Retração da construção, em março, foi a mais rápida e abrupta da série histórica, aponta CNI

Sondagem aponta a aumento brusco na ociosidade, piora na situação financeira das empresas e queda recorde na confiança. Mas queda do emprego foi menor do que retração da atividade

A Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que o mês de março de 2020 foi fortemente afetado pela pandemia do coronavírus. A pesquisa apresenta quedas acentuadas em todos os indicadores: utilização da capacidade operacional, condições financeiras; confiança; expectativas para os próximos seis meses e intenção de investimento.

A sondagem colheu informações com 411 empresas, sendo 143 de pequeno porte, 181 de médio porte e 87 de grande porte.

A atividade industrial na construção caiu de forma inédita entre fevereiro e março. O índice de evolução do nível de atividade ficou em 28,8 pontos, o que demonstra uma queda muito intensa e disseminada. Esse indicador varia de 0 a 100, com linha divisória de 50 pontos, que separa crescimento e queda do nível de atividade.

Os valores abaixo de 50 pontos são considerados retração. “É o valor mais baixo da série histórica. Indica recuo de intensidade e disseminação jamais registrados na série mensal”, explica do economista da CNI Marcelo Azevedo.

Apesar disso, a queda no emprego não foi tão intensa quanto a retração do nível de atividade. O indicador de evolução do número de empregados registrou 39 pontos, 11 pontos abaixo da linha divisória de 50 pontos. Entre os motivos estão a rapidez e a surpresa da queda da atividade e a possibilidade de os empresários adotarem medidas temporárias para preservação de empregos, como a redução proporcional de jornada e salário. Essas foram alternativas à dispensa permanente.

“Mas não sabemos como vai ficar nos próximos meses, devido a forte contração da atividade e das expectativas”, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.

Empresários estão pessimistas sobre os próximos seis meses

Diante da atual conjuntura, as expectativas para os próximos seis meses registraram as maiores quedas observadas na série histórica. Esse fato demonstra a preocupação do empresário da indústria da construção com o futuro imediato.

Os índices de expectativas do nível de atividade e de novos empreendimentos e serviços recuaram 27,4 e 26,6 pontos, respectivamente, em abril na comparação com março. Os indicadores de expectativas de compras de insumos e matérias-primas e do número de empregados recuaram, 24,9 e 22,8 pontos, respectivamente, no mesmo período.

Os números de abril de 2020 representam o patamar mais baixo atingido por todos os indicadores de expectativa desde o início de suas respectivas séries históricas mensais.

Indústria da construção registra queda recorde de confiança

O índice de Confiança do Empresário da Construção (ICEI-Construção) registrou 34,8 pontos em abril, após cair 24,5 pontos, o maior recuo mensal da série. Com a queda, o ICEI-Construção recuou para o menor valor da série desde outubro de 2015, quando registrou 34,4 pontos.

A falta de confiança traduz o cenário atual de forte contração na atividade e elevada incerteza em razão da pandemia de Covid-19. Essa falta de confiança dos empresários vai contribuir para a paralisação dos investimentos, ou seja, para o agravamento da crise econômica.

Coronavírus afeta faturamento das empresas da construção

A situação financeira das empresas da construção piorou devido à forte queda do faturamento e do nível de atividade decorrentes da pandemia. A piora nas condições financeiras ocorreu depois de três altas consecutivas dos indicadores ao longo de 2019. A insatisfação com a situação financeira e a margem de lucro operacional de seus negócios retornou aos níveis registrados no início do ano passado.

O índice de satisfação com a situação financeira registrou 38,6 pontos, redução de 6,2 pontos frente ao quarto trimestre de 2019. A queda reverte a maior parte de toda melhora acumulada em 2019. A lucratividade também foi afetada negativamente. O indicador de satisfação com a margem de lucro operacional registrou 34,1 pontos após queda de 5,8 pontos em relação ao quarto trimestre de 2019.

O acesso ao crédito também se tornou mais difícil no primeiro trimestre de 2020. O índice de facilidade de acesso ao crédito também recuou 5,4 pontos, de 37,6 pontos para 32,2 pontos.

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