pensadores mais inovadores – e as organizações mais inovadoras – são multidisciplinares. São pessoas ou lugares que permitem que diferentes áreas de especialização se polinizem e compartilhem ideias. As instituições educacionais estão posicionadas de forma única para oferecer esse tipo de conexão.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Sabemos que não existe uma receita fácil, mas existem boas práticas para se ter boas ideias. Então, o que você recomenda para quem quer ser mais inovador?

STEVEN JOHNSON - Um dos meus princípios é focar em palpites, não em momentos eureka. A maioria das grandes ideias não vem ao mundo em um momento de inspiração repentina, onde um insight brilhante surge em sua mente e tudo muda. Em vez disso, eles são o que eu chamo de "palpites lentos" - eles começam como a sugestão de uma ideia, não totalmente realizada, um senso de possibilidade ou uma pergunta sem resposta. E muitas vezes ficam nesse estado por meses ou anos, antes que, lentamente, comecem a evoluir para algo mais coerente e útil. Mas o problema com os palpites é que eles são incrivelmente fáceis de esquecer, deixar para trás, precisamente porque ainda não estão totalmente formados. Portanto, uma técnica fundamental para ser mais inovador é simplesmente escrever todos esses palpites quando você os tiver pela primeira vez e, em seguida, tornar uma prática revisitá-los nos próximos meses e anos. Às vezes, a ideia que você teve em 2015 não faz sentido até 2022, porque seu próprio pensamento evoluiu, ou porque alguma nova tecnologia surgiu para tornar a ideia prática, ou porque um novo mercado consumidor se abriu onde a ideia poderia tem valor. Então é importante tornar um hábito cultivar seus palpites, mantê-los vivos em sua mente.

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