Já faz tempo que Silvio Meira não usa cartão de papel. Seus contatos são virtuais e o jeito mais fácil de falar com ele é via rede social. Fosse o contrário, seria um contrassenso no currículo de um dos principais especialistas em inovação e tecnologia da informação da atualidade. Professor associado da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), o paraibano veio ao Encontro Nacional da Indústria (ENAI) falar sobre a inevitabilidade da digitalização e a necessidade urgente de os sindicatos absorverem as mudanças tecnológicas para modernizarem sua atuação. "A criação de uma estratégia em rede para a ação sindical digital num país do tamanho do Brasil é absolutamente fundamental. Na realidade, eu diria que é vital do ponto de vista de sobrevivência sindical", afirmou. Confira a seguir, entrevista exclusiva concedida por Meira à Agência CNI de Notícias.
Agência CNI de Notícias - O senhor fala que a inovação hoje acontece no ambiente digital. É diferente para pessoas e instituições?
Silvio Meira - Os trabalhadores dentro do próprio sindicato dos empresários e dos trabalhadores estão informatizados. Você e eu, enquanto pessoas, estamos informatizados. As instituições é que estão atrás. Até a internet chegar, a informática partia das empresas para as pessoas. Depois do móvel aparecer, passou a ser das pessoas para as organizações. E há determinadas coisas que são definitivas. Você não pode tirar os smartphones das pessoas em seus ambientes de trabalho. As pessoas se informatizaram numa velocidade muito maior do que as empresas porque é uma informatização, digitalização fluida. Conseguimos nos adaptar rapidamente, as empresas, não.
Agência CNI de Notícias - Como os sindicatos são influenciados por isso?
Silvio Meira - Imagine um sindicato, que tem estatuto, que tem processos no estatuto, que tem uma reunião para tomar decisões que é presencial. Os sindicatos precisam mudar o estatuto para considerar presença a presença virtual, via Skype ou Whatsapp. Veja a dificuldade que você tem. Imagine um sindicato estadual no Pará, que é maior que a Alemanha, reunir as pessoas todas em um lugar para tomar decisões. Ou você restringe o grupo que toma decisões a um espaço limitado geograficamente - todos são de Belém - ou então você vai fazer uma reunião por ano. Enquanto isso, o mundo ao seu redor - que transfere milhões de dados por segundo - está fazendo uma reunião por segundo e você está fora. O descompasso é muito grande.
Agência CNI de Notícias - Como eles devem mudar essa realidade?
Silvio Meira - O sindicato é um metanegócio. O negócio do sindicato é atender às demandas das empresas. E a demanda das empresas é atender aos seus clientes e usuários. Então, os sindicatos têm dois problemas gigantes:
- como o sindicato, enquanto negócio, se vê na era digital?
- o que ele vai fazer do ponto de vista da construção, da criação de estratégias digitais que tenham competência para atacar os problemas que ele não consegue atacar hoje?
Ele precisa de maior interação com as empresas que fazem parte daquele sindicato, com os setores regulatórios, político, governamental. Maior interação, talvez, com o ambiente inteiro daquele negócio. Precisa pensar o que é comum às empresas do mesmo setor e como articular a cooperação entre elas do ponto de vista digital.
Um exemplo: como fazer com que os processos educacionais dos sindicatos sejam digitalizados, para serem amplos e deslocalizados? A vantagem da digitalização de qualquer coisa é que qualquer pessoa, em qualquer lugar, pode ver. Depois você destemporaliza. Eu não preciso ver aquilo na hora que está acontecendo. Se alguém montar um repositório, que pode ser fechado, no caso dos sindicatos, eu posso ver depois. Um Netflix sindical.
Agência CNI de Notícias - Qual é o papel da CNI nessa transformação?
Silvio Meira - A CNI é uma confederação de ações sindicais. E há coisas que é ela quem deve fazer. Olhando piramidalmente - pensamos que não existem pirâmides em rede, mas existem: não de poder, mas de articulação e criação de processos. A CNI é para a ação sindical digital o que o Google é para a internet. Ela organiza toda a informação. A CNI precisa liderar esse processo, ser estratégica, fazer coisas que os sindicatos verão não como uma intromissão na sua cultura, mas tratar da macrocultura. A CNI tem que articular as redes dos sindicatos para que todos, em conjunto, tenham mais poder. A criação de uma estratégia em rede para a ação sindical digital num país do tamanho do Brasil é absolutamente fundamental. Na realidade, eu diria que é vital do ponto de vista de sobrevivência sindical.