Brasil pode ser líder global em economia verde

Bernardo Gradin, da empresa de biotecnologia industrial GranBio, explica como o etanol pode ajudar na transição energética.

O CEO da GranBio, Bernardo Gradin, avalia que a bioeletrificação automotiva e o querosene de aviação verde são inovações que demonstram como o etanol pode desenvolver um papel fundamental para a implementação de uma matriz energética limpa. “Novas rotas tecnológicas como a da célula sólida de combustível para a bioeletrificação dos transportes e o querosene de aviação verde, ou SAF (Sustainable Aviation Fuel), produzido a partir do etanol, darão um novo impulso à produção de etanol do Brasil com potencial de dobrar a demanda até 2050”, afirma.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA: Qual o papel do etanol na transição energética do Brasil?

BERNARDO GRADIN: O etanol tem um papel relevante na agenda de transição energética mundial. No Brasil, de acordo com a Unica, associação de empresas do setor, o etanol utilizado em transportes evita a emissão de 550 milhões de toneladas de CO2 ao substituir a gasolina. As atividades de produção do combustível ocupam apenas 4,5% da área territorial e empregam mais de 2 milhões de pessoas direta e indiretamente. O etanol terá papel transformador na chamada bioeletrificação automotiva com a chegada das células sólidas de combustível que viabilizarão carros de motor elétrico movidos a etanol. A autonomia é superior a 600 km com 30 litros de etanol. O papel desse combustível na descarbonização ou captura de carbono será ainda mais eficiente com o etanol celulósico, que usa biomassa agrícola como matéria-prima e ainda reduz em mais de 90% a emissão equivalente da gasolina. Apenas os resíduos agrícolas da cana-de-açúcar não empregados para cogeração permitirão o aumento de produção de etanol brasileiro em mais de 50% sem expandir a área plantada.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA: Qual é o potencial do etanol brasileiro no mercado global?

BERNARDO GRADIN: Ele compete com o etanol de milho americano e com a resistência europeia ao etanol que, em tese, compete com a comida. A Europa lançou uma iniciativa impulsionando o etanol de segunda geração. No entanto, novas rotas tecnológicas – como a da célula sólida de combustível para a bioeletrificação dos transportes e o querosene de aviação verde ou SAF (Sustainable Aviation Fuel) produzido a partir do etanol – darão um novo impulso à produção do Brasil com potencial de dobrar a demanda até 2050.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA: Quais são as vantagens comparativas do Brasil na economia verde?

BERNARDO GRADIN: O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e o potencial para ser um dos poucos países a alcançar a neutralidade de emissão de carbono até 2050. O país pode se tornar o principal líder global da economia verde. No entanto, há um dever de casa importante a ser feito que inclui priorizar a inovação e novas tecnologias que acelerem a transição energética industrial, a integração do poderoso setor agropecuário na agenda ESG e a conservação produtiva da Amazônia.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA: Como a inovação proporciona uma economia com menos carbono?

BERNARDO GRADIN: A inovação é o meio necessário para a transição energética. A mudança climática provocada pelo homem é provada cientificamente e revertê-la urgentemente se tornou uma prioridade e responsabilidade da humanidade. Apenas uma agenda estruturada e ambiciosa, que estimule a inovação e a cooperação para substituir e compensar a utilização do carbono fóssil, reverterá o aquecimento global.

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