Convidamos o mundo a conhecer a Amazônia

Vice-presidente da República e presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, Hamilton Mourão, defende ações imediatas para o desenvolvimento da região

Ex-comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva e vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, conhece como poucos a realidade e os desafios da Amazônia. Não só de uma Amazônia vegetal, reserva importante da biodiversidade do planeta, mas também de uma Amazônia humana. Esta, segundo ele, tem necessidades mais urgentes de desenvolvimento, que deem conta da inclusão social e da produtividade sustentável de comunidades que vêm ficando à margem do progresso econômico. Para o general da reserva, “o que precisamos agora é de ação”. 

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA -  O desenvolvimento socioeconômico da região amazônica é uma necessidade. Como superar a dicotomia entre desenvolvimento e conservação?

HAMILTON MOURÃO - Diversos modelos de desenvolvimento sustentável para a Região Amazônica já foram desenhados. A maioria leva em consideração as duas vertentes: desenvolvimento com conservação e sustentabilidade. O que precisamos agora é de ação. Os povos da região não podem mais esperar e o Brasil deve uma resposta a essas necessidades. Por isso, todas as ações em desenvolvimento visam ampliar as potencialidades da bioeconomia para as cadeias produtivas, propiciando inclusão social e produtividade sustentável das comunidades locais, aumentando os investimentos em pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia e explorando a biodiversidade existente.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA -  Quais as dificuldades no enfrentamento à exploração predatória da Amazônia?

HAMILTON MOURÃO - Infelizmente a repressão tem sido uma constante dificuldade por falta de ações mais efetivas de prevenção. Estamos tentando, por meio do Conselho Nacional da Amazônia Legal, incentivar a criação de políticas públicas, a concepção e o desenvolvimento de projetos e ações que possibilitem maior controle, como a regularização fundiária, o plano diretor dos municípios, a continuidade do desenvolvimento da base cartográfica, o ordenamento territorial, entre outras ações que julgamos necessárias e que estão elencadas no Plano Estratégico do Conselho da Amazônia, em fase final de elaboração.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA -  Qual o papel da indústria no desenvolvimento sustentável da região amazônica?

HAMILTON MOURÃO - Tem papel fundamental, uma vez que tem os modelos de negócios, os instrumentos e os recursos necessários para a implementação de atividades industriais tão necessárias na região, com a exploração sustentável da biodiversidade lá presente.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA -  Questões ambientais têm sido utilizadas como justificativa para o entrave de acordos econômicos, como o que está para ser estabelecido entre o Mercosul e a União Europeia. Como o governo federal tem visto esses desdobramentos e quais têm sido as ações no sentido de mitigar esses impactos?

HAMILTON MOURÃO - Difícil entender as motivações pelas quais parte da imprensa e dos chamados influencers brasileiros difamam tanto o Brasil no exterior, causando enormes prejuízos à imagem do país e de sua gente e ao seu desenvolvimento. Temos a preocupação de divulgar dados verdadeiros e estamos trabalhando para uma comunicação eficiente e abrangente.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Recentemente o Brasil perdeu financiamentos internacionais voltados para a preservação da Amazônia. Qual o impacto disso na política nacional de proteção do bioma e o que tem sido feito para trazer esses recursos de volta?

HAMILTON MOURÃO - Ações têm sido desenvolvidas no âmbito do Conselho Nacional da Amazônia Legal para reverter esse quadro. O Fundo Amazônia, por exemplo, está em fase avançada de negociações para que o fluxo e a utilização de seus recursos sejam normalizados.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - O governo federal tem sido enfático ao afirmar que o Brasil é o país que mais protege o meio ambiente no planeta, mas essa não é a imagem que o país tem no cenário internacional. O que tem sido feito para reverter essa percepção?

HAMILTON MOURÃO - O Brasil é o país que mais preserva no mundo, ponto. Trabalhamos com a verdade. A floresta amazônica tem cerca de 80% de sua integridade preservada. Convidamos o mundo a conhecer a Amazônia. A imagem do Brasil é difamada por aqueles que não têm compromisso com o país e com sua gente. A comunicação eficiente e verdadeira deverá ser o nosso instrumento de reversão da percepção negativa, logicamente com a melhoria contínua das ações na região.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Em que medida o desmatamento, as queimadas e a exploração ilegal cresceram na região nos últimos anos? Essa percepção de que a preservação piorou condiz com a realidade?

HAMILTON MOURÃO - Preferimos não trabalhar com “percepções”, mas com dados e os dados apontam uma redução e não um avanço nesse sentido. Precisamos combater as fake news, filmes montados, imagens antigas e às vezes de outras localidades fora de contexto. A guerra da narrativa e da comunicação será revertida.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Especialistas são quase unânimes ao afirmar que a legislação ambiental brasileira é avançada, mas pouco aplicada. O senhor concorda com essa análise? O que falta para a sua efetiva aplicação?

HAMILTON MOURÃO - Temos, sim, a legislação ambiental mais moderna do planeta. Estamos propondo o fortalecimento dos órgãos de controle para melhor desempenharem as suas funções na aplicação da lei.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como o senhor avalia a atuação do Estado na proteção do bioma amazônico?

HAMILTON MOURÃO - Estamos cientes das necessidades de melhoria nos processos de prevenção, mas temos a maior biodiversidade do mundo exatamente porque a protegemos.

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