O Brasil é reconhecido como uma potência agrícola. Responde por 12% da produção mundial de grãos e se destaca como o maior exportador do planeta. A safra recorde de 2017 atingiu 242 milhões de toneladas e foi 15,3% maior que a de 2015, então a maior de todas. A relação produção/área plantada vem se elevando de forma exponencial, o que atesta os contínuos ganhos de produtividade que, nos últimos anos, cresceram 229,4%.
Reflexo da utilização massiva de máquinas, implementos agrícolas e insumos modernos, a agricultura brasileira, capitaneada pelo agronegócio, tem contribuído para o crescimento das exportações e para o equilíbrio das contas externas do país. Claro está que, sem o bom desempenho da agricultura, a recessão de anos recentes teria sido ainda mais severa.
A continuidade desse modelo virtuoso de expansão intensiva da agricultura e, em consequência do agronegócio, vai depender dos aumentos cada vez maiores de produtividade, e os fertilizantes nitrogenados, potássicos e fosfatados assumem papel relevante nessa busca contínua de eficiência. O Brasil produz 30% de suas necessidades de fertilizantes, com destaque para os nitrogenados, já que 95% do cloreto de potássio e uma expressiva quantidade dos fosfatados vêm do exterior.
Com a recente decisão da Petrobras de hibernar, ou seja, desativar a produção de suas três fábricas de nitrogenados de Camaçari (BA), Laranjeiras (SE) e Araucária (PR), com capacidade para, conjuntamente, produzir 1,8 milhões de toneladas de ureia e 1,270 milhões de toneladas de amônia por ano, o Brasil praticamente irá importar quase todo o fertilizante necessário ao desenvolvimento da agricultura e do agronegócio, que vêm a ser o carro-chefe da economia hoje. Dessa forma, o país ficaria completamente dependente de importações de insumos estratégicos para um conjunto de atividades produtivas decisivas para a economia nacional.
A causa para a hibernação alegada pela petroleira é a de que essas fábricas estão dando prejuízos. Ora, são unidades industriais que operam há muito tempo - a da Bahia há 47 anos; a de Sergipe, há 36 - ininterruptamente. Já a do Paraná entrou em operação em 2013. Fica claro que tais prejuízos são de anos recentes, considerando que a Petrobras não instalaria mais uma fábrica no Paraná se a de Sergipe e a da Bahia fossem cronicamente deficitárias.
Episódicos, esses prejuízos podem desaparecer com uma rigorosa reestruturação administrativa, acompanhada da redução de custos dos insumos básicos - gás natural, água e energia elétrica - perfeitamente equacionáveis num trabalho conjunto entre a Petrobras e os governos dos estados interessados em manter essas fábricas em funcionamento.
No caso de Sergipe, a hibernação ou fechamento da fábrica de fertilizantes nitrogenados (Fafen) destruirá toda uma cadeia produtiva que vai das indústrias misturadoras à logística de transportes, responsável por expressiva parcela da renda interna do estado e pelo emprego de milhares de profissionais de diversas categorias.
Em último caso, se realmente for interesse da Petrobras em sair do negócio de fertilizantes, sugere o bom senso que melhor seria privatizar essas fábricas. Fechá-las, nunca!
O artigo foi publicado nesta quinta-feira (19) no jornal O Globo.