Saída da crise econômica depende da recuperação da confiança

A atual crise econômica brasileira é também uma crise da confiança, cuja superação depende principalmente da reorganização das contas públicas

"A indústria está extremamente apreensiva com o caos econômico, ético e político que enfrentamos" - Robson Braga de Andrade

Se existe um consenso entre as diversas opiniões sobre a saída para a atual crise econômica brasileira é que ela depende da recuperação da confiança. Para se reverter o cenário de inflação alta, crescimento baixo, falta de crédito e poucos investimentos, alguns apontam o caminho das reformas estruturais. Outros defendem a imediata redução dos juros para que a economia volte a girar, mas isso depende da reorganização das contas públicas. 

“Uma âncora de confiança”, é disso o que o país precisa neste momento, segundo o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas. No campo das contas públicas, por exemplo, a equipe econômica tem demonstrado mínimo interesse em produzir um ajuste fiscal. Pelo segundo ano seguido, o país deverá fechar suas contas no vermelho. Em março, o governo apresentou proposta que altera o resultado primário de um superávit de R$ 24 bilhões para uma possibilidade de déficit de quase R$ 100 bilhões. Um rombo semelhante ao deixado em 2015, quando as despesas superaram as receitas em R$ 111 bilhões. 

Para o diretor do Insper (instituição de ensino e pesquisa sem fins lucrativos), o economista Marcos Lisboa, “a recessão vai continuar enquanto o Brasil não enfrentar uma agenda de reformas que interrompa o aumento da dívida pública com relação ao PIB (Produto Interno Bruto)”. Mas enquanto a crise política não limpar a pauta do Congresso, a agenda de reformas não avança. 

Nesse novelo, em que um fio puxa outro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem acentuado sua ação institucional, reconhecendo o sentido de urgência na solução das crises gêmeas, política e econômica. Em artigo publicado no dia 4 de abril deste ano no jornal Folha de S. Paulo, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, foi categórico: “A indústria está extremamente apreensiva com o caos econômico, ético e político que enfrentamos. Não podemos aceitar que os interesses maiores dos brasileiros sejam postos em segundo plano em favor de disputas de poder.” 

No dia 6 de abril, Andrade entregou pessoalmente ao então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, exemplares da Agenda Legislativa da Indústria 2016, que renova o posicionamento institucional da CNI quanto às reformas mais urgentes. “A crise precisa ser resolvida urgentemente e nosso papel é estarmos preparados e prontos para trabalhar com o Brasil”, disse Andrade, para quem o resgate da confiança depende do ajuste fiscal crível e das reformas estruturais tributária, previdenciária e trabalhista. 

Apesar do cenário adverso, a consistência das ações pró-reforma tem produzido resultados. O professor da Universidade de São Paulo ( USP ) Luis Eduardo Afonso, um especialista em temas previdenciários, acredita que neste novo governo a reforma no sistema de aposentadorias pode avançar. “Esse tema afeta grupos de interesse e, por isso, se faz no primeiro ano de um governo, quando é maior seu capital político”, lembra. Afonso vê com bons olhos a disposição do governo para rever a idade mínima de aposentadoria e, sobretudo, o gradual reconhecimento da sociedade brasileira de que essa mudança é necessária.

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