A inteligência artificial (IA) revolucionou a forma como as pessoas vivem e produzem. E não há como deixar de mencionar o impacto desse processo para o desenvolvimento da indústria. Convidado para expor ideias e reflexões sobre o assunto, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, proferiu a palestra magna da programação em homenagem ao Dia da Indústria, realizada nesta segunda (26), na sede da CNI, em Brasília.
Magistrado reconhecido por visões progressistas, Barroso contextualizou a atual revolução tecnológica na história e destacou os impactos da IA no futuro da humanidade.
“Estamos diante de uma grande transformação, assim como houve com o domínio do fogo, a invenção da roda e da escrita, ou mesmo a descoberta da eletricidade, a invenção do motor à combustão e as inovações da medicina”, elencou Luís Roberto Barroso.
Barroso foi didático ao explicar que a IA consiste na transferência de capacidades humanas para os computadores, por meio de programas. “A inteligência artificial é alimentada por dados, informações e instruções oferecidas por humanos. Ela faz aquilo que é instruída a fazer”, explicou.
Segundo o ministro, a riqueza passou dos bens físicos para a propriedade intelectual. “Hoje, as empresas mais valiosas do mundo são as de tecnologia. O algoritmo, palavra que até ontem não conhecíamos, tem se tornado o conceito mais importante do nosso tempo”, afirmou.
Para ele, é preciso se acostumar com a nova economia, que é a do conhecimento digital. Barroso a classificou com três características: virtualização da vida (a presença física não é necessária); desterritorialização das relações econômicas; e surgimento de uma diversidade de bens e serviços. “E o Direito está correndo atrás para regular essas atividades. O grande desafio para se regular a inteligência artificial é a velocidade da informação”, acrescentou.
O perigo da desinformação
Durante a exposição, o ministro destacou que as novas tecnologias democratizaram o acesso ao conhecimento, à informação e ao espaço público, porém, com algumas consequências negativas, como a chegada da desinformação. Barroso apontou a massificação da desinformação, via inteligência artificial, como um dos principais riscos da atualidade.
“É preciso ter cuidado para o mundo não desabar num abismo de incivilidade. Há um incentivo perverso aos discursos de ódio, porque dá mais engajamento do que uma fala moderada. Isso é um perigo para a humanidade, é um rastilho de pólvora para a existência humana”, alertou, destacando a utilização de tecnologias como a deep fake.
“Perdemos a capacidade de comunicação. As pessoas estão compartilhando suas próprias narrativas sem compartilharem os fatos. Os fatos precisam ser os fatos, objetivamente. Estamos todos preocupados com a mudança do significado do que seja ‘ser humano’ neste planeta”, acrescentou.
Riscos e singularidade
Na ocasião, o jurista destacou riscos e singularidades da inteligência artificial, mencionando uma possível revolução das máquinas. “Precisamos ficar atentos, embora o risco não seja tão grande assim. O maior risco constitui em os computadores que são alimentados por IA de alta potência desenvolverem consciência de si próprios. Segundo os cientistas, o risco disso acontecer é de 10%. Você entraria em um avião se o projetista dissesse que ele tem 10% de chance de cair? Eu não entraria”, provocou o ministro Barroso.
Uso da IA a favor do desenvolvimento
Segundo Barroso, a vida pode ser extremamente simplificada com a IA. “Educação e cultura, por exemplo, podem alcançar potencialidades inimagináveis”, disse. O ministro explica que a tecnologia oferece melhor capacidade decisória em muitas áreas de atividade, já que é capaz de armazenar uma quantidade maior de informação e processá-la com mais velocidade.
“A inteligência artificial tem um impacto diferenciado para o Brasil, que é a revolução na linguagem. Ela deixará de ser uma barreira para a comunicação humana. A qualidade das ferramentas de tradução será imensa”, apontou.
É preciso estar preparado para as transformações econômicas
Ainda segundo o magistrado, a chegada da IA apresenta uma mudança significativa no modelo de negócio tradicional. Barroso defende que o setor produtivo seja capaz de explorar a imensa quantidade de benefícios, especialmente na reindustrialização. “A IA pode ser uma grande aliada para aumentar a produtividade na economia brasileira”, pontuou.
Particularmente na indústria, o magistrado avaliou que o mercado de trabalho sentirá um impacto significativo. “Empregos repetitivos e mecânicos vão deixar de existir. Mas vão surgir outros novos, alinhados com essa frente tecnológica. Porém, você não transforma um motorista de táxi em um programador. É preciso uma recapacitação das pessoas, assim como uma rede de proteção social”, defendeu.