Choque de inovação

Robson Braga de Andrade, empresário e presidente da CNI, aponta que as mudanças, que já estavam em curso por causa da quarta revolução industrial, irão se aprofundar

Imprescindível para o avanço econômico em tempos de bonança, a inovação é ainda mais importante em períodos de incerteza e recessão, como o que enfrentamos agora. Com os desafios impostos pela maior crise sanitária da história recente, causada pela pandemia da Covid-19, o mundo precisa, cada vez mais, se apoiar em ciência, tecnologia e inovação. Isso será fundamental não só para que consigamos vencer o novo coronavírus com vacinas e medicamentos, mas também para que a economia brasileira se torne mais competitiva e volte a crescer.

Com as finanças seriamente abaladas neste momento, as empresas buscam alternativas para sobreviver, manter empregos e vislumbrar o futuro. Quando a presente turbulência passar, sairá na frente quem tiver encontrado meios de adotar práticas inovadoras como um diferencial na produção. Não será fácil. As mudanças já em curso por causa da quarta revolução industrial irão se aprofundar. Além disso, o padrão de consumo dos trabalhadores, também afetados pela recessão e pelo desemprego, está se modificando. 

A indústria brasileira precisa se preparar para essa nova era. Muitos avanços que seriam adotados nos próximos anos tiveram que ser antecipados, em especial a digitalização de processos produtivos. Dirigentes e trabalhadores deverão se adaptar a uma nova mentalidade, que não permite espaços para acomodação. O espírito inquieto e inovador será mais necessário em todas as etapas da produção, desde antes da concepção dos produtos até sua entrega aos clientes. Toda a cadeia produtiva necessitará de um choque de inovação.

Nesse contexto, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) celebrou uma parceria promissora com o SOSA, organização israelense que atua em vários países na área da inovação aberta (que tem origem na interação com agentes de fora das empresas, como institutos de pesquisa e especialistas em tecnologia). Esse convênio vai facilitar o acesso de indústrias e startups brasileiras a diversas iniciativas no mundo. Com base nessas experiências, as empresas poderão, por exemplo, estruturar seus programas de inovação. 

Nos países avançados, as startups são fundamentais para a geração de empregos e para o dinamismo da atividade econômica. Reconhecidas pela agilidade, essas jovens empresas incentivam a modernização e o avanço da indústria, da agricultura, do comércio e dos serviços. As startups também criam postos de trabalho qualificados, favorecendo o aumento da produtividade, da renda e do bem-estar da população. São, portanto, peças fundamentais para a articulação e o adensamento das cadeias globais de produção.

O Brasil tem, hoje, uma dezena de unicórnios, como são chamadas as empresas nascentes de tecnologia cujo valor de mercado é de, pelo menos, US$ 1 bilhão. No ano passado, os investimentos em venture capital, que apoiam negócios inovadores, superaram US$ 2,5 bilhões no país, mais da metade do total investido na América Latina. Os números animadores são, em parte, resultado de iniciativas do governo, da academia e do setor privado para incentivar o desenvolvimento das startups e de um ecossistema de inovação mais eficiente. 

Entretanto, é preciso e possível avançar mais. Graças ao trabalho de quase 12 anos da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), identificamos uma série de obstáculos que comprometem a capacidade inovadora das empresas brasileiras. Temos trabalhado, em cooperação com o setor público, na busca de soluções e na formulação de políticas e instrumentos de apoio aos investimentos em inovação. Com o esforço de todos, certamente vamos nos tornar uma economia mais competitiva, produtiva, dinâmica e inovadora, com capacidade de crescer de modo sustentável e num ritmo mais vigoroso. 

*O artigo foi publicado na edição de julho da Revista Indústria Brasileira.

Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

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