Brasil precisa reformar política comercial para ganhar mercados e ampliar exportações, diz CNI

Para Soraya Rosar, gerente executiva de Negociações Internacionais, estruturas brasileiras não acompanharam velocidade das transformações na economia

“Os adidos de indústria, a exemplo dos adidos agrícolas, podem fazer diferença na abertura de mercado" - Soraya Rosar

O momento econômico exige uma nova política comercial, em todos os seus aspectos, internos, de relacionamento externo e de integração regional, principalmente diante da queda das exportações e da pequena participação do Brasil no comércio global. Essa foi a conclusão do primeiro painel do 2º Seminário sobre Comércio Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Brasileiro de Estudo de Concorrência (IBRAC), em Brasília, nesta quarta-feira (12), com participação do governo, empresários e especialistas.

Diante dessa necessidade, a CNI propõe a reforma das instituições ligadas ao comercio exterior. Segundo a gerente executiva de Negociações Internacionais, Soraya Rosar, a economia mudou rapidamente e as estruturas brasileiras não acompanharam a rapidez dessas mudanças. “Precisamos em especial do fortalecimento e da revitalização da CAMEX, que ela volte a ser um órgão da presidência da República e seja composta apenas por ministérios com ação direta de comércio exterior, sem necessidade de decisão por consenso”, diz. Opinião divergente do secretário executivo da CAMEX, André Alvim. Ouça clicando aqui.

A CNI também defende a criação de varas especializadas em comércio exterior na Justiça comum e a criação dos adidos de indústria e comércio, por entender que é importante ter especialistas dando suporte aos diplomatas no exterior. “Os adidos de indústria, a exemplo dos adidos agrícolas, podem fazer diferença na abertura de mercado e levantamento de barreiras técnicas e não tarifárias”, explica Soraya.

GOVERNO – O secretário executivo da CAMEX, André Alvim, explica que da mesma forma que ocorreu em 2011, com a revisão da política comercial brasileira, a partir da formação da nova equipe da presidente Dilma é possível pensar numa nova política. No entanto, diz, o grande desafio é conseguir conciliar política econômica, comercial e industrial, pois, em 2015, o debate principal estará concentrado no controle de inflação, superávit primário e crescimento do PIB. “Também teremos integração comercial na pauta, inserção nas cadeias de valor e adensamento de cadeias regionais. O que devemos buscar é o equilíbrio entre a abertura de mercado e a proteção necessária”, afirma.

MUDANÇA DE RUMO –  O diretor da CHDR Consultoria, embaixador Clodoaldo Hugueney, avalia que a agenda internacional mudou e o Brasil ficou para trás. Segundo ele, na atual circunstância, a política comercial brasileira é contrária às negociações internacionais, tanto pela preocupação defensiva como pela defesa das margens de preferência do Mercosul e da visualização de que qualquer negociação externa vai debilitar o Mercosul e será desfavorável ao Brasil. “Nessas  circunstâncias é impossível conduzir uma agenda de negociação externa”, diz. Ouça clicando aqui.

O sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, Weber Barros, ressalta que a falta de negociações do Brasil com outros países foi agravada pelo avanço dos acordos do Transatlântico (entre Estados Unidos e União Europeia) e  do Transpacífico (Estados Unidos e outros 12 países ). “Nossa estratégia é a do Tatu Bola, a gente espera que o acordo dos outros não dêem certo, porque não temos estratégia, estamos fora das cadeias globais de valor e com pouca preocupação com o setor de serviços, que realmente agrega valor às manufaturas”, diz Barral. E acrescenta: “A grande verdade é que não temos um projeto para o Mercosul. Não há ninguém que saiba o que fazer com Mercosul. Não sabemos como evoluir, não há uma proposta concreta e o retrocesso a uma zona de livre comércio teria um custo político muito alto”.

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