Alfabetização científica e o desenvolvimento de um país

O número de patentes é um dos fatores que refletem o grau de inovação de um país

Diversos parâmetros são utilizados para medir o desenvolvimento econômico e social dos países, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Produto Interno Bruto (PIB), entre outros. Um parâmetro pouco divulgado no Brasil e que também retrata o nível de desenvolvimento tecnológico é o número de patentes registradas. A patente é um título de propriedade temporária sobre uma invenção e garante ao inventor o direito sobre o produto criado. O número de patentes é um dos fatores que refletem o grau de inovação de um país.

Segundo a Associação Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi), nos últimos anos, Estados Unidos e China lideram essa lista, seguidos do Japão, Coreia do Sul e União Europeia.  Em 2013, a China registrou 825 mil patentes e os EUA, 571 mil. Juntos, eles têm mais da metade do total global. O Brasil registrou apenas 30 mil pedidos, o que reforça a necessidade de o país investir em pesquisa. A pesquisa não é exclusiva das universidades ou das grandes empresas. Ela pode surgir bem antes, na escola, desde as séries iniciais, pois é nesta fase da vida que as crianças serão instigadas aos desafios e à criatividade. É nessa fase que se inicia a alfabetização científica.

Jornais do Brasil trouxeram, recentemente, uma reportagem que abordava a preocupação de especialistas norte-americanos com a diminuição da criatividade infantil no país e que destacava diversos projetos que buscam impulsionar a imaginação – como a “hora do gênio”, na qual a escola reserva parte da jornada escolar para incentivar as crianças a descobrir suas paixões. O exemplo norte-americano é um dos caminhos a seguir para despertar na criança e no adolescente o fascínio pela ciência, por novas descobertas. No Brasil, o fato de termos um currículo focado em conteúdos e dividido em disciplinas dificulta a implementação de uma política escolar que valorize a alfabetização científica e, consequentemente, leve o estudante a desenvolver sua curiosidade.

Uma alternativa, enquanto uma reforma curricular em todos os níveis do Ensino Básico ainda está longe do ideal, seria incentivar a iniciação científica em conjunto com o modelo escolar tradicional no contraturno, desenvolvendo atividades que visem a estimular em crianças e jovens o fascínio pela ciência e pelas descobertas. Um modelo no qual os alunos sejam orientados por professores capazes de despertar o gosto pela ciência.

Sob esse olhar, a democratização científica seria uma aliada no combate às desigualdades sociais existentes no país. Iniciativas que valorizam a iniciação científica – como o Prêmio Jovem Cientista e as feiras Febrace (São Paulo), Ficiencias (Foz do Iguaçu), Amostratec (Novo Hamburgo) e Mocinn (Fortaleza) – são exemplos de que existe essa preocupação em atrair jovens para a pesquisa, abarcando, principalmente, alunos do Ensino Médio.

Se essas políticas fossem estendidas ao Ensino Fundamental – com os “clubes de ciências” e “gincanas científicas” –, talvez pudéssemos antecipar o gosto por desafios e promover uma revolução educacional no país, tendo a alfabetização científica como um dos pilares. Crianças em um ambiente que instigue a criatividade poderão se tornar adolescentes críticos e adultos responsáveis, tanto do ponto de vista ético, ambiental e social.

Adalberto Scortegagna é doutor em Ciências na área de Ensino e História das Ciências da Terra (Unicamp) e responsável pelo Programa de Iniciação Científica do Centro de Estudos e Pesquisas (CEP), da Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus.

** Disponível em http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/04/alfabetizacao-cientifica-e-o-desenvolvimento-de-um-pais.html

Relacionadas

Leia mais

5 coisas que micros e pequenas empresas precisam saber sobre Propriedade Intelectual
ICC Brasil cria Comitê de Propriedade Intelectual
Propriedade intelectual contra a fome

Comentários