Desafios da água

Em artigo publicado no jornal Correio Braziliense, a diretora de relações institucionais da CNI, Mônica Messenberg, detalha a importância das iniciativas do setor produtivo para economizar água

O 8º Fórum Mundial da Água, que ocorre neste mês em Brasília, é uma oportunidade para o Brasil conhecer boas práticas mundiais e debater soluções para a escassez hídrica que afeta diretamente cerca de 87% da população. O setor industrial, responsável pelo consumo de 10% da água captada no país, está comprometido com a melhoria da eficiência no uso desse recurso natural. A indústria tem repensado seus processos, intensificado o uso de tecnologia e qualificado o diálogo com governo e sociedade para debater soluções para a gestão hídrica. Ganhos de eficiência na produção industrial são verificados em praticamente todos os setores e resultam na redução do consumo de água. Também as ações em parceria com organizações da sociedade civil, governos locais e universidades estão cada vez mais presentes nas estratégias corporativas para promover o uso eficiente de água.

Entre as iniciativas do setor produtivo para economizar água estão a troca de equipamentos para reduzir perdas e a adoção de sistemas de recirculação interna da água nas empresas. Um exemplo é o uso da água das pias para a lavagem de pátios e garagens. Em alguns casos, a depender dos requisitos de qualidade, a mesma água pode ser utilizada para o resfriamento de peças. Setores como o siderúrgico, automobilístico e de máquinas e equipamentos reúsam mais de 90% da água que consomem.

Apesar dos avanços tecnológicos e em práticas de economia de água dentro das fábricas e também em produtos do dia a dia das pessoas, as situações extremas, como secas e enchentes, necessitam de abordagem mais ampla para se encontrar um conjunto de soluções efetivo. Na última década, as situações de escassez hídrica se agravaram e mostraram uma face mais estrutural. O desequilíbrio entre o volume disponível em relação à população que precisa ser atendida mostra desigualdade da distribuição de água no país.

Dialogar com os governos e com a sociedade é essencial para conhecer melhor os riscos associados à água e desenvolver iniciativas para reduzir a vulnerabilidade aos eventos extremos e garantir o acesso a recursos hídricos em quantidade e qualidade adequados. Nessa agenda, a universalização do saneamento básico torna-se prioritária por permitir a conservação de bacias hidrográficas, melhorar a saúde da população e movimentar a economia.

Estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que a cada R$ 1 bilhão investido no setor, há acréscimo de R$ 3,1 bilhões no valor bruto da produção no país, além da criação de 58,2 mil empregos diretos e indiretos. Em relação aos impactos na saúde, em especial do trabalhador, estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que, por ano, 217 mil trabalhadores precisam se afastar de suas atividades devido a problemas gastrointestinais ligados à falta de saneamento. Os custos anuais com os afastamentos chegam a quase R$ 1 bilhão por ano.

Os avanços no saneamento são importantes, inclusive, para estimular o reúso de efluentes como fonte alternativa para a indústria, sobretudo em regiões onde há mais escassez hídrica, como o Nordeste. É preciso que os efluentes sejam tratados para retornarem à atividade produtiva. O Ministério das Cidades estima que o potencial de reúso de efluentes tratados é de 13 metros cúbicos por segundo, aproximadamente oito vezes superior ao praticado atualmente. Dessa forma, iniciativas importantes como o Projeto Aquapolo, que fornece água de reúso de efluentes ao Polo Petroquímico da Região do ABC Paulista e outras empresas da região, podem ser alavancadas em grande escala no país.

Com intuito de dar força a essa agenda, a CNI participa de ampla campanha --#SomosMaisSaneamento --, que será lançada pela Associação das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto durante o Fórum Mundial da Água. Entre os princípios defendidos estão universalizar os serviços de água e esgoto e conservar os recursos hídricos; repensar modelos de prestação de serviços com cooperação entre os setores público e privado; garantir tarifas realistas e acessíveis; integrar as políticas de recursos hídricos e de saneamento básico; e priorizar a formação e capacitação profissional no setor. Com essa forte mobilização de governos, de empresas e da sociedade em prol dessa agenda, será possível dar um salto importante para aumentar a segurança hídrica e melhorar a eficiência na gestão das águas.

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