Russos recebem do SENAI treinamento que garantiu ao Brasil ser campeão em torneio internacional de profissões técnicas

Grupo de 34 estudantes e instrutores esteve no Brasil, durante um mês, em intensa preparação técnica, física e comportamental; pela primeira vez, instituição transmite a estrangeiros método da vitória brasileira em 2015

Anna Belikova, técnica em Design Gráfico

Maior conhecimento técnico e lembranças inesquecíveis da convivência com os brasileiros e da cultura do Brasil. É a bagagem que um grupo de 34 competidores e instrutores leva de volta para casa após participar, durante quatro semanas, de preparação em centros de treinamento do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Os russos se preparam para tentar competir na WorldSkills, o maior torneio internacional de profissões técnicas, que ocorrerá em outubro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. O SENAI foi contratado pela Rússia para treinar sua delegação após a equipe brasileira ser a grande campeã, entre 59 países, na última edição em 2015.

Vitaly Kovor, 22 anos, de São Petersburgo, treinou em Brasília para tentar conseguir uma vaga na ocupação Web Design. Nas últimas semanas, ele recebeu preparação de instrutores do SENAI e de campeões mundiais da área, como Giovanni Kenji Shiroma, medalha de ouro em Web Design na WorldSkills 2015, que ocorreu em São Paulo. Para ele, a melhor parte da experiência foi receber orientação de um campeão mundial. "É muito interessante ver como os campeões do mundo são treinados. É uma oportunidade rara. Faz acreditar que é possível alcançar meus objetivos e um dia chegar ao nível do Kenji”, contou.

A preparação da delegação russa para a WorldSkills é feita em três etapas. Em novembro do ano passado, o SENAI enviou sete consultores à Rússia para fazer o diagnóstico da infraestrutura existente e das competências técnicas dos treinadores e dos competidores. Neste ano, de 13 de março a 7 de abril, o grupo passou por treinamento em seis centros de referência da instituição: em Bauru (SP), Brasília, São Paulo, Joinville (SC), Caxias (RS) e Guaporé (RS). Em seguida, os consultores do SENAI retornarão à Rússia para mais três semanas de preparação técnica, comportamental e física. No país, outros três integrantes da delegação serão treinados, completando um grupo de 37 pessoas. A preparação envolve competidores e instrutores de sete ocupações: Mecatrônica, Eletrônica, Web Design, Design Gráfico, Joalheria, Manufatura Integrada e Tecnologia da Moda.

O objetivo da delegação russa é melhorar posições no ranking da WorldSkills em Abu Dhabi. No último torneio, a Rússia não conseguiu nenhuma medalha. Mas o grande objetivo é repetir o feito da delegação do Brasil, treinada pelo SENAI, de ser campeã em casa na próxima edição. Em 2019, a competição ocorrerá na Rússia, na cidade de Kazan.

CULTURA – Formada no curso Técnico de Design Gráfico, Anna Belikova, de 21 anos, moradora de Moscou, participou do treinamento em Bauru, na escola que produziu o primeiro medalhista de ouro do Brasil na WorldSkills (Anderson Scarlassara, na ocupação Tornearia, em 1995). Filha única de uma cozinheira, Anna esteve pela primeira vez no Brasil. Além do treinamento, ela elogiou o clima e as pessoas com as quais teve contato no país. “Gostei do clima quente, do ambiente agradável e das pessoas, que são abertas, divertidas, alegres, muito comunicativas”, destacou a jovem. O operador de rádio Maxim Kadnikov, 22 anos, da cidade de Ekaterinburgo, formado no curso Técnico de Eletrônica, também adorou as frutas brasileiras. “Na Rússia não temos as frutas com a variedade e a qualidade que existem no Brasil. Gostei do mamão papaya”, destacou. Em Bauru, dez russos foram treinados nas ocupações de Design Gráfico e Eletrônica.

O treinamento oferecido aos russos pelo SENAI é semelhante ao feito com os estudantes brasileiros, mas adequado às peculiaridades de cada competidor. Tecnicamente, a equipe russa está em patamar distante dos brasileiros. “O competidor brasileiro de Web Design está, por exemplo, em um nível de programação avançado. Já os russos ainda precisam de uma base de conhecimentos técnicos nessa área”, explica o supervisor de Web Design do SENAI, Marcelo Strehl. “Eles têm uma base de design adequada, mas não entendem muito do processo gráfico e isso faz com que eles sejam penalizados com pontos até fáceis de conseguir na prova”, completa Carla de Bona, medalha de prata em Design Gráfico na WorldSkills em 2007, que também capacita a delegação russa.

A preparação inclui ainda organização de uma rotina de treinos, deficiente na equipe russa, aspectos psicológicos e comportamentais, exercícios físicos e até atividades para estreitar o relacionamento entre competidores e instrutores. “Por uma questão cultural, o instrutor russo é distante do competidor, eles interagem pouco. Fizemos questão de aproximá-los porque uma equipe unida faz muita diferença para o resultado”, explicou Danilo Shimoda, responsável pela preparação comportamental na unidade de Bauru e pela realização de eventos sociais com o grupo. Arthur Zuliani de Oliveira, responsável pelo treinamento da equipe de Eletrônica, destacou a necessidade da repetição das provas. “Enfatizamos muito a importância de uma rotina diária e intensa de treinamento e da repetição exaustiva. Na Rússia, eles treinam de uma maneira mais informal, alguns até em casa”, conta.

Em Brasília, Konstantin Larin, 21 anos, morador da cidade de Chelyabinsk, na região dos Montes Urais, passou por uma rígida rotina de treinos, que começava às 6h45, com uma hora de exercícios físicos, e se estendia todos os dias até 17h, algumas vezes inclusive nos finais de semana. Filho de um operário de fábrica, Konstantin se prepara para tentar conseguir uma vaga na ocupação Web Design.  Para ele, a maior vantagem do treinamento oferecido pelo SENAI é o fato de ser personalizada. "O melhor do treinamento é que é único, feito exclusivamente para nós, e é preparado pelos campeões, pelos melhores do mundo. Achei também a estrutura muito confortável, tudo muito bem organizado".

RECONHECIMENTO – A contratação para treinar a delegação russa é um reconhecimento da qualidade da formação profissional oferecida pelo SENAI, avalia o gerente-executivo de Relações Internacionais da instituição, Frederico Lamego. Com a experiência, destaca ele, o SENAI se firma como instituição de excelência em transferência de tecnologia ao exterior no ramo de competições internacionais e se prepara para atender mais países e modalidades para a competição em Kazan, em 2019.

“Nós temos muito orgulho de ter firmado esse projeto com a WorldSkills Rússia, que pesquisou no mundo modelos de referência de educação profissional e veio até o SENAI para organizar todo um programa de capacitação de professores e de competidores”, explica Lamego. “É uma prova de todo o reconhecimento internacional que o SENAI tem recebido ao longo dos últimos anos, em especial o resultado que alcançamos na WorldSkills São Paulo e a avaliação das Nações Unidas, que reconheceram o modelo oferecido pelo SENAI como de excelência”, complementa.

A WorldSkills é a maior competição de educação profissional do mundo, realizada em um país diferente a cada dois anos. É organizada pela WorldSkills International, entidade que trabalha desde 1950 em prol do desenvolvimento e da excelência das ocupações técnicas. O torneio reúne competidores de países e regiões das Américas, Europa, Ásia, África e Pacífico Sul. Em 2015, a competição em São Paulo reuniu 1.190 competidores de 59 países.

Os competidores são estudantes de cursos técnicos e jovens profissionais de até 22 anos de idade no ano em que se realiza a competição. Para conquistar a vaga no torneio, eles participam de seletivas em seus países e, se alcançarem os índices técnicos internacionais, garantem o lugar. Cada uma das modalidades tem a participação de apenas um representante de cada país, seja uma pessoa ou uma equipe. Durante a competição, eles devem completar os desafios propostos pela organização dentro de padrões internacionais de qualidade, demonstrando habilidades individuais e coletivas em profissões técnicas da indústria e do setor de serviços. Há provas em áreas que vão desde a automação industrial, passando pela eletrônica e eletricidade até cozinha e confeitaria.

A WorldSkills e a Olimpíada do Conhecimento, a maior competição nacional de educação profissional, integram o sistema de avaliação dos cursos do SENAI. As provas aplicadas nas duas competições têm como base as qualificações exigidas pelo mercado de trabalho e as atualizações tecnológicas que estão chegando às empresas. O desempenho dos alunos nas competições forma um conjunto de indicadores que ajuda o SENAI a avaliar a qualidade da educação profissional e a atualizar os currículos das suas escolas. A última Olimpíada do Conhecimento ocorreu em Brasília, de 10 a 13 de novembro, recebeu 118.754 visitantes em um espaço de 50 mil m², construído na área externa do Ginásio Nilson Nelson.

SAIBA MAIS
Mais informações sobre a consultoria prestada pelo SENAI podem ser obtidas no canal de Atuação Internacional

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