CNI defende integração entre Mercosul e Aliança do Pacífico para recuperar negócios

Brasil perdeu participação em 19 de 25 setores nos países do bloco formado por Chile, Colômbia, Peru e México na última década. Aproximação e livre comércio entre os dois blocos vão ampliar comércio, investimentos e a presença da América Latina no mercado internacional

O vice-presidente da CNI Paulo Tigre afirmou que considera como prioritário o avanço das relações entre os dois blocos principalmente por meio de acordos comerciais

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) calcula que 19 dos 25 principais setores industriais exportadores perderam participação na Aliança do Pacífico em dez anos. O setor aeronáutico, por exemplo, que tinha 6,3% do mercado em 2008, passou a ter apenas 0,8% no ano passado. Nesse período, as economias do bloco, formado por Chile, Colômbia, Peru e México, importaram mais da China, Estados Unidos e União Europeia. 

Durante o seminário Mercosul-Aliança do Pacífico: reforçando os vetores da integração, no Itamaraty, nesta terça-feira (5), o vice-presidente da CNI, Paulo Tigre, defendeu a definição de uma agenda viável para acelerar a aproximação da Aliança do Pacífico com o Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

“Para que os países do Mercosul e da Aliança do Pacífico não fiquem em desvantagem com concorrentes em seus mercados, é preciso que os governos entrem em entendimento sobre uma agenda robusta de aprofundamento dos acordos entre os dois blocos. Entre os temas a serem explorados, destacamos acordos em barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias, facilitação de comércio, coerência regulatória e acumulação de origem”, disse Paulo Tigre. 

O vice-presidente da CNI afirmou que considera como prioritário o avanço das relações entre os dois blocos principalmente por meio de acordos comerciais. Para Tigre, há um momento de maior alinhamento entre os governos e os setores privados dos oito países favorecendo um salto nessas relações.

DIPLOMACIA – O ministro-interino das Relações Exteriores, José Antônio Marcondes de Carvalho, lembrou que os dois blocos assinaram no ano passado a Hoja de Ruta, o chamado Mapa do Caminho em português, com diretrizes para acelerar a agenda de integração.

Segundo ele, os países já formam praticamente uma área de livre comércio, com baixas tarifas – a exceção fica para a relação entre Brasil e México – e garantiu que a forma de transformar as intenções em negócios é avançar na facilitação de comércio. “A agenda de facilitação poderá produzir resultados palpáveis em menor prazo, pois temos compromisso com Organização Mundial do Comércio”, disse.

Para o ministro, a aproximação entre os dois blocos é parte importante da inserção do Brasil no mercado internacional e faz parte da estratégia de competição na América Latina. “Responde ao contexto internacional de fragmentação e protecionismo e impasse vivido pelo multilateralismo”, alertou. 

“O Mercosul tem muito a aprender com os países da Aliança do Pacífico", disse o senador Armando Monteiro

GOVERNO E LEGISLATIVO Segundo o senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE), a aproximação entre os blocos pode potencializar o comério intrarregional e tornar a América Latina como um todo mais atrativa para o investimento externo. “O Mercosul tem muito a aprender com os países da Aliança do Pacífico, que convivem com maior abertura comercial, pragmatismo político de que a agenda de negócios deve ser preponderante e maior dinamismo do comércio”, alertou. 

A defesa do senador ecoou entre o representante da presidência pro tempore do Mercosul, o ministro paraguaio Juan Ángel Delgadillo, o vice-ministro de comércio do Ministério de Comércio Exterior e Turismo do Peru, Edgar Vásquez, e o secretário de Comércio Exterior e Serviços do Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil (MDIC), Abrão Neto. 

Há um certo consenso entre os governos e a iniciativa privada de que a agenda de facilitação de comércio. Essa agenda inclui a integração entre o Portal Único de Comércio Exterior e as Janelas Únicas dos outros sete países, para reduzir burocracia, custo de operação e prazos para se exportar e importar. “É uma agenda estratégica porque o Brasil está fazendo o movimento interno, mas é preciso que nossas ações se comuniquem com os nossos parceiros”, explicou Abrão Neto.

BID – O especialista principal e coordenador de Instrumentos Regionais de Integração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Joaquim Tres, disse que acompanha diretamente os movimentos protecionistas dos Estados Unidos. Segundo ele, a integração entre Mercosul e Aliança do Pacífico seria uma opção na contramão do protecionismo, com benefícios imediados na ampliação do comércio e dos investimentos entre os países do bloco. Tres lembra que o Mercosul não participa das cadeias globais de valor e o comércio entre as economias da América Latina não corresponde a um quinto dos bens intermediários que circulam pelo mundo. 

Para acelerar a integração, Tres sugere a convergência regulatória entre os programas de Operador Econômico Autorizado (OEA) – que facilita a importação e exportação de empresas e intervenientes do comércio exterior certificados como sendo de baixo risco tanto em segurança física da carga quanto em cumprimento das obrigações aduaneiras – a expansão do Ceriticado de Origem Digital e a interoperabilidade dos programas Portal Único nos oitos países. “Para nós, a vontade política que nos troxe a esse seminário é a concretização da Hoja de Routa”, disse.  

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