Em busca de uma melhor colocação no mercado de trabalho brasileiro, um grupo de refugiados do Haiti, que deixou a terra natal depois que um terremoto destruiu parte do país em 2010, chegou a Mato Grosso do Sul em meados de 2014. Agora, graças a uma parceria entre a Escola SENAI da Construção e a construtora Plaenge, estão próximos de conquistar o tão sonhado emprego formal. Esses haitianos serão incorporados no quadro de funcionários da Plaenge após concluírem o curso de fundamentos de pintura imobiliária oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
A primera turma deve encerrar o curso nesta quarta-feira (14). A Plaenge já solicitou à Escola SENAI de Construção a abertura de outras duas turmas, com 25 alunos cada, e cujas aulas deverão ser encerradas até maio deste ano.“A maioria dos haitianos que vieram para Mato Grosso do Sul fica em Campo Grande à procura de emprego, mas a falta de qualificação profissional e de domínio do idioma dificulta o acesso ao mercado de trabalho. Por isso, o grande impasse é realmente não ter a prática do trabalho e eles têm de ser preparados. É nessa parte que a Escola SENAI da Construção entra, oferecendo cursos que possam qualificar essa mão de obra formada por refugiados do Haiti”, explicou o gerente do SENAI Roger Benitez.
Benitez explica que a Escola SENAI da Construção tem várias modalidades de atendimento às demandas das indústrias, com cursos técnicos e de qualificação. “Muitas vezes, quando há necessidade de atendimento rápido a uma empresa, como foi esse caso da Plaenge, desenhamos este curso conforme a demanda da empresa, que traz toda a parte teórica, a questão da Segurança do Trabalho dentro das atividades que eles exercerão”, disse.
EXPECTATIVA - Para os alunos, fica a esperança de que, com um currículo “turbinado” por cursos de qualificação do SENAI, as oportunidades de crescimento no Brasil apareçam. “Campo Grande tem uma coisa diferente. Já trabalhei em outras cidades de outros Estados e aqui o mercado de trabalho é mais exigente. Você precisa saber fazer um pouco de tudo e ser realmente bom em alguma coisa se quiser ser contratado”, afirmou o haitiano Rosemond Pitard, 44 anos, que há quatro anos está na capital.
Membro de uma associação que reúne os haitianos refugiados em Mato Grosso do Sul, Rosemond Pitard já domina o português e afirma que grande parte deles aprendeu o novo idioma trabalhando na construção civil. “Todos chegaram ao Brasil pelo Acre e depois foram para outros estados para procurar um emprego melhor. Em Mato Grosso do Sul, a maioria veio para trabalhar na construção do Aquário do Pantanal e, quando a obra parou, eles foram para outras empresas, para outras cidades, sempre procurando uma colocação no mercado da construção”, contou. Segundo ele, a associação, que orienta os refugiados sobre como se regularizar no Brasil, contabiliza cerca de 100 haitianos em Campo Grande porque a maior parte deles hoje vive em Três Lagoas e Itaquiraí, trabalhando em frigoríficos e usinas sucroenergéticas.
O haitiano Janel Valerin, 31 anos, espera que, com o curso, consiga incrementar a renda para mandar mais dinheiro para os pais, que continuam no Haiti.“Morei em São Paulo (SP) durante um tempo, mas vejo que Campo Grande tem muitas oportunidades para quem realmente quer trabalhar. Depois desse curso já quero fazer outros porque tenho gostado demais do que o SENAI me ensina”, afirmou Janel Valerin.
Como os haitianos receberam a condição de refugiados por parte do Governo Federal, eles têm direito uma carteira de identidade de estrangeiro e, por meio dela, garantem acesso aos direitos sociais e trabalhistas. Nessa condição, os haitianos podem desenvolver trabalho formal do Brasil como qualquer brasileiro.