Estudantes criam soluções para problemas relacionados à água

Quase 800 estudantes participam do Torneio Nacional de Robótica, em Curitiba, e apresentam ideias para melhorar o consumo, reúso e até impedir contaminação por agrotóxicos de forma simples e econômica

Neste domingo (18) começa, em Brasília, o Fórum Mundial da Água. No evento, líderes mundiais vão discutir soluções inovadoras para facilitar a conservação, proteção, gestão e uso eficiente da água. Enquanto isso, em Curitiba, desde sexta-feira (16), até domingo (18), cerca de 800 crianças e adolescentes de 9 a 16 anos de 20 estados brasileiros apresentam os projetos inovadores que eles mesmos desenvolveram sobre água no Torneio Nacional de Robótica FIRST LEGO League, organizado pelo Serviço Social da Indústria (SESI).

O desafio Hydro Dynamics é o tema desta temporada da competição que mobilizou, ao todo, considerando as etapas regionais do torneio, mais de 5 mil alunos e técnicos em todo o país.

Uma preocupação comum da maioria dos estudantes é sobre o uso sustentável da água, abordando o reúso a partir do consumo do aparelho de ar-condicionado e no dia a dia com torneiras, chuveiro e máquinas de lavar roupa dentro de casa. Outras equipes se voltaram a questões sociais aliadas a diferentes setores econômicos. Com ideias inovadoras, os jovens mostram que é possível, sim, repensar a forma como lidamos com o nosso líquido mais precioso.

Mistura de agrotóxico com pó de casca de banana impede poluição da água

CASCA DE BANANA PROTEGE LENÇOL FREÁTICO – A equipe da escola SESI de São João Del Rei (MG), a Atombot, decidiu focar na agricultura, tão presente na região mineira. Responsável por cerca de 70% do consumo de água no Brasil, ela utiliza muitos agrotóxicos, que são uma das principais fontes de contaminação dos lençóis freáticos, afetando rios e matas ciliares.

A partir disso, e tendo como fonte pesquisas realizadas na Universidade de São Paulo (USP), os jovens descobriram que seria possível neutralizar a ação poluente de um determinado tipo de agrotóxico utilizando pó de casca de banana. A inovação da equipe mineira está na forma: em vez de usar o pó para descontaminar áreas poluídas, como já havia sido pensado por outros pesquisadores, a ideia foi misturar o agrotóxico ao pó da casca da banana antes de aplicar na plantação, impedindo o início do problema.

“Com o uso da banana, o agrotóxico Gramoxone 200 só perde o efeito poluente, mas continua agindo como herbicida”, conta Filipe de Azevedo Toledo, 15 anos, estudante do 1º ano do ensino médio.

Para testar a eficácia da misutra, denominada Aquanana, eles pediram ajuda do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), em Belo Horizonte. Depois de comprovar o sucesso da solução, os jovens foram além: procuraram agricultores da região que, por sua vez, se comprometeram por escrito a utilizar a mistura do agrotóxico com o pó da casca de banana. 

“Também procuramos um supermercado da cidade, que vai separar e fornecer gratuitamente as cascas de banana para os agricultores, que podem produzir, assim, a quantidade do pó que forem utilizar”, explica Luísa Cunha, 15 anos, também aluna do SESI de São João Del Rei.

Comerciantes de açaí do Amapá poderão reaproveitar a água utilizada no processo que torna o fruto próprio para consumo

ÁGUA LIMPA PELO CAROÇO DE AÇAÍ  – Da escola SESI de Macapá, a equipe Marco Zero Robot também buscou algo que impactasse a realidade local. O açaí, fruto típico no estado, precisa passar por enxágue, lavagem e amolecimento antes de ser consumido. Nesse processo, são utilizados, em média, 60 litros de água por saca do produto.

“Há vários lugares com amassadeiras de açaí na cidade. Descobrimos que esses comerciantes gastam cerca de R$ 240 por mês apenas com conta de água. Foi aí que tivemos a ideia de criar um filtro, para que eles possam reaproveitar essa água”, destaca Juliana Isackson, 16 anos.

O grande diferencial do filtro é a matéria-prima utilizada pelos alunos da região Norte: o próprio caroço do açaí. “Ele tem elementos físicos e químicos propícios para fazer a purificação da água. Nosso filtro é composto por sete camadas, sendo que apenas uma delas não é do caroço, é de algodão”, completa Juliana.

Para fazer um filtro num galão de 20 litros de água, os alunos gastaram R$ 842. “Em apenas quatro meses os comerciantes terão retorno financeiro utilizando o filtro. Enviamos a água filtrada para o Laboratório Central da cidade que fez um laudo atestando que a água é limpa e pode ser usada para lavar o estabelecimento, por exemplo”. Eles ainda aguardam o laudo para saber de a água também é própria para consumo.

O filtro criado utiliza materiais típicos do Maranhão: bagaço da cana-de-açúcar, buriti e carvão vegetal feito do coco babaçu

FILTRO CASEIRO MARANHENSE – Em São Luís, a equipe Iron League desenvolveu um filtro caseiro a custo zero, pensando em resolver os problemas da população ribeirinha do Maranhão.

“Já existem filtros industriais, gravitacionais, como os de barro, mas todos têm necessidade de manutenção, encanamento, etc. O filtro que criamos utiliza materiais da nossa região: o bagaço da cana-de-açúcar, o buriti e o carvão vegetal feito do coco babaçu”, explica Davi Raft, 16 anos, aluno do 2º ano do SESI. Cada produto faz parte de uma camada do filtro que, para efeito de testes, foi montado dentro de uma garrafa pet.

Para isso, os meninos contaram com o apoio de professores de Biologia, Química e Física da escola. “Fizemos análises microbiológicas da água filtrada na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e constatamos que ela é potável. Para montar um filtro numa garrafa pet, por exemplo, a pessoa precisa de apenas 15 minutos”, diz Matheus Gomes, 16 anos, ressaltando a praticidade do invento.

Agora, os jovens pretendem repassar a ideia para secretarias municipais de saúde e líderes comunitários com o intuito de ajudar a população que, muitas vezes, não tem dinheiro para comprar um filtro.

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