Lucrar é preciso, mas...

Em artigo publicado no jornal O Popular, Paulo Afonso Ferreira, vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), fala sobre o cooperativismo financeiro no cenário de lenta retomada da economia brasileira

Lucrar é preciso, mas com “equilíbrio” entre todos os atores da economia, afirma Paulo Afonso Ferreira, vice-presidente da CNI e presidente do Conselho de Assuntos Legislativos da instituição

Lucro pode ser definido como uma forma de obter êxito ou ganho. Sou favorável a ele e vejo como algo que move a economia e dá garantia aos negócios. É um desafio ao empreendedor, que corre riscos em seus investimentos, lida com alta carga tributária, burocracia, insegurança jurídica, legislação severa e complexa.

O Brasil ainda apresenta dificuldades, com índice de desemprego de 13,1%, estados e municípios endividados, há dificuldade na obtenção de crédito e queda no consumo das famílias.

O cenário é de lenta retomada da economia. Em relatórios divulgados pelas empresas, nos chama atenção o desequilíbrio de resultados entre alguns segmentos.

Pesquisas mostram que o setor bancário lidera os ganhos de lucratividade acumulada no primeiro trimestre 2018, com 17,6 bilhões de reais, crescimento de 14,2% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto a construção civil teve prejuízo de 482,9 milhões, por exemplo.

Não sou contra o lucro, mas precisamos de medidas que busquem o equilíbrio, pois tem sido pago um alto preço pela sociedade, havendo exageros em prol de um segmento, em detrimento do resto da população, que compõe a economia do país.

A taxa de básica de juros tem caído ao longo dos meses, mas ainda não chegou ao bolso dos consumidores. Há resistência na redução dos spreads bancários e são grandes os impactos, pois juros altos oneram os custos das empresas e inibem o consumo das famílias.

As mudanças só ocorrerão por meio da sociedade organizada, que deve se manifestar e se posicionar por reformas e ações incisivas na limitação das taxas de juros praticadas pelo sistema financeiro.

Uma das medidas que poderiam contribuir seria a abertura do mercado, com o fortalecimento das cooperativas de crédito, o que estimularia maior concorrência e competitividade.

O cooperativismo financeiro é uma alternativa que tem dado muito certo no mundo e que precisa ser ampliado no Brasil. Nos Estados Unidos há 5.906 entidades de cooperativas, que tem 33,4% da população como associados. 

Na França há 90 entidades cooperativas e tem 39% da população associada, juros na margem de 1% ao mês e tem experimentado grande consumo e crescimento da economia, principalmente no mercado imobiliário. No Brasil há 1.049 entidades cooperativas financeiras, com apenas 4,41% da população associada.

Esperamos que questões como essas possam ser priorizadas e discutidas nas próximas eleições, pois a sociedade clama por mudanças. Havendo mais créditos no mercado, com juros menores, a economia move com aumentos nos investimentos e proporciona maior crescimento ao país. 

Lucrar é preciso, mas com “equilíbrio” entre todos os atores da economia.

O artigo foi publicado no domingo (24) no jornal O Popular.

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