Juros altos impactam competitividade e a economia para 2025, diz Arnaldo Jardim

Em entrevista para Revista Indústria Brasileira, Presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo aponta como a alta dos juros afeta investimentos, consumo e o combate ao Custo Brasil

Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) lembra que os juros altos também sufocam financeiramente as pessoas físicas, que perdem capacidade de consumo

Presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) afirma que a alta taxa de juros praticada no Brasil desestimula os investimentos no setor produtivo.


“Com juros altos, é mais vantajoso e estimulante especular do que investir. O crédito fica mais caro, tanto para empresas, que não conseguem investir para produzir mais, quanto para as pessoas físicas, sufocadas por dívidas e sem capacidade de consumir. Isso paralisa a economia como um todo”, diz.


Em decisão unânime da diretoria, o Banco Central elevou a taxa básica de juros em um ponto percentual, passando para 12,25% ao ano, no começo de dezembro. A expectativa do mercado financeiro é que novas altas podem ocorrer nos próximos meses.

Confira entrevista de Arnaldo Jardim para Revista Indústria Brasileira:

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como a decisão do Banco Central de elevar a taxa de juros impacta o esforço que vem sendo feito pela Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo?

ARNALDO JARDIM - Não há dúvida de que os juros elevados contribuem para a redução da nossa competitividade. O Custo Brasil hoje está calculado em R$ 1,7 trilhão, segundo levantamento feito em parceria do Movimento Brasil Competitivo (MBC) com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Desse montante, temos dois eixos que dialogam diretamente com essa questão dos juros. O primeiro deles trata do financiamento dos negócios e representa em torno de R$ 260 bilhões. O segundo trata da capacidade de honrar tributos e pode ser estimado em cerca de R$ 310 bilhões.

Esses dois pontos são influenciados pela alta da taxa dos juros praticados pelo Banco Central porque com juros altos é mais vantajoso e estimulante especular do que investir. O crédito fica mais caro, tanto para empresas, que não conseguem investir para produzir mais, quanto para as pessoas físicas, sufocadas por dívidas e sem capacidade de consumir. Isso paralisa a economia como um todo.

Se as empresas produzem menos e as pessoas consomem menos, o governo se vê obrigado a aumentar os impostos. Impostos mais altos levam a dois caminhos: ou repasse de preços ao cidadão ou inadimplência e insolvência, afetando os empresários, sobretudo os pequenos e médios, que são os maiores empregadores do país. Não conseguindo “honrar os tributos”, perdemos todos. E os juros elevados acabam por piorar o cenário do Custo Brasil.

A Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, que tenho muito orgulho de presidir desde o início de 2023, tem feito um trabalho muito alinhado com o setor produtivo e o MBC no combate ao Custo Brasil. Nosso objetivo é reduzir os gastos de produção adicionais que empresas brasileiras têm no país, em comparação com as que operam nos demais países da OCDE para produzir a mesma coisa.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Que desafios teremos para 2025, sobretudo diante de um cenário de manutenção de juros elevados?

ARNALDO JARDIM - Os desafios para 2025 são vários. O governo acabou de apresentar um pacote de corte de gastos aquém do esperado. Em tese, a Frente do Brasil Competitivo é favorável a ações desta natureza. O Brasil precisa ter equilíbrio fiscal e pagar suas contas. Sem isso, não teremos um crescimento sustentável, segurança jurídica e capacidade de atração de investimentos. Mas o formato apresentado fica aquém do esperado e terá que ser bem discutido no parlamento. Permanecem os erros e equívocos de se acreditar que o equilíbrio virá do aumento de receitas e não do corte de despesas, além da inclusão do aumento do limite de isenção do IR, o que representa mais gastos sem equivalência direta de compensações.

No início do atual governo, fomos favoráveis ao novo arcabouço fiscal, mas desde aquela época alertamos que eram temerárias as projeções do Executivo, de que o superávit viria pelo crescimento da economia sem o combate ao desperdício. Prova de que estávamos certos é que o governo se viu obrigado a rever as metas de superávit para 2025 e 2026. Agora, apresenta o pacote de corte de gastos.

Está passando, também, da hora de o país fazer uma reforma administrativa concreta, que não se concentre necessariamente apenas na questão de pessoal, mas também – e sobretudo, diria eu – em mecanismos para tornar o Estado mais eficiente, enxuto, digital e menos burocrático. Precisamos, também, avançar na reforma tributária sobre a renda, após a conclusão, ainda este ano, da reforma tributária sobre o consumo.

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