A Olimpíada do Conhecimento , maior competição de educação profissional das Américas, vai reunir, de 10 a 13 de novembro, em Brasília, os melhores alunos de cursos técnicos do Brasil. Durante quatro dias, 1.200 estudantes participam de um super torneio em que os competidores precisam demonstrar conhecimentos teóricos e práticos, habilidades intelectuais e as atitudes consideradas essenciais para o exercício profissional competente. Em uma área de 50 mil metros quadrados construída no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson, os estudantes serão provocados a apresentar soluções e produtos para empresas e para a comunidade, além de participar de provas individuais que exigem precisão e raciocínio rápido.
Na 9ª edição, o evento retorna à capital federal, depois da estreia há 15 anos, com um novo formato: a inclusão de tarefas por equipes. Os alunos terão de apresentar produtos inovadores e sustentáveis em sete desafios: Casa Popular Inteligente, Carro Conceito Compartilhável, Solução Sustentável em TI, Roupa Multifuncional, Festa Saudável, Tuning e Produtividade Leiteira. O diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi, explica que as novas provas buscam testar habilidades que serão exigidas dos profissionais do futuro: “Os competidores terão de demonstrar que são capazes de trabalhar em equipe, com bom relacionamento interpessoal, liderança, gestão e comunicação”, diz ele, em entrevista à Agência CNI de Notícias .
Lucchesi, que também é diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) , explica que os competidores possuem nível de excelência e, geralmente, conseguem enorme êxito na vida profissional. “O jovem que faz educação profissional já é um vencedor. Ele se insere mais rápido no mercado de trabalho e consegue um diferencial na renda”, afirma. Confira na entrevista:
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Qual a importância da Olimpíada do Conhecimento para a indústria e para o país?
RAFAEL LUCCHESI - A Olimpíada do Conhecimento tem um papel extremamente relevante como uma grande reflexão na sociedade brasileira da agenda de educação e no fomento dos cursos técnicos no Brasil. É o momento em que o SENAI coloca em discussão na sociedade a importância da educação profissional para o jovem e para o país. Mostramos que a educação profissional tem diversos benefícios: o jovem ganha uma profissão, pode se inserir no mundo do trabalho e pode prosseguir seus estudos. Ganham as empresas, que terão trabalhadores mais produtivos, com nível de excelência maior, e ganha a sociedade, porque vamos melhorar a produtividade do trabalho no país. Além disso, em todas as ocupações industriais, definimos os níveis de excelência e identificamos nossos melhores profissionais.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Nesta 9ª edição, houve algumas mudanças no formato da Olimpíada. Por quê?
RAFAEL LUCCHESI - A Olimpíada do Conhecimento mudou para serem inseridas, especialmente, provas em equipe. Com esse novo formato, é possível testar habilidades que serão muito exigidas dos profissionais do futuro, como capacidade de trabalhar em equipe e de relacionamento interpessoal, liderança, gestão e comunicação. Além disso, as provas serão mais atrativas ao público, pois vão demonstrar, por meio de produtos que serão apresentados e expostos durante a competição, como os profissionais com formação técnica são importantes para a sociedade.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Quais os benefícios para os jovens que participam da disputa?
RAFAEL LUCCHESI - Ao competir na Olimpíada do Conhecimento, o estudante ganha uma série de atributos comportamentais como foco, planejamento, preparação e excelência, que vão abrir portas para a inserção desse jovem no mercado de trabalho. Em geral, os nossos campeões conseguem enorme êxito na sua vida profissional: ou vão trabalhar em empresas, prosseguem seus estudos ou viram instrutores no SENAI, que é o maior complexo de educação profissional da América Latina. Em geral, os competidores são pessoas diferenciadas, com um nível de excelência para desempenhar funções técnicas e na gestão e liderança de times. Independentemente de participar da competição, o jovem que faz educação profissional já é um vencedor. Ele se insere mais rápido no mercado de trabalho e consegue um diferencial na renda. Todas as pesquisas demonstram que trabalhadores com essa formação têm renda maior do que aqueles que não fazem educação profissional.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Qual é o acréscimo na renda de quem faz educação profissional?
RAFAEL LUCCHESI - Há um diferencial significativo. Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) demonstrou que, entre dois indivíduos com a mesma escolaridade, os que frequentaram o ensino técnico (de nível médio) tiveram aumento de 15% na renda. Se essa formação for do SENAI, esse acréscimo é ainda maior, de 24%, o que não é trivial. É um diferencial importante. Várias ocupações técnicas competem muito bem com formações de nível superior. É o caso do técnico em mineração, que recebe, em média, R$ 7,3 mil (de acordo com dados da pesquisa RAIS/Ministério do Trabalho de 2015).
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Como a educação profissional pode ajudar o jovem, que faz parte do segmento mais afetado pelo desemprego neste momento?
RAFAEL LUCCHESI - No Brasil, hoje nós temos 11% de desemprego na população aberta e, entre jovens, é mais que o dobro, 25%. Investir em educação profissional é uma estratégia muito interessante para uma pessoa que perdeu o emprego se requalificar e para um jovem que busca o primeiro emprego. O curso de educação profissional é o atalho mais rápido para se inserir no mercado. Pesquisa de 2015 mostra que 65% dos ex-alunos do SENAI que concluíram curso técnico em 2014 já estavam trabalhando. Para alguns jovens, essa inserção no mercado de trabalho pode ser o único passaporte para a continuação dos estudos, porque ele vai ter os recursos necessários para dar continuidade à sua formação. O jovem pode usar o ensino técnico para iniciar um projeto de vida com uma profissão já definida e com a possibilidade de uma carreira de sucesso.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Quais são as perspectivas para o trabalhador com formação profissional nos próximos anos no Brasil?
RAFAEL LUCCHESI - O SENAI elabora um estudo chamado Mapa do Trabalho Industrial para subsidiar o planejamento da oferta de cursos em todo o país e, para isso, faz uma projeção de como vai se comportar o mercado de trabalho nos próximos anos. A previsão é que, no período de 2017 a 2020, o mercado vai demandar a formação de 13 milhões de trabalhadores de ocupações industriais com nível técnico, qualificação técnica e de nível superior. Desse total de profissionais qualificados, 28% serão para preencher novas oportunidades de emprego. A previsão é que algumas áreas liderem a demanda por trabalhadores qualificados: Construção, Meio Ambiente e Produção, Metalmecânica, Alimentos, Vestuário e Calçados, Tecnologias da Informação e Comunicação, Energia, Veículos, Petroquímica e Química, entre outros. O estudo demonstra a vitalidade do mercado de trabalho no Brasil no horizonte dos próximos quatro anos. A agenda de qualificação também aponta a preocupação que as empresas têm no sentido de obter ganhos na produtividade do trabalho, que é determinado pelo aumento da competitividade no ambiente econômico.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Pesquisa da CNI mostrou justamente que os empresários consideram a qualidade de mão de obra um dos principais obstáculos ao aumento da produtividade. Como isso ocorre?
RAFAEL LUCCHESI - Temos um problema grave de produtividade no Brasil. Precisamos de cinco brasileiros para ter a mesma produtividade de um trabalhador norte-americano, e isso afeta a competitividade das empresas. Vários fatores concorrem para isso, mas no longo prazo, há um consenso que a produtividade é função da educação, regular ou básica, e da educação profissional. Nós sabemos fazer uma educação profissional de excelência, o resultado da WorldSkills (a olimpíada internacional de profissões técnicas de 2015, quando o Brasil ficou em primeiro lugar) demonstra que o país tem uma educação profissional de excelência, sobretudo a praticada pelo SENAI. Mas é preciso ampliar isso no estoque da população. Temos hoje algo como 11% dos jovens entre 15 e 17 anos que fazem educação profissional junto com educação regular, enquanto a média nos países desenvolvidos é acima de 50% e alguns, como Finlândia e Áustria, têm mais de 70% de seus jovens em cursos técnicos. Vários países estão fazendo reformas de seus sistemas educacionais para valorizar a educação profissional.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O Brasil também discute uma reforma do ensino médio. Qual é sua avaliação sobre a proposta, do ponto de vista da educação profissional?
RAFAEL LUCCHESI - A reforma do ensino médio vai na direção correta do que os países desenvolvidos e emergentes têm feito: um sistema de ensino médio mais diversificado e flexível. Essa é a tendência no mundo, pois oferece mais oportunidades ao jovem e cria um diálogo melhor com a sociedade. No Brasil, a atual reforma inclui o curso técnico como uma das trilhas possíveis de formação do estudante. Isso vai dialogar melhor com o interesse dos jovens, como também com seus projetos de vida. A experiência de outros países demonstra que esse tipo de modelo melhora a qualidade da educação, o nível de engajamento dos jovens nessa fase educacional e o resultado final no aprendizado. A educação profissional abre oportunidades para cerca de 80% dos jovens brasileiros que, atualmente, não têm acesso ao ensino superior. Profissões técnicas permitem a construção de carreiras promissoras em áreas que empregam tecnologias de ponta. São caminhos, além de tudo, para os jovens exercerem com sucesso uma vocação.