O que grandes multinacionais têm feito para tirar a transição energética do papel

Gigantes do setor, como Saudi Aramco, Equinor e Engie compartilharam iniciativas no B20 Summit Brasil

Embora relatórios recentes da Organização das Nações Unidas (ONU) considerem cada vez mais difícil limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC acima do nível pré-industrial, a meta ainda pode ser alcançada. A boa notícia é que a transição energética — fundamental para frear o avanço das mudanças climáticas — já é parte importante do dia a dia de grandes multinacionais de energia e da maior empresa petrolífera do mundo.

O assunto foi debatido no painel "Impulsionando o futuro rumo a uma transição net-zero justa" do B20 Summit Brasil, em São Paulo, nessa quinta-feira (24). Confira as principais iniciativas de grandes multinacionais.

As cinco estratégias da gigante saudita do petróleo para zerar emissões de gases poluentes

Maior produtora de petróleo do mundo, a Saudi Aramco quer zerar as emissões próprias de gases de efeito estufa até 2050. Além disso, a estatal saudita quer diminuir em 15% sua intensidade de carbono em até dez anos. Para que as metas saiam do papel, a companhia criou um roadmap com cinco estratégias, conta Musaab Al Mulla, vice-presidente de Energia e Insights Econômicos da Saudi Aramco.

A primeira delas é a eficiência energética. "A Aramco construiu plantas de cogeração que produzem vapor e energia ao mesmo tempo. Isso aumenta a eficiência de geração de energia em 40%." A segunda, diz Al Mulla, é a redução das emissões oriundas da exploração de gás natural.

O vice-presidente da Saudi Aramco, Musaab Al Mulla, contou que a companhia criou um roadmap com cinco estratégias para zerar as emissões próprias de gases de efeito estufa até 2050

A terceira estratégia, de acordo com o representante da estatal saudita, é o investimento em energia renovável. "A Arábia Saudita quer que 50% de sua produção de energia seja solar e eólica até 2030. A Aramco quer fazer parte disso. Até lá, nós teremos 12 gigawatts de contribuição de renováveis", projetou.

Captar nove milhões de toneladas de CO2 por ano, até 2027, é a quarta estratégia da empresa, que tem como último pilar de sua transição energética a compensação das emissões de carbono, explica Al Mulla. "O Brasil é um grande exemplo. A Aramco tem 5,6 milhões de mangueiras. Na Arábia Saudita, teremos esse ano um mercado voluntário de carbono, e a Aramco é uma das capacitadoras desse mercado", concluiu.

Equinor aposta em diversificação de fontes energéticas

A multinacional norueguesa Equinor vê o Brasil como ator estratégico no processo de transição energética global, uma vez que o país é abundante em recursos naturais e tem uma matriz de energia limpa.

"Poucos países nos dão oportunidade de investir em várias fontes de energia, e o Brasil é um deles. Nós já produzimos energia eólica e solar no Nordeste", exemplificou Leticia Andrade, vice-presidente de Energia Renovável da companhia no país.

A vice-presidente de Energia Renovável da Equinor, Leticia Andrade, vê o Brasil como ator estratégico no processo de transição energética global

Ela também anunciou que a empresa trabalha em um projeto híbrido de energias renováveis na Bahia, com a implantação de um parque solar dentro de um complexo eólico.


"O que nós fazemos nesse projeto híbrido é otimizar o uso da malha. De dia, quando há mais sol e menos vento, você tem mais energia solar na matriz e, à noite, quando não há sol e há mais vento, a gente injeta mais eólica dentro do sistema", explicou.


Segundo Letícia, além de seu potencial natural, o Brasil se destaca por respeitar contratos, o que é importante para dar segurança jurídica aos investidores que pretendem aportar recursos no país. Entre 2009 e 2030, a Equinor deverá ter investido US$ 26 bilhões no país, projeta a representante da empresa norueguesa.

Engie investe em infraestrutura

Uma das maiores empresas de energia do mundo, a francesa Engie tem no investimento em infraestrutura peça-chave para a transição energética. "Investimos todos os anos mais de oito bilhões de euros em projetos relacionados à transição energética, com foco em infraestrutura elétrica, de gás, armazenamento e infraestrutura local de energia", pontuou Jean-Pierre Clamadieu, chairman da companhia.

O chairman da Engie, Jean-Pierre Clamadieu, acredita que a peça-chave para atingir a transição energética é o investimento em infraestrutura

Para ele, o grande gargalo para o sucesso da transição energética nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil não é a falta de recursos, mas da aplicação do dinheiro corretamente.


"Precisamos desenvolver essa infraestrutura, porque a energia renovável é produzida onde há sol e vento, mas ela não é utilizada nesses lugares. Além disso, os parques solares e eólicos não produzem energia o tempo todo. Precisamos ter capacidade de armazenamento", disse.


O B20 Brasil 2024

O B20 é o fórum de diálogo mundial que conecta a comunidade empresarial aos governos do G20, mobilizando mais de mil representantes do setor privado dos países membros. A edição brasileira reúne sete forças-tarefas e um conselho de ação.

Os grupos de trabalho são formados por empresários do Brasil e estrangeiros que debateram, desde o início do ano, propostas de temas urgentes: Comércio e Investimento, Finanças e Infraestrutura, Emprego e Educação, Transição Energética e Clima, Transformação Digital, Integridade e Compliance, Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura, além do Conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios.

O B20 Summit Brasil está sendo realizado no Clube Monte Líbano, em São Paulo, e tem o patrocínio da SabicAramcoEquinorMastercardJBSVrio-SkyGoogleBNDESBRF-MarfrigABDI e Finep, além do apoio institucional do Sebrae e do Conselho do Serviço Social da Indústria (SESI).

Confira o álbum de fotos do primeiro dia de eventos

24 10 24 - B20 Summit Brasil 2024

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