Programar o futuro

Entre robôs e a busca de soluções para os mais variados problemas da sociedade, alunos da educação básica impulsionam sua formação escolar e pessoal com nova metodologia

Estudantes de todo o planeta estão, neste momento, empenhados na construção de soluções para aspectos relacionados à arquitetura, infraestrutura e sustentabilidade das cidades do futuro. Ao contrário do que possa parecer, o esforço não está relacionado a projetos de disciplinas como ciências ou geografia, mas à robótica.

Esse é o desafio da temporada 2019-2020 proposto pela For Inspiration & Recognition of Science & Technology (First), comunidade de robótica que realiza alguns dos principais torneios da área em todo o mundo em parceria com o Grupo Lego. Dean Kamen, fundador da First e grande entusiasta do potencial da robótica, é enfático ao defender que "os robôs são veículos para que os alunos possam aprender importantes habilidades para a vida".

A dificuldade de se perceber, logo de início, que um projeto voltado à busca de soluções para problemas sociais ou ambientais esteja relacionado à robótica consiste no grande trunfo dessa área multidisciplinar. É ela que permite a utilização da robótica como instrumento facilitador para a formação de cidadãos e profissionais conectados com as competências e habilidades necessárias para atuar em uma sociedade que passa pela quarta revolução industrial.

Nas escolas - O ensino de robótica tem ganho expressão no país, embora não seja efetivamente uma novidade. Escolas públicas e particulares têm investido na oferta da robótica, em muitos casos de forma integrada à filosofia STEAM (acrônimo para Ciências, Tecnologias, Engenharia, Artes e Matemática), fundamentada na interdisciplinaridade do conteúdo e na aplicação prática do conhecimento.

Essa jornada tem resultado em prêmios e reconhecimentos, como a indicação da professora brasileira Débora Garofalo ao Global Teacher Prize 2019, considerado o "Nobel da Educação", pelo projeto "Robótica com sucata". Desenvolvida junto aos alunos de uma escola pública da periferia de São Paulo, a iniciativa retira do lixo a matéria-prima necessária para a realização dos projetos de robótica e já criou protótipos que vão desde um carrinho movido a bexiga até um aspirador de pó.

Para além do impacto ambiental da iniciativa, que totaliza uma tonelada de lixo retirado das ruas da capital paulista, e da transformação promovida nas vidas dos alunos, o reconhecimento obtido pelo projeto também resulta da sua simplicidade e capacidade de replicação. "Quando cheguei à escola, em 2015, me deparei com crianças que viviam em situação de grande vulnerabilidade social. Enxerguei na tecnologia uma oportunidade para mudar a vida delas. Diante da falta de recursos para trabalhar com oficinas de robótica, só me restava lamentar ou trabalhar com o lixo como meio para transformar o ensino. Fiz a segunda opção", conta a professora.

Entre os resultados, Débora pontua o protagonismo desenvolvido pelos estudantes, a percepção da escola com outro olhar, a compreensão sobre a "utilidade" das disciplinas e a contextualização do aprendizado na vida deles. "Também percebi avanço em relação à redução da evasão escolar e do trabalho infantil e melhoria da nota da escola no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)", comemora.

Em maior escala, em 2014, o Serviço Social da Indústria (SESI) implementou a filosofia STEAM e a robótica para todas as suas turmas do 3o ano do ensino fundamental até o 3o ano do ensino médio. De forma inovadora, a robótica entrou no currículo como elemento transversal a todos os conteúdos trabalhados, e não como uma disciplina específica. Assim, "para construir o seu projeto, o estudante precisa recorrer aos conhecimentos adquiridos de forma complementar em todas as disciplinas", explica Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diretor-superintendente do SESI.

A entidade tem apostado na robótica para desenvolver competências como empreendedorismo, raciocínio crítico, empatia e trabalho em equipe. "No começo, achávamos que o desenvolvimento do aluno seria, fundamentalmente, nas áreas de matemática e ciências, mas o que temos visto é que a filosofia STEAM e a robótica estão contribuindo para a formação deles enquanto seres humanos", comemora Lucchesi.

Com tantas habilidades sendo trabalhadas de forma simultânea, a expectativa é que as novas diretrizes curriculares, voltadas para o "aprender fazendo", fortaleçam o desenvolvimento de projetos de robótica em todo o país. "Acreditamos na educação por competências e habilidades como instrumento essencial na construção de uma nação mais educada e preparada para os desafios impostos pelos paradigmas do Século XXI", diz Lucchesi.

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