O futuro da indústria brasileira está diretamente ligado a uma maior inserção internacional. Para que a indústria nacional seja competitiva, gerando cada vez mais empregos e renda, o Brasil precisa ampliar seu acesso aos mercados externos, fato que implica abrir mais a própria economia à concorrência estrangeira. Também é necessário, de modo consistente e duradouro, reduzir os custos relacionados às transações comerciais com o exterior.
A mais grave crise na história brasileira recente ressaltou a necessidade de conferir ao comércio internacional uma posição central na estratégia de crescimento das empresas e da economia. A maior participação da indústria - e do país - no mercado internacional seria fundamental, pois exportações e importações podem ser ferramentas essenciais para o aumento da produtividade, da inovação e da competitividade econômica.
Durante quase 20 anos as posições dos diferentes setores da indústria se dividiram em dois campos: os que advogavam a rápida negociação de acordos comerciais para ampliar as exportações; e os que defendiam a necessidade de reformas para reduzir o custo Brasil, antes da abertura à concorrência dos importados. Hoje chegamos à conclusão de que, preso nesse dilema, o País avançou pouco nas duas direções: acordos e reformas. Por essa razão, a Agenda Internacional da Indústria, cuja 2ª edição foi lançada recentemente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), defende que ambas as vertentes devam avançar de forma simultânea: mais acordos estimulam novas reformas e mais reformas criam condições para outros acordos.
Governo e setor industrial têm responsabilidades compartilhadas nesse plano. Uma parte do esforço pela inserção internacional passa pela modernização da política comercial em diferentes áreas, como investimento, facilitação de comércio, financiamento e garantias às exportações, logística e tributação do comércio exterior. Tudo isso é tarefa do Poder Executivo e do Congresso Nacional.
No entanto, outra parcela do desafio requer dedicação da própria indústria. A Rede Brasileira de Centros Internacionais de Negócios (Rede CIN), coordenada pela CNI, oferece um portfólio integrado de serviços de apoio à internacionalização das empresas brasileiras,quaisquer que sejam seu porte e grau de maturidade na atuação externa.
Outra iniciativa foi o lançamento do novo serviço de emissão do ATA Carnet pela Rede CIN. O documento assegura o trânsito temporário, rápido e livre de impostos dos bens brasileiros usados como amostras em feiras internacionais ou como equipamento de trabalho em operações no exterior.
Houve avanços desde o ano passado, quando a CNI lançou a 1ª edição da agenda. O número de empresas exportadoras cresceu 8,5% no período, com destaque para as micro e pequenas, cujo número aumentou 11%. Além disso, o governo deu seguimento a ações importantes, como a implantação dos programas Portal Único de Comércio Exterior e Operador Econômico Autorizado. As negociações com os países da América do Sul, o México e a União Europeia foram aceleradas.
A Agenda Internacional da Indústria 2017 apresenta 86 ações para melhor inserir o Brasil na economia mundial. O trabalho foi fruto de ampla construção, da qual participou toda a base empresarial: federações das indústrias dos estados e do Distrito Federal, associações setoriais nacionais, sindicatos patronais e empresas de todos os portes.
A expectativa da CNI é de que a nova edição da agenda sirva de estímulo para um plano de governo, com objetivos e metas claros e voltado a conferir à política comercial a importância que ela merece. A atual tendência de aumento do protecionismo no mundo não deve nos afastar dessa tarefa, mas nos desafiar a fazer mais e melhor. Para que a economia cresça num ritmo mais condizente com as necessidades dos brasileiros, deve-se apostar na relevância do mercado externo.
Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O artigo foi publicado nesta terça-feira (23) no jornal O Estado de S. Paulo.