É preciso aperfeiçoar o Novo Ensino Médio

Em artigo publicado no portal O GLobo, Rafael Lucchesi, diretor-geral do SENAI, e Leo de Castro, vice-presidente da CNI, afirmam que a educação é um fator estratégico para retomada do crescimento

quatro estudantes mulheres usam uniforme branco e azul se juntam em volta de aluna que segura um notebook

A educação é fator estratégico para retomada do crescimento, consolidação de um Brasil mais produtivo e com maior bem-estar social. Especialmente no ensino médio, as estatísticas dão sinais da pouca efetividade. Um em cada cinco alunos é reprovado ou abandona a escola no início dessa etapa. Como consequência, apenas 65% daqueles que entram no ensino fundamental concluem a educação básica.

Dados do Observatório do Plano Nacional de Educação indicam que apenas 23,8% dos jovens de 18 a 24 anos frequentam a universidade. Aqueles que não fazem formação técnica durante o ensino médio e não passam pelo funil para chegar ao ensino superior ficam sem capacitação profissional. Isso contribui para o agravamento da desigualdade social, fruto de uma educação pautada na lógica academicista.

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Nesse cenário, o novo ensino médio é a oportunidade para alterar o quadro de exclusão, abandono e baixa qualidade. Especialmente pelo itinerário de formação técnica e profissional, por fortalecer a trajetória de profissionalização durante o ensino médio, oferecendo perspectiva de futuro. No Brasil, somente 9% dos formandos do ensino médio recebem formação profissional. Na Áustria, ultrapassa 60%.


A reforma do ensino médio foi feita à luz de políticas educacionais que superam o modelo de ensino passivo-reprodutivo, ainda presente no Brasil. Quando foi criada, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apontou quais são os direitos de aprendizagem dos estudantes. Com as áreas do conhecimento e os itinerários formativos definidos, os jovens, a partir de suas vocações, poderão construir seu projeto de vida.


Ao incentivar o desenvolvimento de competências tecnológicas, criativas e inovadoras, o novo ensino médio prepara os jovens para enfrentar os desafios da economia digital e fomenta a formação de profissionais capazes de impulsionar o salto tecnológico que o país precisa para avançar para uma nova era industrial.

A revogação do novo ensino médio não é o caminho. A reforma precisa de ajustes. Os debates devem ser direcionados para possibilitar implementação efetiva do modelo que tem potencial para corrigir a matriz educacional, ampliar o acesso à educação profissional e melhorar a empregabilidade dos jovens.

Temos uma reforma em pleno andamento nos estados e freá-la pode ser desastroso. Mudanças específicas são necessárias, entre elas a ampliação de 1.800 para 2.100 horas da Formação Geral Básica. Os itinerários formativos teriam o limite mínimo de 900 horas, possibilitando o acesso à formação técnica profissional em único turno escolar para os estudantes mais carentes que necessitam trabalhar.

Outro ponto de melhoria diz respeito à ausência de parâmetros e ao elevado nível de flexibilização para implementação dos itinerários formativos. Uma alternativa é a criação de uma BNCC para esses itinerários, com núcleos comuns pelas áreas de conhecimento, garantindo direitos mínimos de aprendizagem.


Não há mudança sem desafios. Para a efetividade do novo ensino médio, é indispensável uma coordenação nacional do Ministério da Educação, orientando melhorias infralegais e mudança gradativa no cronograma de implementação. É importante prever investimentos em estrutura física, equipamentos e em formação de professores.


O Brasil precisa avançar de significativamente na melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Não é possível ter uma educação de excelência apoiando-se em velhos paradigmas. Precisamos de um sistema de ensino sintonizado aos avanços sociais, científicos e tecnológicos que ofereça oportunidades a todos. É preciso avançar no novo ensino médio e acelerar o passo das mudanças, sob o risco de comprometer o futuro do Brasil.

*Rafael Lucchesi é diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e diretor superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI).

*Leonardo de Castro é vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e empresário.

O artigo foi publicado no portal O Globo, neste sábado (29).

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