Encontro da delegação marca contagem regressiva para a WorldSkills 2024

A poucos dias do mundial, competidores, experts, intérpretes e delegados técnicos se reuniram em Caucaia (CE) para integração e últimas orientações

Os melhores do país: Brasil será representado no mundial de profissões por 64 jovens, que disputam 56 ocupações

Em uma competição, cada segundo conta. O tempo consagra os campeões não só nas provas definidas por quem cruza primeiro a linha de chegada. É preciso estar em sintonia com o tempo nas provas de habilidade e de conhecimento, aquelas em que você tem um tempo – sempre ele – pré-determinado para cumprir uma série de atividades. 

Daqui uma semana, 64 brasileiros de 18 a 24 anos estarão em Lyon, na França, competindo no mundial da educação profissional, a WorldSkills. Eles vão disputar com cerca de 1.400 competidores de 70 países o título de melhor do mundo em 56 ocupações ligadas à indústria e ao comércio. As provas simulam tarefas complexas e de alto nível técnico do dia a dia das profissões. 

Para integrar esses jovens e os técnicos/experts e intérpretes, que também compõem a delegação, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) realizou um encontro em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, entre os dias 26 e 29 de agosto. O grupo, que chega a mais de 170 pessoas, teve a oportunidade não só de se aproximar e entrar no clima do mundial, como também entender a importância do tempo. 

Oráculos no túnel do tempo

"Terão provas que vocês não vão conseguir concluir. Ninguém mais vai conseguir. Vocês não podem focar nisso. É para pontuar o máximo dentro daquele tempo”, alertou Marcelo Strehl, que já treinou muitos competidores e, nesta edição, exerce o cargo de Delegado Técnico Assistente, ao lado do Anderson Scarlassara e do titular Jeferson Mateucci.

Competidores em 1995, Jeferson (à direita) e Scarlassara voltam a Lyon quase três décadas depois como delegados técnicos

“A Fresagem a CNC é um exemplo de prova em que o mais importante não é quem terminou primeiro. A qualidade importa. Às vezes você olha para o lado e a peça do adversário está pronta, você se desespera, mas não sabe se está nas medidas”, completou Scarlassara. Ele, Mateucci e o gerente do SENAI Luiz Eduardo Leão são os oráculos da competição. Com 30 anos de WorldSkills no currículo, eles embarcam para a França para uma viagem no túnel do tempo.  

Em 1995, o trio fazia parte da delegação brasileira no mundial, que também aconteceu em Lyon. Discretos e humildes, eles nem comentam, mas está lá escrito na história da WS: Scarlassara voltou para casa com a medalha de ouro e Leão, com o bronze. "Se sentir ansioso, com um frio na barriga, é bom, sinal de que somos humanos. Não tentem não sentir isso, mas saibam lidar, usar essa energia para se fortalecer. Aproveitem a familiarização para descarregar a adrenalina e a tensão, e tenham foco”, aconselhou Leão. 

Brincadeiras e experiências que ensinam 

No primeiro dia do encontro da delegação, os 64 competidores, 56 experts e 35 intérpretes receberam uma orientação aparentemente simples, mas que já era um presságio do desafio dos próximos dias: sentar no auditório por ordem de ocupação (cada ocupação tem um número, começando do #01 de Mecânica Industrial, até a modalidade mais recente, a #63 de Integração de Sistemas Robóticos). Foram 20 minutos até que todo mundo se acomodasse.  

E, se o ritmo é a forma de organizar os sons no tempo, a lição da manhã seguinte foi que 155 pessoas precisam de muita disciplina, concentração e coordenação para entrar em sincronia e acertar uma brincadeira mais antiga que o SENAI. Depois de 1 hora de Escravos de Jó e muitos “tira, bota, deixa ficar”, eles finalmente foram liberados para a próxima atividade.  

A palestra do ex-jogador e preparador físico da seleção brasileira de vôlei Marcel Miri mostrou os caminhos surpreendentes da trajetória de um campeão e o valor das dificuldades e conquistas. “É preciso ter resiliência, constância e inteligência emocional. Os segundos e cada detalhe fazem a diferença. E lembrem, vocês estão indo para uma competição em que vocês têm que olhar para o retrovisor, de onde vocês vieram”, aconselhou Miri, que hoje é diretor de unidades do SESI em São Paulo. 

Competidor da # 34 Cozinheiro, Paulo Colauto Bedin, reconhece que o tempo é um dos fatores mais importantes na sua ocupação, porque dita o que ele consegue fazer e entregar. Foram meses aprimorando os tempos, que incluem até a higienização, etiquetagem e organização dos insumos na geladeira. “Temos uma base de quanto tempo eu levo para fazer cada coisa, e aí tento encaixar, partimos desse planejamento para pensar, ali na hora, o que eu consigo entregar em sete horas de prova, por exemplo”. 

Competitividade importa 

Os psicólogos Lucas Patrick do Vale e Marisa Souza acompanharam os competidores nos últimos meses em encontros virtuais em grupo e individuais. Junto aos team leaders - Danilo Shimoda, Lili Tavares, Marcelo Mendonça e Flau Lima, que exercem a função de coordenadores da equipe -, eles desenharam mais duas dinâmicas para despertar o espírito competitivo dos integrantes da delegação.  

Divididos em grupos, eles tiveram que construir o maior número de aviões de papel com especificidades, como 12 janelas e logos na asa. Um time chegou a entregar 30 aviões em 5 minutos. “Trabalho em equipe, agilidade, atenção e obediência às regras e às etapas de produção são alguns dos ensinamentos que a gente tira de uma brincadeira como essa”, resumiu Lucas Patrick, depois de gastar alguns minutos pedindo silêncio e atenção dos grupos.  

O ponto alto do encontro, porém, foi o trekking, que envolvia uma bússola, contagem de passos, de distância, de pontos de apoio e até de galos. Era tanta informação, árvores e piscinas no caminho que teve competidor que se perdeu da equipe. No fim, qual era o principal objetivo? Concluir o trajeto no tempo certo. Ah, o tempo.

Sonhos e expectativas 

Lorena Virginia Costa Souza vive o sonho de competir na WorldSkills há seis anos. Em 2018, a pernambucana disputou a Olimpíada do Conhecimento na estreia da ocupação # 55 Tecnologia da Água. Perdeu para o competidor do Paraná, que representou o Brasil em 2019, em Kazan, na Rússia. A edição de 2021 não aconteceu por causa da pandemia, e Lorena começou a graduação em Engenharia Química na Universidade Federal de Pernambuco. 

Sem desistir do sonho, ela trocou o curso pela Química Industrial, que era noturno e possibilitava conciliar com o SENAI. De competidora, virou treinadora com a saída do expert. Na seletiva nacional seguinte, Pernambuco ficou de novo com a prata. “Eu falei ‘não é possível que vou ficar com o segundo lugar de novo agora como instrutora’. Mas sou muito orgulhosa do resultado que a gente teve, no meio de tantas mudanças e por uma diferença de 4 ou 5 pontos, de mais de 900”.  

No início deste ano, com algumas reviravoltas e a desistência do representante do Paraná, Lorena foi convidada pelo treinador Adriano Marlon a se estabelecer em Curitiba por alguns meses para treinar e representar o Brasil em Lyon. "Eu sempre quis, né? Sempre imaginei como seria se eu tivesse ido em 2019, então agora eu tenho a oportunidade na minha mão, agarrei essa chance com toda a certeza”, celebra Lorena. 

Ao falar para uma plateia cheia de expectativas, o diretor-geral do SENAI, Gustavo Leal, foi categórico. “Vocês estão preparados. Têm o domínio da técnica, são bons profissionais e a excelência do que o SENAI e o Senac formam no Brasil. É a oportunidade de estarem entre os melhores nas profissões que vocês escolheram. E tão logo a competição termina, um novo mundo se abre para vocês.” 

O superintendente Felipe Morgado lembrou que a educação profissional brasileira é referência mundial. E concluiu com uma lição sobre o tempo. “Aproveitem cada momento, será único. Olhem em volta, respirem, sintam o ambiente. Às vezes, estamos tão preocupados com o que veio antes ou o que virá depois que não vivemos o presente”. Depois de tanta espera, o presente finalmente chegou.

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