Transformações de grande porte, as verdadeiras rupturas, ocorrem quando se redesenha o pensamento

Em artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo, o pesquisador do Instituto SENAI de Inovação para TICs, Silvio Meira, trata de transformações e rupturas digitais

Há mais de 40 anos, Peter Drucker deu uma definição para inovação que vale hoje: “inovação é a mudança de comportamento de agentes, no mercado, como fornecedores e consumidores [de qualquer coisa]”. Há 20 anos, eu escrevi que “inovação é a emissão de mais e melhores notas fiscais”. Vale para todo tipo de empresa, até porque, em startups, é sair de nenhuma nota para algumas notas.

Estamos passando por uma onda de inovação em todos os mercados. A troca das plataformas de execução dos negócios, de analógico para digital, causa uma ruptura só vista a cada muitas décadas, levando a consequências ao mesmo tempo previstas – o surgimento de muitos novos negócios, nos mercados existentes- e imprevistas, na forma de rupturas, como o fim de certos mercados e o aparecimento de outros.

Rupturas acontecem quando novas tecnologias habilitam novos modelos de negócios assimétricos [aqueles que migram valor entre mercados] demais para os incumbentes, a ponto deles nem tentarem usá-las.

Os modelos de negócios emergentes evoluirão rapidamente, e aí, de repente... já é futuro, e mercados e negócios inteiros se foram.

Pense na indústria da música: nenhuma gravadora está presente, de forma significativa, no mercado de streaming; as tecnologias para música como serviço, online, criaram modelos de negócios tão assimétricos que elas nem tentaram acompanhar.

Rupturas acontecem no mercado, assim como inovação, e não nos laboratórios de pesquisa ou dentro das empresas. São causadas por e causam transformações, como a digital. E não é somente por causa de novas tecnologias que as transformações acontecem; elas habilitam, mas não são, por si, “a” mudança.

As mudanças ocorrem quando se redesenha os objetos, concretos e abstratos, e suas relações com as pessoas – suas interfaces; quando se redesenha serviços e experiências a eles associadas, como aconteceu na música, de comprar e tocar “discos” para assinar um serviço em rede. Mas as transformações de grande porte, as verdadeiras rupturas, ocorrem quando se redesenha o pensamento.

Transformação se dá no espaço imaterial e ocorre em consequência de design “thinking”, de desenhar e refazer – pela primeira vez ou, talvez, mais uma vez- os sistemas e cultura de um ou de uma rede de negócios, do redesenho das relações entre sistemas, pessoas e o ambiente – não só de negócios, mas como um todo.

Sem perceber que se trata de um processo de tamanha complexidade, empresas de todos os portes saltam no processo de transformação digital como se fosse uma definição, compra e instalação de novas tecnologias, dentro do mesmo modo de operar que têm, talvez, há décadas. Aí, a esta altura do campeonato, há gente – grande, até- transpondo suas práticas de varejo dos tempos da fundação para a rede, instalando software de comércio digital, como se fosse a salvação da lavoura. Não é.

E como nunca pensaram sobre se repensar, nunca irão descobrir. Só estão criando tempo para os incumbentes que estão se transformando de fato e para os startups que se desenharam, do zero, para competir digitalmente. Daí que vem a ruptura. E quase certamente, o fim do mercado de quem não redesenhou seu “thinking”.

Silvio Meira é professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador do Instituto SENAI de Inovação para Tecnologia da Informação e Comunicação. Além disso, ele também é fundador e presidente do Conselho do Porto Digital.

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