Em tempos pandêmicos, o tema da química verde e sustentável na indústria pode parecer fora da agenda mundial, o que, obviamente, consiste em um equívoco, pois o setor participa ativamente da construção de ampla segurança sanitária e alimentar para a humanidade e o planeta.
No documento Global Chemicals Outlook II – From Legacies to Innovative Solutions, publicado em 2019, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) aponta que o uso de produtos químicos, em particular em economias emergentes, tem aumentado significativamente.
Em 2017, o setor contribuiu com cerca de US$ 5 trilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) mundial, com previsão de duplicação até 2030. O cenário atual, contudo, parece indicar que essa participação crescerá ainda mais, pois há demandas urgentes como resolver a expansão da Covid-19 e os impactos ocasionados pelas mudanças climáticas.
Entretanto, o crescimento nem sempre significa algo bom em si. A forma de estabelecimento dessa indústria deve garantir um justo funcionamento a todos. Para isso, deve estar atenta ao desenvolvimento e uso de produtos e procedimentos que garantam a saúde humana e do ambiente, direta ou indiretamente, o que obviamente elimina o greenwashing. Mais do que parecer ser, os materiais e processos devem ser efetivamente seguros em todo o seu ciclo de vida.
No artigo Rethinking chemistry for a circular economy, Klaus Kümmerer, James Clark e eu apontamos um possível caminho para a sustentabilidade socioambiental no campo da química. Ele passa por atitudes como: projetar produtos para reciclagem, incluindo todos os aditivos e outros componentes do produto; evitar produtos complexos e desnecessários; minimizar o uso de componentes do produto que não possam ser facilmente separados e reciclados e alterar as práticas químicas tradicionais baseadas em "maior-mais rápido" para "ideal adaptado-melhor-seguro", bem como repensar o conceito de propriedade ou modelos de negócios para aluguel, arrendamento e compartilhamento.
É essencial a compreensão de que a indústria química não está apartada das outras instituições e deve procurar, de fato, materializar a sustentabilidade socioambiental ampla, com acessibilidade e preço justo, em produtos de qualidade, que exerçam sua função pelo tempo objetivado e com o uso responsável de materiais e processos.
Qual será a próxima onda da indústria química global? Não resta dúvida de que, para existir, a química verde e sustentável não será mais onda, mas o próprio mar (esperemos, sem microplásticos).
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