Educação profissional e o novo mundo do trabalho

Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, escreve sobre a necessidade de requalificar cerca de 2 milhões de trabalhadores

Menina com cabelo longo preto olha em equipamento amarelo. Ao fundo, menino moreno olha em equipamento semelhante

A baixa qualificação dos trabalhadores brasileiros é um dos maiores entraves à abertura de negócios e aos investimentos na expansão das atividades industriais no país. Esse problema é um sinal das deficiências no ensino regular e da pouca adesão a cursos técnicos. Na era da digitalização da economia, a escassez de mão de obra bem preparada dificulta a adoção de novas tecnologias, que contribuem para aumentar a produtividade das empresas. Para que o país cresça de modo consistente, é imprescindível avançar nesse campo.

O percentual de matrículas nessa modalidade de ensino demonstra o tamanho do desafio e, ao mesmo tempo, o enorme potencial existente. No Brasil, apenas 9% dos alunos do ensino médio fazem um curso técnico ou de qualificação. De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na União Europeia esse valor é de 43%; no Chile, de 29%; na Colômbia, de 24%.

A produção industrial vem passando por profundas modificações, impulsionadas pela revolução tecnológica. Em virtude da digitalização dos processos produtivos, várias ocupações estão mudando radicalmente, enquanto outras vêm surgindo. Nos novos ambientes de trabalho, sairá na frente quem se sentir à vontade com novas tecnologias, como a inteligência artificial, e tiver capacidade de adaptação e para um aprendizado contínuo.

A reforma do ensino médio, que diversificou o currículo regular e o aproximou do mundo do trabalho, representa um grande avanço nesse campo por despertar um maior interesse de jovens pelo ensino técnico. Entretanto, é preciso que sua implementação seja acelerada. Entre 2017 e 2022, o número de matrículas nos cursos profissionalizantes aumentou de 1,8 milhão para 2,1 milhões —um crescimento de quase 17%, mas ainda muito pequeno, se levarmos em conta a meta do Plano Nacional de Educação, de alcançar 4,8 milhões de matrículas até o final de 2024.

O objetivo da educação profissional e tecnológica é preparar o aluno para o exercício de uma profissão nos diversos ramos da economia.

Estão enquadrados nessa modalidade cursos técnicos e de qualificação, graduação tecnológica (que forma tecnólogos), mestrados e doutorados profissionalizantes. Entre as principais instituições que atuam na área, estão os serviços nacionais de aprendizagem por setor econômico, como o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial); os institutos federais de educação, ciência e tecnologia; as escolas técnicas vinculadas a universidades e entidades privadas.

Em sondagem recente, feita pelo Senai e pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) com 1.001 executivos de indústrias, 75% apontaram que os cursos profissionalizantes atendem mais às necessidades do mercado do que o ensino superior. Nove em cada dez entrevistados concordam que esses cursos permitem um ingresso mais rápido no mundo do trabalho, enquanto 21% afirmam que essa modalidade deve ser a prioridade na agenda educacional do governo.

De acordo com levantamento do Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apenas nas áreas de logística e transporte, construção civil, vestuário e energia será necessário requalificar, até 2025, cerca de 2 milhões de trabalhadores já empregados, além de outros 534 mil que deverão ser contratados no período.

Essas vagas —e as que estão sendo geradas nos demais setores da indústria— vão requerer uma vasta atualização de conhecimentos técnicos, fortalecendo o papel da educação profissional na qualificação de trabalhadores para funções típicas da indústria 4.0, mais complexas do que as da produção convencional.

Diante dos enormes desafios que temos pela frente, o ensino voltado para o novo mundo do trabalho é um investimento fundamental para a retomada do crescimento econômico do Brasil, num ritmo mais vigoroso e sustentável. Por isso, ele deve estar no centro da estratégia tanto do setor público como da iniciativa privada.

Qualificando os nossos trabalhadores, especialmente os mais jovens, avançaremos mais firmemente na direção do desenvolvimento econômico e social do país.

(*) Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

O artigo foi publicado na Folha de S. Paulo nesta sexta-feira (20).

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