Situação do abastecimento de água preocupa para 2015

Os níveis dos reservatórios apontam para um elevado risco no abastecimento das grandes cidades da região Sudeste em 2015

Especialistas acreditam que as crises por conta do desabastecimento serão cada vez mais recorrentes

Os níveis dos reservatórios apontam para um elevado risco no abastecimento das grandes cidades da região Sudeste em 2015. Enxergando perspectivas “muito ruins” para o Sistema Cantareira e Alto Tietê, o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo ( USP ) Rubem La Laina Porto apontou o momento como oportuno para que gestores tirem lições e planejem com mais eficiência o abastecimento da água. Ele destacou como inevitável que a tarifa da água seja reajustada e fez um apelo para a qualificação do gerenciamento dos recursos hídricos.

O alerta foi feito nesta terça-feira (2), durante a 12ª Reunião do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade (COEMA) da regional Sul-Sudeste, realizada na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais ( FIEMG ), em Belo Horizonte. O acadêmico e especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( INPE ), da Companhia Energética de Minas Gerais ( CEMIG ) e do Instituto Mineiro de Gestão das Águas ( IGAM ) participaram do painel Risco Hidrológico de 2015, no encontro promovido pela Confederação Nacional da Indústria da Indústria (CNI) .

O professor da USP fez uma ampla análise sobre a captação e distribuição de água usada na capital paulista. Segundo Porto, foi o volume morto quem salvou São Paulo de um desabastecimento sem precedentes. O acadêmico detalhou que os meses de outubro e novembro deste ano apresentaram níveis consideravelmente mais baixos de chuva que nos mesmos períodos de anos anteriores. “A gente efetivamente vive uma situação muito complicada. As perspectivas para 2015 são muito ruins. A esperança é que chova. Mas dificilmente recuperaremos até o fim do ano o volume morto que foi gasto”, afirmou. Porto observou que medidas isoladas não serão suficientes para reverter o quadro de desabastecimento do Sistema Cantareira.

REDUÇÃO DAS CHUVAS - A pesquisadora do INPE e especialista em meteorologia Chou Sin Chan apresentou possíveis cenários para as próximas décadas em relação às chuvas no país. De acordo com as projeções dela, há uma tendência de redução de chuva nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, e de leve aumento nas precipitações no Sul do Brasil. Até o fim do século, conforme as simulações de Chan, a área máxima de reduções de chuva se estenderá para a região Norte. Esse movimento demandará ações de adaptação por parte dos setores produtivos, especialmente para evitar os riscos associados aos impactos da mudança de clima.

Defensor de regras mais objetivas para a minimização de conflitos no setor elétrico, o gerente de Planejamento Energético da Cemig, Marcelo de Deus Melo, pontuou que as crises decorrentes do desabastecimento de água serão cada vez mais recorrentes. Segundo ele, a dificuldade crescente de licenciamento ambiental de novos projetos hidrelétricos principalmente na região da Amazônia contribui decisivamente para a vulnerabilidade do setor. Melo afirmou que a expansão das termelétricas afetará o preço da energia e que outras fontes que possam garantir geração limpa sejam incentivadas.

A diretora do IGAM, Marília Carvalho Melo, por sua vez, traçou um retrato da situação hidrológica de Minas Gerais. Ela mencionou que a situação é bastante complicada, em razão dos baixos volumes dos reservatórios no estado. “O estado de Minas Gerais observou regiões classificadas de levemente seco a muito seco, e apenas pequenas áreas classificadas como normal”, destacou, antes de observar que a expectativa para os próximos dois meses é de ocorrências de chuvas dentro do normalidade. Marília anunciou que o IGAM irá contratar um plano de segurança hídrica em 2015 e que pretende criar mecanismos de bonificação aos usuários que atendem o critério de uso eficiente da água.

DESABASTECIMENTO NA INDÚSTRIA - Já o coordenador da Rede de Recursos Hídricos da CNI Percy Soares ressaltou que o momento de crise requer o aprofundamento da discussão dos impactos do desabastecimento de água na indústria. “A situação é alarmante. Temos a região de maior PIB do Brasil correndo o risco de reduzir sua atividade pela falta de água”, enfatizou.

O alerta da CNI é que a crise de água não se encerrou em 2014, é importante que as indústrias mantenham a atenção ao tema. Soares destacou que algumas empresas enfrentaram maior dificuldade pelo fato de não terem desenvolvido plano de contingência para enfrentar crises de água. Ele ponderou, porém, que as indústrias que se prepararam com projetos de uso eficiente e reúso da água têm sofrido menos impactos.

O gerente de Meio Ambiente da FIEMG, Wagner Costa, avaliou como fundamental um estudo sobre a qualidade do uso da água de cada bacia para que haja abertura para diferenciação da cobrança entre os setores. “Enquanto não conhecermos a qualidade do uso da água de cada um não posso pedir ao setor elétrico, por exemplo, para sacrificar a produção de energia num determinado período ou a vazão ambiental para a manutenção da vida aquática. A relação de ganha-ganha pressupõe a perda de cada um”, disse Costa, que também é vice-presidente do Comitê da Bacia do São Francisco.

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