Geração de energia pode ser 3 vezes maior que consumo em 2029, diz especialista

Nelson Fonseca avalia que desequilíbrio no setor elétrico brasileiro pode fazer com que haja excesso de geração. Para ele, solução será exportar hidrogênio verde. Tema foi debatido na reunião do Coinfra

O especialista em energia Nelson Fonseca alertou nesta quarta-feira (28), durante reunião do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que o desequilíbrio no atual modelo do setor elétrico brasileiro poderá acarretar numa sobreoferta de energia. “A perspectiva é de excesso de geração. Se fala que em 2029 teremos geração três vezes maior que o consumo”, afirmou.

Ex-presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Fonseca avalia que, em alinhamento com a transição energética, o país terá grande oportunidade de exportar hidrogênio verde, a partir da sobra de energia. “Poderíamos exportar hidrogênio verde. O Brasil tem uma vocação enorme para isso, pois há um excedente de energia – não há como armazenar energia eólica e solar. Trata-se de uma grande oportunidade de negócio, mas temos que nos preparar bem antes”, destacou o especialista.

Fonseca mencionou que o atual modelo tem prejudicado os consumidores cativos de energia, que pagam tarifas cada vez mais caras da conta de luz. Ele defendeu a aprovação do Projeto de Lei 414/2021, que trata da modernização do setor, e propôs que todos os players – geradores, distribuidores e consumidores – entrem em acordo, renunciando a algumas vantagens, em busca de um novo modelo que promova mais segurança energética e preços mais justos. Para isso, citou que é preciso encontrar uma solução para reduzir encargos e subsídios embutidos nas tarifas de energia.

Alternativa passa por congruência setorial 

Para o economista Cláudio Frischtak, sócio da Inter B Consultoria, a alternativa para um setor elétrico mais sustentável passa por uma congruência setorial que busque “um bem maior, com todos abrindo mão um pouco de seus interesses”. 

Essa também é a visão de Edvaldo Santana, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para quem a principal fonte de ineficiência do setor elétrico brasileiro é a sua estrutura de governança. “É preciso fazer um acordo como foi feito em 2002, depois do racionamento. Seria um acordo em que muita gente vai perder, mas que adequaria o setor”, disse.

O diretor de Energia Elétrica da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Victor Iocca, demonstrou preocupação em relação à modernização do setor. “Viemos discutindo a modernização do setor elétrico há mais de 6 anos, mas não conseguimos avançar. Regredimos no mercado de energia elétrica, que está se deteriorando. Em algum momento vamos passar por uma nova ruptura”, enfatizou. “A questão dos encargos setoriais é o grande ponto da distorção do preço da energia. Nós da indústria precisamos nos unir para evitar a expansão e ou a criação de novos encargos suportados pela tarifa de energia”, acrescentou Iocca.

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