Natura pretende alcançar zero emissões líquidas de carbono até 2030, diz Tatiana Ponce

A chief marketing officer (CMO) e head de Inovação da Natura fala sobre a trajetória e as metas da companhia rumo a práticas cada vez mais sustentáveis

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"Inovação é um caminho imperativo para que sejamos capazes, como sociedade, de transitar para uma economia verde", diz Tatiana Ponce (Natura)

Embora já seja uma empresa carbono neutro desde 2007, compensando as emissões por meio de projetos socioambientais, a Natura pretende alcançar zero emissões líquidas de carbono até 2030, diz Tatiana Ponce, chief marketing officer (CMO) e head de Inovação da companhia. Uma empresa com zero emissões líquidas retira da atmosfera a mesma quantidade de gases de efeito estufa que emite. “Também assumimos a responsabilidade de coletar e dar a correta destinação para os nossos resíduos de embalagens que não tiverem uma infraestrutura de reciclagem estabelecida”, afirma. “Atualmente, 81% de todo o material de embalagens já são reutilizáveis, recicláveis e compostáveis. A meta, agora, é chegar a 100% até 2030”, diz ela.

Revista Indústria Brasileira - Por que as ecoinovações são peça fundamental na transição para uma economia de baixo carbono no Brasil?

TATIANA PONCE - O Brasil tem condições muito favoráveis a essa transição. As características de nossa matriz energética, a extensão de nossas florestas e a nossa biodiversidade nos dão capacidade de transitar para um cenário produtivo de baixo carbono a um custo menor do que o de outros países, além de gerarmos créditos de carbono de maneira mais competitiva. Pretendemos alcançar zero emissões líquidas de carbono até 2030. Em um mercado que se transforma para garantir longevidade sob os efeitos das mudanças climáticas, nossas vantagens comparativas devem ser aproveitadas ao máximo. Nesse sentido, inovação é um caminho imperativo para que sejamos capazes, como sociedade, de transitar para uma economia verde.

Revista Indústria Brasileira - A Natura é reconhecida no Brasil e no exterior como um exemplo de empresa sustentável. Como isso ocorreu?

TATIANA PONCE - No final dos anos 1990, a Natura tomou a decisão histórica de incorporar ingredientes da biodiversidade brasileira à fabricação de seus produtos. Em 2000, com o lançamento da linha Ekos, o uso sustentável da biodiversidade brasileira se tornou a principal plataforma de inovação. Em 2011, todas as iniciativas para transformar desafios socioambientais em oportunidades de negócio foram reunidas no Programa Natura Amazônia, que se baseia em três eixos principais: ciência, tecnologia e inovação, cadeias produtivas da sociobiodiversidade e fortalecimento institucional.

A motivação, tanto do ponto de vista social quanto do econômico e do ambiental, foi a busca pela inovação em tecnologias sustentáveis. Tendo a Amazônia brasileira como coração desse projeto, a Natura foi pioneira no desenvolvimento de um modelo de negócio baseado na sociobiodiversidade, que busca a valorização da economia da floresta em pé por meio da união entre ciência, natureza e conhecimento tradicional.

Revista Indústria Brasileira - Quais foram os marcos recentes mais importantes nesse processo?

TATIANA PONCE - Em 2014, decidimos inaugurar o Ecoparque, parque tecnológico e sustentável em Benevides (PA), para estarmos mais próximos das cadeias da sociobiodiversidade e para agregar valor social e econômico à região. Em 2018, nossa linha Ekos recebeu a Union for Ethical BioTrade (UEBT), que certifica o fornecimento ético dos bioativos com respeito à biodiversidade e às pessoas.

O lançamento em barra de produtos de beleza e cuidados pessoais, em 2021, é outro de nossos marcos em ecoinovação. O principal ingrediente dos produtos é o óleo de dendê produzido no SAF Dendê. As fórmulas são veganas e com até 99% de origem natural, alta sensorialidade e máximo desempenho. As embalagens são de origem reciclada e vegetal.

Revista Indústria Brasileira - Como o estímulo à ecoinovação ajuda a aumentar a produtividade?

TATIANA PONCE - Os resultados obtidos pela Natura, em sua trajetória, mostram o quanto a ecoinovação é benéfica para o aumento da produtividade. O pioneirismo em sustentabilidade, que começou numa época em que o tema ainda era bastante incipiente no mercado, criou um diferencial competitivo muito importante para a marca. Agora tão populares, os princípios ESG (sigla em inglês para práticas ambientais, sociais e de governança) orientam nossa atuação e nossas decisões estratégicas de negócio desde a fundação da Natura. Essa não é uma escolha fácil, mas a nossa jornada comprova que é possível.

Revista Indústria Brasileira - Que resultados a empresa tem conseguido nesse processo?

TATIANA PONCE - Hoje, a Natura entrega exclusividade e inovação sustentável graças à combinação entre o poder da natureza e o estado da arte da ciência em mais de 1.175 produtos e uma média de 1.500 fórmulas por ano. Cerca de 260 pesquisadores e cientistas estão envolvidos nesse processo de inovação, sendo que 73% das cientistas são mulheres. Vale destacar que, em 2022, foram investidos R$ 341,8 milhões em pesquisa e desenvolvimento (P&D), sendo R$ 297 milhões em inovação e R$ 44,8 milhões em desenvolvimento de soluções sustentáveis.

Revista Indústria Brasileira - E para o futuro, o que está planejado?

TATIANA PONCE - A inovação é um importante vetor para a empresa. Hoje, nosso portfólio de produtos é 95% vegano. Traçamos como meta aumentar para 95% a biodegradabilidade dos ingredientes nas fórmulas até 2030 – marca que ultrapassamos em 2022, ao atingir o índice de 96,5% na biodegradabilidade de produtos enxaguáveis. Também assumimos a responsabilidade de coletar e dar a correta destinação para os nossos resíduos de embalagens que não tiverem uma infraestrutura de reciclagem estabelecida. Atualmente, 81% de todo o material de embalagens já são reutilizáveis, recicláveis e compostáveis. A meta, agora, é chegar a 100% até 2030.

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