A contribuição dos líderes empresariais brasileiros no B20 Indonésia

Em entrevista à Agência de Notícias da Indústria, os CEOs Christian Gebara, Jackson Schneider, Ricardo Mussa e o diretor Reynaldo Goto falam sobre a presença do setor industrial do Brasil no mecanismo empresarial do G20

O Brasil tem uma representação cada vez maior nas discussões do setor empresarial mundial. Neste ano, quatro executivos brasileiros dão voz ao país em forças-tarefas no Business 20 (B20), o maior grupo de engajamento não governamental do G20: Christian Mauad Gebara, presidente da Vivo, na Força-Tarefa de Digitalização; Jackson Schneider, presidente da Embraer Defesa & Segurança, na Força-Tarefa de Comércio e Investimento; Reynaldo Goto, diretor de Compliance da BRF, na Força-Tarefa de Integridade e Compliance; e Ricardo Mussa, presidente da Raízen, na Força-Tarefa de Energia, Clima e Sustentabilidade.

O encontro de cúpula aconteceu nos dias 13 e 14, em Bali, na Indonésia, e reuniu mais de dois mil empresários de todo o mundo.

Ao longo dos anos, a participação brasileira nas forças-tarefas do B20 tem promovido a conexão do setor empresarial com chefes de governo e organizações multinacionais do G20 - grupo que reúne as 19 maiores economias mundiais e a União Europeia e, desde 2010, tem a Confederação Nacional da Indústria (CNI) como representante do setor privado brasileiro.

Nas entrevistas abaixo, os executivos brasileiros que integram quatro das forças-tarefas do B20 falam sobre a importância de participar do processo decisório.

Christian Mauad Gebara - CEO da Telefônica/Vivo

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Das recomendações da Força-Tarefa de Digitalização, quais são prioritárias para a Vivo?  

CHRISTIAN GEBARA - Foram quatro recomendações da força-tarefa de Digitalização do B20: construir as fundações para uma economia digital que seja resiliente e sustentável, desenvolver habilidades digitais nos indivíduos e nas PMEs, promover a segurança digital e, como principal recomendação, priorizar o setor de conectividade na agenda pública para garantir uma transformação digital inclusiva. O combate à desigualdade, uma das principais agendas do próximo governo, passa pela digitalização, que facilita o acesso à educação, à saúde e à inclusão financeira e é importante para fomentar o empreendedorismo.

O setor de telecomunicações está aumentando exponencialmente sua capacidade de rede. Sua implantação está no maior ciclo de investimentos de todos os tempos. Mas, hoje, ainda existem 2,9 bilhões de pessoas no mundo sem acesso à Internet. Os “excluídos digitais” estão em países menos desenvolvidos, populosos e com desafios de uma geografia continental, como o Brasil. A solução passa por aprimorar a atuação em várias frentes, incluindo um ambiente de negócios que promova a digitalização com múltiplas iniciativas tecnológicas, simplificando licenças e autorizações, alavancando uma cooperação público-privada mais forte baseada em interesses mútuos e minimizando componentes de encargos regulatórios.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Na sua opinião, qual a relevância da participação do setor industrial brasileiro no âmbito do B20? 

CHRISTIAN GEBARA - Participei como co-chair da força-tarefa de Digitalização do B20. Trata-se de um grupo de líderes empresariais que desenvolve recomendações de políticas públicas para os países do G20. Essas lideranças fizeram um excelente trabalho ao longo desse ano como fórum oficial de diálogo, que reúne chefes de Estado e autoridades financeiras das 20 maiores economias. Representantes de grupos empresariais de todo o mundo compartilharam reflexões e propostas.

A participação do Brasil no B20 demonstra o porte da nossa economia, da nossa indústria, a maior da América Latina, e a força das lideranças empresariais do país. Adicionalmente, a conectividade e os avanços das telecomunicações permitem melhoras importantes na produtividade da indústria e da economia como um todo.

Jackson Schneider - CEO da Embraer Defesa & Segurança

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Das recomendações da Força-Tarefa de Comércio e Investimento, quais são prioritárias para a Embraer?

JACKSON SCHNEIDER - A Força-Tarefa de Comércio e Investimento do B20, da qual tivemos a honra de participar, elaborou conjuntamente um documento bastante robusto. As recomendações cobrem uma série de temas que consideramos de alta relevância para promover a competitividade da indústria nacional, os fluxos de comércio e investimento e para a retomada do crescimento econômico no nosso País.

De modo geral, todas as recomendações estão alinhadas às nossas visões, mas gostaria de destacar dois temas em particular no qual pudemos contribuir de forma mais ativa na sua construção. Em primeiro lugar, o fortalecimento da governança multilateral de comércio, garantindo que seja justo, transparente e baseado em regras, de modo a beneficiar não apenas empresas, mas também consumidores e trabalhadores. E, em segundo lugar, a ampliação do acesso a mecanismos de financiamento e crédito acessível e adequado, tanto privado quanto governamental – mecanismos fundamentais para alavancar competitividade global e se alcançar maior inclusão nas cadeias globais de valor. Estamos convictos que ambos são temas extremamente relevantes para a indústria brasileira e que farão parte da solução para os desafios enfrentados atualmente no cenário global.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Na sua opinião, qual a relevância da participação do setor industrial brasileiro no âmbito do B20?

JACKSON SCHNEIDER - Vejo a participação ativa do setor industrial brasileiro no âmbito desse fórum como muito positiva. Compete a nós, do setor privado, trazer para a mesa as experiências dos desafios enfrentados e as soluções e oportunidades identificadas para inovar, estimular a produtividade, a competitividade e o crescimento. Enquanto setor privado brasileiro, contribuímos também ao trazer o ponto de vista de um país emergente.

Nos anos anteriores e novamente em 2022, sob a presidência da Indonésia, tivemos a oportunidade de contribuir efetivamente para as tomadas de decisão e a formulação de recomendações de políticas públicas que, caso sejam implementadas pelos países do G20, poderão trazer impactos significativos para a economia global e o ambiente de negócios.

Reynaldo Goto - Diretor de Compliance da BRF

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Das recomendações da Força-Tarefa de Integridade e Compliance, quais são prioritárias para a BRF? 

REYNALDO GOTO - O processo de elaboração das recomendações do B20 Indonésia foi bastante democrático e felizmente tivemos a oportunidade de participar ativamente na redação dos conceitos finais aprovados. Referente à Força-Tarefa de Integridade e Compliance, duas recomendações são prioritárias para a BRF. A primeira é referente aos investimentos em tecnologias voltadas ao combate à corrupção e fraudes empresariais, pois após o período da pandemia observamos um crescimento de mais de dois dígitos nas fraudes digitais. A BRF investe no processo de digitalização de seus processos com ganhos em produtividade e segurança de seus sistemas contra fraudes, e somente nos últimos três anos estimamos uma redução de quase R$ 100 milhões em fraudes, graças à utilização de nossos sistemas preditivos.
 
A segunda prioridade é referente às Ações Coletivas no Combate à Corrupção. Mudanças culturais dependem de ações conjuntas entre diferentes atores do mercado, incluindo os principais fornecedores, sociedade civil, associações de classe, etc. O Brasil tem se destacado em uma série de ações coletivas, muito graças às atividades coordenadas pela Rede Brasil do Pacto Global, da qual a BRF também participa ativamente. Nos últimos anos a BRF tem se engajado em uma série de ações coletivas, como o Pacto pelo Esporte e a Ação Coletiva da Agroindústria. Essas ações coletivas, além de disseminar conceitos sobre integridade, promovem treinamentos, diálogos com o poder público e conscientização da sociedade.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Na sua opinião, qual a relevância da participação do setor industrial brasileiro no âmbito do B20?

REYNALDO GOTO - Nossa participação no fórum B20 nos permitiu trocar experiências com as empresas mais desenvolvidas no mundo nos temas de Integridade e Compliance. Além do aprendizado e troca contínua de conhecimento, esses fóruns são essenciais para a definição de futuras políticas globais. A BRF é uma empresa global, que exporta para mais de 120 países, incluindo os países membros do B20. As recomendações do grupo se tornarão demandas futuras não apenas dos clientes, mas principalmente das instituições financeiras e investidores do B20. A implementação das recomendações não apenas propicia mais segurança aos investidores, mas também fomenta um ambiente de negócio mais transparente e justo entre os países participantes.

Ricardo Mussa - CEO da Raízen

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Das recomendações da Força-Tarefa de Energia, Clima e Sustentabilidade, quais são prioritárias para a Raízen? 

RICARDO MUSSA - A primeira recomendação, que trata sobre como melhorar a cooperação global para acelerar a transição para o uso sustentável de energia por meio da redução da intensidade de carbono do uso de energia.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Na sua opinião, qual a relevância da participação do setor industrial brasileiro no âmbito do B20?

RICARDO MUSSA - A Raízen entende que as soluções para a urgência climática só surgirão a partir de um esforço conjunto entre governos, empresas e sociedade civil, e que enxergue que não há uma avenida única que sirva para todos os países e setores da economia. Por isso, é fundamental estar presente no B20 e, assim, sentar à mesa junto aos tomadores de decisão e participar da discussão de temas estratégicos para nós, como soluções de descarbonização, pesquisa e desenvolvimento para novas tecnologias, implementação de mercados de carbono, por exemplo.

No B20 de 2022, em que fizemos parte da Força-Tarefa de Energia, Clima e Sustentabilidade na posição de Co-Chair, nos esforçamos muito para trazer as perspectivas brasileiras e dos países em desenvolvimento para o documento de recomendações. 

Um ponto importante que levamos para as discussões é o importante papel que os biocombustíveis desempenham e continuarão a desempenhar no caminho da descarbonização também dos chamados hard-to-abate sectors. Entendemos que existem outras soluções que estão no horizonte e que são complementares às já existentes. Uma delas é o etanol, uma solução pronta e disponível para uso e de baixo carbono, que devemos aproveitar ao máximo e expandir seu uso entre os países.

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