A era das moléculas: o hidrogênio verde como motor da descarbonização

Painel da Vale no estande da CNI, na COP29, debateu a importância do desenvolvimento da tecnologia para o abatimento das emissões dos setores que mais consomem energia

Presente em abundância no planeta, o hidrogênio é um elemento encontrado em compostos moleculares, como na água (H2O) e em hidrocarbonetos (o metano, CH4, por exemplo). Por não produzir dióxido de carbono (CO2) em sua produção e queima, o hidrogênio verde (H2 verde) surgiu como uma alternativa para a descarbonização da indústria. 

O chamado “combustível do futuro” foi o tema do painel da Vale, no estande da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na 29ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP29, nesta quarta-feira (13). 

Em outubro deste ano, a Vale anunciou uma parceria com a Green Energy Park (GEP), empresa europeia, para o desenvolvimento de estudos para a instalação de uma unidade de produção de hidrogênio verde no Brasil. A ideia é que essa unidade abasteça um futuro Mega Hub – complexo industrial destinado à fabricação de produtos siderúrgicos de baixo carbono – no país.

H2 verde: o novo diesel?

Para Bart Biebyck, CEO da Green Energy Park, o mundo que, por muitas décadas, fez dos combustíveis fósseis a base da economia, viverá, agora, a era das moléculas. Nas discussões do painel, ele afirmou que o H2 verde tem potencial para ser o “novo diesel”. Já a eletrificação assumirá o papel da gasolina. 

No entanto, ele argumentou que esse movimento ocorrerá apenas quando houver escalabilidade da tecnologia e, para isso, as empresas precisam assumir os riscos dos projetos. 

“Confiança é tudo nesse processo de descarbonização da indústria. Os projetos de hidrogênio verde ainda não ganharam escala porque ninguém quer assumir o risco. É preciso que pesquisa, empresas, governos e investidores trabalhem juntos, nos níveis nacional e internacional”, apontou Biebyck. 

Ludmila Nascimento, diretora de Energia e Descarbonização da Vale, explicou que o objetivo da empresa é produzir aglomerados de minério de ferro (pelotas ou briquetes), que servirão como insumo para a produção de HBI (um produto intermediário entre o minério de ferro e o aço) com hidrogênio verde como agente redutor. 

A tecnologia de produção de HBI verde envolve o uso do H2 verde, obtido por meio da eletrólise da água a partir da eletricidade vinda de fontes como solar e eólica, ao invés do gás natural e do carvão, tradicionalmente usados no processo. A ideia é que essa commodity verde produzida no Brasil seja adquirida por empresas siderúrgicas de todo o mundo, que buscam um aço com menor pegada de carbono.

“Com o desenvolvimento desse hub, esperamos também colaborar em outros elos da cadeia de valor do hidrogênio. Por exemplo, as indústrias de fertilizantes que podem produzir amônia a partir do hidrogênio verde”, apontou Ludmila.

Qual o limite de emissão para classificar o hidrogênio como verde?

Em julho, o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei do hidrogênio verde. A proposta estabeleceu até R$18 bilhões de incentivos fiscais e o limite de 7 kg de CO2 para cada 1 kg de H2, para o que é considerado como H2 verde. 

“A aprovação desse marco legal foi mais um passo importante na corrida pela descarbonização. Temos grande potencial de energias verdes para diminuir a pegada de carbono da indústria e para agregar valor à nossa manufatura”, afirmou o superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo.

Os critérios para hidrogênio sustentável variam ao redor do mundo:

  • União Europeia classifica como hidrogênio verde aquele com produção de menos de 4,4 kg de CO2 para cada 1 kg de H2
  • Na Alemanha, o limite é de 2,8 kg de CO2
  • A China classifica como renovável a produção que não ultrapassa os 4,9 kg de CO2
  • Os Estados Unidos usam o limite de 2 kg

O CEO da Green Energy Park, Bart Biebyck, disse que as diferentes classificações prejudicam o avanço do desenvolvimento de tecnologia e defendeu que haja uma unificação dos índices.

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