Câmara dos Deputados debate inclusão da educação profissional no ensino médio

Diretor-geral do SENAI participou de audiência que apontou entre os principais desafios para implantação da reforma a formação de docentes, a atualização dos cursos e a aproximação das escolas com o setor produtivo

“A formação técnica oferece uma carreira estável e que progride no tempo" - Rafael Lucchesi

Os desafios para inclusão da educação profissional no currículo do ensino médio foram tema de audiência pública, nesta quinta-feira (31), na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. A preparação de docentes, a atualização permanente dos cursos e a relação das escolas com o setor produtivo foram apontados pelos participantes como alguns dos aspectos fundamentais da implantação da Lei 13.415/2007. A nova legislação, sancionada em fevereiro, permite aos estudantes optar por diferentes itinerários formativos para aprofundamento dos estudos: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnico-profissional.

O diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi, também diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI), um dos palestrantes na audiência, destacou a realização de piloto pelas duas instituições para implantação da reforma do ensino médio. O projeto Ensino médio com itinerário de formação técnica e profissional vai começar em 2018 na área industrial de energia com habilitação profissional em Técnico em Eletrotécnica. Será implantado pelas duas instituições em seis estados. “Estamos desenvolvendo no SESI e no SENAI um piloto para implantação da reforma do ensino médio. Acreditamos que essa experiência pode ser muito útil para a rede em geral”, avaliou Lucchesi, durante a audiência. 

A secretária nacional de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Eline Neves Braga Nascimento, também contou que o MEC fará um seminário sobre as experiências-piloto para implantação da reforma e avaliou que um dos maiores desafios é justamente integrar a formação técnica ao currículo regular. “Temos grandes desafios para implantação da reforma. Além da Base Nacional Comum Curricular, temos um grande desafio que é a arquitetura, conectar escolas de ensino médio com o ensino técnico”, ressaltou a secretária. 

PROFESSORES – Para o representante do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Aléssio Trindade, a formação do professor e a gestão das escolas são dois pontos cruciais para a implementação da nova lei, especialmente nas escolas públicas estaduais, responsáveis por 85% das matrículas nessa etapa escolar. “O concurso público normal para contratação de professores não traz a flexibilidade necessária para a formação profissional. É um ponto crítico e não está muito bem resolvido nas redes públicas”, avaliou. 

Para ele, a direção da escola também precisa estar em permanente contato com o setor produtivo e a comunidade para que seus cursos estejam adequados à realidade do mundo do trabalho. “Isso tem de crescer na formação dos gestores e dos professores para que a escola não fique ausente do mundo real”, defendeu. “A escola tem de ser madura o suficiente para buscar parcerias, como com o Sistema S.”

O representante da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Francisco Cordão, também reforçou a ideia de que o docente da educação profissional precisa estar atualizado com as práticas do mercado e nem sempre a formação acadêmica é suficiente para garantir essa preparação. “O grande nó da reforma está na formação de docentes. Nem sempre o melhor professor é o licenciado, mas o profissional com notório saber”, argumentou ele. Para o deputado Giuseppe Vecci (PSDB-GO), autor do pedido de realização da audiência pública, a nova legislação já chega com atraso e por isso é preciso trabalhar com afinco por sua implementação. “Antes tarde do nunca o Brasil acordou para a educação profissional. Como ter um salário melhor, se inserir de forma qualificada no mercado de trabalho sem uma profissão?”, pregou o parlamentar.

ESTUDANTES – Alunos do SESI e do SENAI que já estudam em um modelo articulado de ensino médio com o curso técnico também participaram da audiência na Comissão de Educação e puderam fazer perguntas aos palestrantes. O estudante Marcos Vinicius Beloti, da escola do Gama, no Distrito Federal, perguntou sobre a estabilidade do profissional técnico no mercado de trabalho. Rafael Lucchesi respondeu que essa formação permite uma carreira bem sucedida com salários iniciais próximos, e às vezes até superiores, a ocupações com nível superior. “A formação técnica oferece uma carreira estável e que progride no tempo. Além disso, estando já no mercado de trabalho, o jovem pode prosseguir seus estudos”, explicou. 

A estudante Catharina Farias Lima, também do SESI SENAI do Distrito Federal, avaliou os benefícios do curso técnico. “Eu como estudante tenho orgulho de dizer que realmente gosto de fazer o curso técnico de Segurança no Trabalho porque ele não te prepara somente para a parte profissional como para a vida, porque te dá uma responsabilidade incrível”, contou. “Você tem de se ver como profissional, que é diferente da escola em que você fica sentado na cadeira e tem somente o professor te transmitindo conhecimento. Na parte profissional é bem interessante ver que o melhor professor é aquele que realmente vivenciou a carreira.”

O diretor-geral do SENAI defendeu o avanço da reforma ao incluir a formação técnico-profissional no currículo regular. “A reforma tem grande mérito de assegurar oportunidade de o jovem seguir sua vocação com a educação profissional. Você pode acreditar que a reforma do ensino médio é uma oportunidade, mesmo com os grandes desafios que temos pela frente, de crescente inclusão social no Brasil”, concluiu.

Relacionadas

Leia mais

Sistema Indústria movimenta a economia brasileira
CNI defende mudanças no Estatuto da Micro e Pequena Empresa
9 situações em que o SESI e o SENAI mudaram a vida das pessoas

Comentários