A CNI (Confederação Nacional da Indústria), que tenho a honra de presidir, recebeu dias atrás, em Brasília, pré-candidatos à Presidência da República para um diálogo sobre o Brasil que desejamos construir a partir das urnas de outubro.
O auditório lotado teve a oportunidade de conhecer o que cada um deles propõe para sairmos dos impasses que se arrastam desde o início da década, quando o crescimento da economia começou a dar sinais de esgotamento.
Poderíamos tratar das diferenças entre as várias visões apresentadas na ocasião, mas o que mais chamou a atenção foram os consensos. O principal é não haver outro caminho para voltar a crescer com vigor, retomando a criação de empregos que a população exige: é preciso apoiar a atividade empresarial privada. Foi animador saber que a bandeira da liberação das forças produtivas pode unir um amplo espectro político, um pré-requisito para todo o resto.
Há muitos temas capazes de dividir os brasileiros, especialmente após anos de tensão e acirramento político, mas devemos nos concentrar no que pode nos unir. Na prática, não basta ter boas ideias. Tão ou mais importante é reunir apoio político e social para tirá-las do papel. As ideias não caminham por si. Precisam de quem as mova; quanto mais interação, melhor.
O governo não tem como gerar, sozinho, a prosperidade dos brasileiros. Quem cria emprego é o empresário. Mas, para que isso aconteça, precisamos que o governo estimule a criação de um ambiente favorável aos investimentos, que traga desregulamentação, crédito e estímulo à inovação. Aliás, esse último aspecto tem sido primordial nas ações da CNI, com a eficiente e correta utilização dos recursos do Sistema Indústria.
As crises nos ensinam - e a atual reforça essa percepção- que sai mais rápido e melhor delas quem consegue aumentar a produtividade com base em incorporação de tecnologia de ponta e alta qualificação da força de trabalho.
Sem isso, não haverá como o Brasil competir num mundo globalizado em que, paradoxalmente, recrudesce o protecionismo. Essas circunstâncias fazem com que, hoje, lutar pelos mercados seja um desafio maior a cada dia.
O Brasil precisa desviar do caminho fácil das polarizações ideológicas e seguir por um pragmatismo progressista se quiser vencer em escala global. Temos que evitar tanto a abertura indiscriminada e ingênua quanto as barreiras que buscam proteger artificialmente segmentos e grupos pouco afeitos à modernização. É ingenuidade achar que o livre mercado nos salvará por si só.
A indústria brasileira está pronta para oferecer ao país uma via de retomada do crescimento econômico. Para isso, é necessário o essencial: que o próximo governo cuide, finalmente, do equilíbrio fiscal, sem aumento de impostos; da qualidade da nossa educação e da infraestrutura; e da necessária liberdade para empreender, com a fundamental segurança jurídica.
Se regulamentar fosse solução, talvez já estivéssemos entre os países mais bem desenvolvidos da Terra. Essas são as linhas mestras dos 43 estudos setoriais que a CNI está entregando a todos os presidenciáveis, com diagnósticos e sugestões de ações cruciais para que o Brasil não fique para trás na chamada quarta revolução industrial e em dissintonia com o mundo desenvolvido.
A campanha eleitoral está prestes a começar oficialmente, com o registro das candidaturas dos diversos partidos. Existem bons nomes na disputa. Podemos fazer desta eleição uma oportunidade para rediscutir o Brasil. Nosso maior desafio será eleger um presidente que, de fato, tenha coragem e habilidade para enfrentar os desafios da nação.
Não menos importante será a eleição de uma maioria parlamentar comprometida com as reformas necessárias para a retomada do desenvolvimento econômico e social. Só assim será possível chegarmos a 2022, quando o Brasil comemora 200 anos de independência, sem o eterno epíteto de "país do futuro".
O artigo foi publicado nesta terça-feira (17) no jornal Folha de S. Paulo.
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