
Nos últimos meses, muitas empresas se viram obrigadas a antecipar projetos previstos para daqui a dois, três... cinco anos. O motivo, obviamente, foi a pandemia da Covid-19. Em paralelo, já vinha em curso uma outra transformação, só que figital.
No tempo de mudanças aceleradas pela pandemia, figital é uma das palavras-chave – e uma das chaves. Tudo será figital: mercados, empresas, times, pessoas (e cidades, países, governos…) estão na transição do físico (ou analógico) não para o digital, como muitos ainda acham. Mas a transformação é do espaço FÍsico, que passa a ser habilitado, aumentado e estendido pelo diGITal, ambos orquestrados no espaço sociAL, em tempo (quase) real. O novo espaço competitivo é, pois, FIGITAL.
E a indústria, como fica no meio disso tudo? Bom, primeiro é preciso entender que as coisas, conectadas, vão mudar a fábrica, que vai lidar com seus produtos como serviços. A fábrica que só faz produtos e envia para um distribuidor ou direto para um varejista faz parte do passado. O futuro da fábrica está no espaço físico aumentado pelo digital, orquestrado pelo social e em tempo quase real.
A fábrica figital sai do prédio analógico da fábrica e ganha o mundo. Além das coisas, cujas conexões não só entre si mas com a fábrica, as pessoas, de dentro e de fora da fábrica, começam a ser conectadas em redes e orquestrar a dinâmica da fábrica. Uma das ideias por trás dos modelos de negócios C2M (client-to-manufacturer) é trazer dados dos clientes usando produtos para a fábrica, onde serão usados para gerar insights sobre produtos novos ou atuais.
Mais do que “só” conectar produtos, as plataformas digitais da fábrica figital conectam tudo e têm o potencial de fazer dessa fábrica o sistema operacional não só dos seus produtos, mas do contexto em que são usados. Mais do que olhar para esse cenário e tais possibilidades como processo industrial, como é típico no pensamento fabril (especialmente no Brasil), a indústria deveria pensar seriamente em como usar as possibilidades combinadas da Internet das Coisas e das plataformas digitais para criar, operar, manter e evoluir ecossistemas figitais de produtos e serviços em rede.
Na fábrica figital do carro, por exemplo, há um gêmeo digital do veículo que ela própria dirige, faceta de negócio que vai gerar suas maiores margens, porque o carro, os metais e os plásticos são apenas suporte para a performance, para a mobilidade conectada, onde tudo é software. Aliás, tudo é software – como serviço, que cria resultados para os clientes – em todas as fábricas. Indústrias que não entenderem isso vão ter dificuldade para sobreviver já na próxima meia década e, principalmente, depois.
*O artigo foi publicado na edição de maio da Revista Indústria Brasileira.
Silvio Meira é o cientista-chefe da TDS.company, professor extraordinário da CESAR.school e presidente do conselho do Portal Digital.
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