"A ciência se tornou mais relevante para as pessoas", diz Chief Science Advocate da 3M

Cientista renomada fala à CNI sobre ciência e inovação. O tema será debatido durante o 9° Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria

Que ciência e tecnologia são fatores complementares, disso não temos dúvida. Mas foi na pandemia da Covid-19 que a ciência mostrou ao mundo sua força. Mesmo com tantos desafios, por meio de tecnologias, inovação e pesquisa, foi possível disponibilizar opções de vacinas em tempo recorde para o mundo.

Para falar mais sobre a importância da ciência e da diversidade, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), conversou com Jayshree Seth, engenheira e cientista da 3M Science Applied to Life. Ela é autora de 61 patentes e a profissional com o cargo de maior prestígio para uma área técnica na companhia. Foi a primeira pessoa a assumir a posição de Chief Science Advocate, criada em março de 2018.

Jayshree Seth participará do 9° Congresso de Inovação da Indústria, na arena virtual.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Você costuma falar muito sobre o papel da educação na sociedade. Qual é o impacto da educação sobre o desenvolvimento científico e tecnológico?  

JAYSHREE SETH - A população mundial está estimada em 9 bilhões dentro de poucas décadas. Precisamos resolver muitos dos desafios que enfrentamos como sociedade, e os campos STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) são cruciais para chegar a soluções eficazes. O mundo exige inovação. A inovação precisa da ciência. A ciência exige diversidade. A diversidade garante a equidade. Portanto, precisamos de um foco e acesso à educação STEM para uma seção transversal mais ampla da sociedade. Isso garantirá as ideias mais criativas e diversificadas para desvendar os segredos de um futuro sustentável.

Nos últimos cinco anos, a 3M realizou pesquisas globais para saber o que o mundo pensa da ciência. Os resultados do Índice Anual do Estado da Ciência (SOSI) de 2020 e 2021 da 3M indicam que o mundo vê a necessidade urgente de uma perspectiva e contexto social mais amplos para a ciência, construindo uma comunidade científica mais diversificada e os campos STEM como um espaço mais inclusivo.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Na pandemia, a inovação e o desenvolvimento científico tiveram um papel importante no enfrentamento ao coronavírus. A ciência sairá fortalecida num mundo pós-pandemia?  

JAYSHREE SETH - A ciência está definitivamente tendo seu momento. Ela tem sido o herói, na vanguarda, com medidas preventivas, novos tratamentos e vacinas eficazes, todos desenvolvidos usando metodologia científica sólida e baseada em dados por uma comunidade diversificada de profissionais dedicados.

É muito importante manter essa imagem da ciência além da pandemia. Especialmente desde que o relacionamento público com a ciência evoluiu, o ceticismo diminuiu e a confiança aumentou. Nossos resultados de 2021 mostram que o público quer que a ciência resolva os principais desafios relacionados à saúde e sustentabilidade, quer mais diversidade em STEM e tem uma expectativa de responsabilidade compartilhada.

O mundo reconhece que a diversidade pode ajudar a ciência a alcançar mais, incluindo maior colaboração global entre cientistas, ideias mais inovadoras, abordagens novas e aprimoradas às técnicas de pesquisa existentes e mais pesquisa e inovação para ajudar populações carentes. 

À medida que continuamos a enfrentar desafios globais sem precedentes, as pessoas apoiam unanimemente as parcerias entre os setores público e privado para promover soluções científicas. Dado que, no momento em que as pessoas em todo o mundo enfrentaram a pandemia, a ciência se tornou mais relevante, mais confiável e mais importante para as pessoas.

Estou confiante de que a ciência pode manter sua valorização atual além da pandemia se mantivermos o impulso nesses tópicos.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Qual é o impacto da digitalização sobre a produção científica?  

JAYSHREE SETH – As ferramentas digitais podem ter um impacto transformador na ciência tornando tarefas complexas mais rápidas, fáceis e simples. A criação científica dentro de um ambiente digital continuará a evoluir.

De fato, a digitalização já está ajudando os cientistas a chegar a soluções em um ritmo acelerado, seja com o desenvolvimento de vacinas ou a triagem de combinações de matérias-primas para materiais avançados. O poder da inteligência artificial pode realmente ajudar a desbloquear o poder da ciência. As realidades aumentada e virtual também estão evoluindo rapidamente como uma ferramenta que pode adicionar profundidade e riqueza às nossas experiências virtuais e tecnologias da mesma forma como blockchain (informações armazenadas em blocos) fornecerão os dados para uma tomada de decisão segura e rápida.

A digitalização permite acesso mais rápido aos dados e análises mais rápidas que antes da proliferação de dados seriam extremamente trabalhosas e demoradas. O uso criterioso da tecnologia digital pode tornar o espaço mais inclusivo.


AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Você carrega uma responsabilidade maior por ser uma mulher com tanto destaque na ciência?  

JAYSHREE SETH – O que estamos tentando fazer é derrubar barreiras para que o fato de ser uma mulher na ciência, proeminente ou não, não seja incomum. Também estamos trabalhando para eliminar antigos esteriótipos da aparência de um cientista - um homem "gênio" num jaleco com cabelo bagunçado!

Quando estava crescendo, eu não enxergava como a educação STEM e uma carreira na ciência poderiam se alinhar com minhas metas pró-sociais. Quando se é jovem, você frequentemente pode precisar de alguém para fazer essas conexões para você. Uma mudança no conceito, com uma rica adição de contexto, é uma intervenção que serve para inspirar jovens garotas a correr atrás da ciência. Pesquisas mostram que jovens garotas são motivadas por metas pró-sociais de ajudar pessoas, melhorando vidas e fazendo o bem para o mundo. 

Outra estratégia poderosa é o papel de um modelo exemplar. Exemplos acessíveis de dentro da comunidade podem ter impacto profundo em quebrar preconceitos, barreiras e fronteiras de percepção. Esforços criativos, como os da série documental da 3M "Não pareço cientista", que retratam um quadro diverso de mulheres cientistas, vão inspirar a próxima geração e ajudar a definir quem persiste e quem se sobressai em STEM aO mudar o conceito da área e alterar permanentemente os arquétipos de quem é um cientista, e quem entra, persiste e se destaca em STEM.

Precisamos criar empolgação em áreas STEM. Temos que inspirar mais garotas e minorias pouco representadas. O público espera isso. Enquanto defendo a causa da ciência e desperto consciência a respeito de barreiras, o Índice de Estado da Ciência revela, fico feliz em me identificar com essas perspectivas, porque da posição que ocupo hoje como chefe defensora da ciência posso refutar muitos desses mitos e enfatizar como a auto confiança, trabalho duro e paixão podem levar a uma carreira bem sucedida e satisfatória.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Na sua opinião, o que falta para o Brasil se tornar um player mais relevante quando o assunto é inovação?  

JAYSHREE SETH - Eu vejo os brasileiros como muito inovadores. Sempre gostei das minhas interações e do pensamento criativo em muitos dos projetos em que colaboramos. O Brasil é um país incrivelmente diverso, com uma confluência única de nacionalidades, pessoas e culturas. Estes são blocos de construção fundamentais para o pensamento diversificado necessário para a inovação.

A diversidade é fundamental para o processo de inovação e todos os países precisam incentivar as mulheres e aqueles que estão subrepresentados nos campos STEM. Digo a todos ao redor do mundo que agora é a hora de defender a ciência e deixar que diversas vozes sejam ouvidas. A equidade no campo da ciência é uma questão multifacetada e a solução envolve várias partes interessadas em todo o espectro, incluindo pais, professores, educadores, mentores, colegas e empregadores com um forte papel da família, escolas, comunidade, sociedade e cultura em todos os principais elementos deste ecossistema: exposição, incentivo, empoderamento, educação, economia, engajamento e equidade. 

Esses desafios podem variar desde simples lacunas de conhecimento sobre possíveis oportunidades de carreira até a falta de representação que pode limitar a aspiração e a inspiração para buscar STEM. Para outros, pode ser os meios financeiros limitados para apoiar uma educação STEM, ou pode ser o apoio e orientação mínimos que limitam as oportunidades à medida que navegam em sua jornada educacional. E, para alguns, pode ser a discriminação explícita e os preconceitos implícitos no trabalho que os mantêm presos. Além de focar na educação STEM e na diversidade na ciência, fomentar a inovação também requer políticas públicas.

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