Em todo o planeta, foram criados 12,7 milhões de empregos na área de energia renovável em 2021, 10% deles no Brasil. Até 2030, outros 30,2 milhões de postos de trabalho como esses, chamados de empregos verdes, devem ser criados para atender apenas às demandas geradas pela transição energética. Os dados são da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena).
A expansão das vagas para esse tipo de função é uma das consequências do esforço global por uma economia de baixo carbono. Além da área de energia, outros setores como agricultura, construção civil, transporte e indústria também criam empregos verdes.
Apesar do bom desempenho obtido até agora nessa área, um dos desafios enfrentados pelo Brasil para alavancar a geração de postos de trabalhos assim consiste na formação de mão de obra capacitada para atuar nesse novo cenário.
“O Brasil tem um enorme potencial para ocupar uma posição de relevância na agenda de energias renováveis, o que inclui a geração de muitos empregos, mas se não trabalharmos, isso não vai acontecer por inércia”, alerta o diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi.
Qualificação
Para suprir essa demanda, desde 2021 a GIZ – agência de cooperação internacional do governo alemão –, o Ministério da Educação (MEC) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) desenvolvem o projeto Profissionais do Futuro.
A iniciativa oferece apoio técnico para a realização de cursos de formação profissional e tecnológica nas áreas de energias renováveis, bioeconomia e economia circular, além da digitalização desses setores e da educação.
O projeto, que também contribui para a capacitação de gestores educacionais e professores visando à modernização dos cursos, tem como público-alvo pessoas com ou sem formação ou emprego, com olhar para mulheres, jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade em várias regiões do Brasil. Até 2024, serão investidos seis milhões de euros.
Segundo o coordenador de Energia e Parcerias Empresariais da GIZ no Brasil, Martin Studte, a atuação da agência é pautada pela demanda do setor produtivo.
“Fizemos pesquisas junto com o MEC e o SENAI que indicaram grande potencial de empregos que possam contribuir para a descarbonização da economia e para o uso sustentável dos recursos naturais. Um exemplo é o instalador de energia fotovoltaica. Trabalhamos junto com o SENAI e hoje essa área está em pleno crescimento”, explica.
Perfil
Assim como a expressão “empregos verdes” é aplicada para uma vasta gama de atividades, diversos também são os perfis dos profissionais necessários para atuar na economia de baixo carbono.
“De forma geral, podemos dizer que a maioria é de perfis profissionais já existentes, mas que precisam aprofundar ou agregar novos conhecimentos e novas competências”, aponta Studte. “Por exemplo, engenheiros mecânicos e mecatrônicos precisam aprender a trabalhar com alta voltagem em carros elétricos, um mercado que vai crescer muito nos próximos anos devido à eletrificação da frota dos automóveis”, explica.
Para se ter ideia do tamanho dessa expansão, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que, em 2026, haverá 100 mil veículos elétricos ou híbridos em circulação no Brasil. Em 2030, a projeção é que esse número seja de 2,2 milhões, representando 4,2% da frota nacional.
Outros profissionais que já estão no mercado de trabalho e poderão atualizar suas formações profissionais para ocupar empregos verdes são os técnicos de manutenção industrial – com a aquisição de conhecimentos específicos sobre eficiência energética – e os técnicos em meio ambiente – com os conceitos da economia circular.
O representante da GIZ também projeta que novas profissões surgirão em áreas muito inovadoras.
“Isso deve acontecer na produção de hidrogênio verde, por exemplo. A instalação e a manutenção de eletrolisadores, responsáveis pela quebra das moléculas da água em átomos de oxigênio e hidrogênio, é uma profissão que está surgindo em função da busca por uma economia descarbonizada”, afirma.
Rafael Lucchesi também destaca que as novas tecnologias envolvidas nos empregos verdes não vão destruir os empregos cognitivos, mas mudarão profundamente a estrutura dos não-cognitivos. “Os novos empregos tendem a exigir profissionais cada vez mais qualificados, o que acaba se constituindo em uma parte relevante do círculo virtuoso de desenvolvimento e bem-estar”, diz o diretor da CNI.