Emenda de Kigali: conheça as medidas para reduzir os HFCs, um dos gases de efeito estufa

CNI estima que a medida contribuirá para a qualificação de cerca de 80 mil microempreendedores individuais para trabalharem na modernização dos sistemas de climatização e refrigeração.

Vista aérea do cerrado, com árvores verdes e rio de cor escura no meio

No momento em que o Brasil enfrenta eventos climáticos extremos em várias regiões, com ondas de calor, secas e chuvas intensas, o governo federal, com apoio de vários setores, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), deu um passo importante para frear o aquecimento global: promulgou a adesão do país à Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, acordo internacional aprovado por mais de 100 países. Ele foi firmado com a publicação do Decreto 11.666, assinado pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.

A Emenda de Kigali prevê uma redução gradual da importação e do consumo dos gases dos hidrofluorcarbonos (HFCs), um dos principais gases de efeito estufa, usados em equipamentos como ares-condicionados e refrigeradores. O objetivo é reduzir a produção do gás em até 85% até 2045, substituindo-o por outros de menor potencial de aquecimento global (GWP).

Para se adequar à nova realidade, a medida libera acesso à indústria a cerca de US$ 100 milhões do Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal, criado para apoiar a redução da emissão de substâncias que provocam a erosão da camada de ozônio. Assim, o Brasil se comprometeu a congelar o consumo dos HFCs em 2024 e iniciar uma redução escalonada a partir de 2029, para, em 2045, atingir o consumo máximo de 20% em relação à linha de base. Atualmente, o país já eliminou 63% do consumo dessas substâncias.

Como a Emenda de Kigali vai impactar indústria e consumidores no Brasil

1. Qualificação profissional e competitividade: a CNI estima que a medida contribuirá para a qualificação de cerca de 80 mil microempreendedores individuais para trabalharem na modernização dos sistemas de climatização e refrigeração. Segundo o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, “a medida estimula a promoção de tecnologias mais avançadas em refrigeração e ar-condicionado, alinhando o mercado brasileiro às melhores práticas internacionais e tornando o país apto à competição no mercado externo”.

2. Aprimoramento tecnológico: o setor de refrigeração acredita que a implementação das medidas vai estimular uma corrida tecnológica. “Comercialmente, a entrada do Brasil neste acordo estimulará um avanço tecnológico para que cada planta instalada se ajuste à nova realidade”, avalia Thiago Pietrobon, presidente do Departamento Nacional de Meio Ambiente da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) e presidente da Câmara de Climatização e Refrigeração da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). 

3. Conta de luz mais barata: Thiago Pietrobon afirma que a Emenda vai promover benefícios também de eficiência energética. No caso do Brasil, estima-se que os novos equipamentos mais eficientes vão possibilitar uma economia de R$ 27 bilhões na conta de luz até 2035 e, considerando os R$ 30 bilhões que deixarão de ser gastos com a produção de energia elétrica, a economia deve chegar R$ 57 bilhões, de acordo com estudo do Instituto Clima e Sociedade (iCS), IEI Brasil, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Projeto Hospitais Saudáveis (PHS) e Clasp.

Como o setor de refrigeração está fazendo a transição para o novo modelo

O país deverá elaborar, entre janeiro de 2024 e junho de 2025, seu diagnóstico para uma transição planejada, de acordo com o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar do Estado de São Paulo (Sindratar-SP) e diretor de relações internacionais da Abrava, Samoel Vieira de Souza.

Porém, as indústrias já estão com o processo de transição em fase de implementação, segundo Souza. “Os sistemas automotivos e o de espumas já estão muito adiantados e nossos equipamentos de geração de frio e de movimentação de ar também”, detalha.

Além disso, ele assegura que boa parte dos novos equipamentos já estão operando com gases refrigerantes de baixo e médio potencial de aquecimento global, com alta eficiência energética e com sistemas de controles que já começam a utilizar a inteligência artificial para melhorar a performance do sistema como um todo. “Isto tudo vem sendo feito com recursos das próprias indústrias antes mesmo do início da obrigatoriedade do cumprimento das metas do acordo de Kigali”, destaca.

Souza afirma, porém, que sozinho o setor não tem um volume tão grande que possa resolver o problema do aquecimento global, “mas que trata-se de um grande player para o cumprimento dessas metas e estamos fazendo nossa parte”.

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