O que pensam 17 especialistas sobre o futuro da cooperação Brasil-Alemanha

38º EEBA discutiu cooperação bilateral, cadeias globais de valor, digitalização, hidrogênio verde e desafios de saúde em um cenário pós-Covid-19.

38º EEBA discutiu cooperação bilateral, cadeias globais de valor, digitalização, hidrogênio verde e desafios de saúde em um cenário pós-Covid-19.

O fortalecimento das relações entre os dois países é uma das prioridades da indústria brasileira apontada pelo presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. De acordo com ele, haverá um esforço para implementar mudanças sugeridas pelos debatedores até a próxima edição do EEBA, nos dias 20 e 22 de outubro de 2022, em Belo Horizonte (MG).

"Neste período vamos trabalhar nas propostas colocadas e nos projetos junto ao governo brasileiro e ao Congresso para que as medidas necessárias possam ajudar nesse relacionamento do Brasil com a Alemanha e principalmente vamos trabalhar com empresários para facilitar o comércio, aumentar a transferência de tecnologia e implementar investimentos entre os dois países", afirmou Andrade.

Maior evento empresarial entre Brasil e Alemanha, o EEBA é organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação das Indústrias Alemãs (Bundesverband der Deutschen Industrie – BDI), em parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil Alemanha (AHK). Neste ano, o formato foi online pela primeira vez. 

Confira as principais ideias debatidas pelos debatedores:

Ulrich Nussbaum, secretário do Ministério da Economia e Energia da Alemanha 

Para o representante do governo alemão, a nova coalizão do país europeu deve manter uma continuidade das relações com o Brasil. Entre as prioridades da agenda bilateral, ele destacou a assinatura e internalização do Acordo de Associação Birregional entre Mercosul e União Europeia, a retomada das negociações para um Acordo para Evitar a Dupla Tributação (ADT) e um fortalecimento da política energética. "Sabemos que o Brasil tem potencial enorme em energias naturais e queremos ampliar a parceria", afirmou no painel sobre cooperação bilateral.

Fernando Simas Magalhães, secretário-geral das Relações Exteriores do Itamaraty

O diplomata brasileiro afirmou que o Brasil tem compromissos bastante sérios com a conservação ambiental, como a contribuição no âmbito do Acordo de Paris, e garantiu que o país está aberto para elaboração de um documento adicional no acordo entre Mercosul e União Europeia a fim de contemplar questões ambientais. "Não se trate de renegociar o acordo, mas estamos abertos a continuar conversando sobre essa preocupações que vemos como legítimas e justas", afirmou Magalhães em resposta ao ministro alemão no painel sobre cooperação entre os dois países.

Gunnar Kilian, presidente da LADW e membro do Conselho de Administração da Volkswagen

Participante do painel sobre o futuro das cadeias de valor, o empresário alemão destacou que a incorporação da neutralidade climática no comércio global é inevitável e que a tecnologia pode ser uma aliada nessa transformação. "Não vamos alcançar a neutralidade sem tecnologia e a digitalização pode ajudar a acelerar processos'', afirmou. De acordo com ele, o novo governo alemão deveria alinhar a agenda sustentável com o reforço da estabilidade. "Queremos ser um país neutro em termos climáticos, mas também queremos continuar sendo um país de inovação e exportação", completou.

Jackson Schneider, CEO da Embraer Defesa e Segurança 

Também no painel sobre as cadeias de valor, o representante da empresa brasileira apontou as ameaças cibernéticas como desafios da digitalização, mas mostrou otimismo no pós-pandemia de Covid-19 com uma melhor integração global. Schneider ressaltou a necessidade de reformas tributária, administrativa e política no Brasil para "melhorar o modelo de negócios e a inserção na economia internacional de forma  mais competitiva aproveitando vantagens comparativas" do país.

Marc Reichardt, presidente da Comissão Mista Brasil-Alemanha e CEO do Grupo Bayer Brasil 

No âmbito das cadeias globais, o empresário classificou como muito sólida a parceria entre Brasil e Alemanha e apontou como principais temas da agenda global pós-pandemia a digitalização e o crescimento sustentável. Ele afirmou que a Bayer faz uma gestão contínua da cadeia de produção alinhada com o compromisso da empresa de atingir a neutralidade de carbono em 2030. "É preciso entender a responsabilidade e o impacto social e ambiental para uma melhor visão integral", afirmou.

Luka Mucic, CFO e membro do Conselho Executivo da SAP SE 

Para o executivo da multinacional alemã especializada em softwares, "não existem alternativas à digitalização" e 70% das empresas alemãs e brasileiras apostam nessa tendência. Para ele, empresas pequenas podem adotar projetos flexíveis. Ele citou como exemplo um aplicativo desenvolvido por alemães no início da pandemia para ajudar com a repatriação. "Não precisam ser grandes projetos para transformação. São projetos voltados para criar valor agregado em poucas semanas ou poucos meses", afirmou Mucic no painel sobre digitalização como estratégia de resiliência para os negócios. 

Dennis Herszkowicz, CEO da TOTVS 

Na avaliação do CEO da empresa brasileira de softwares, o fator mais importante para resiliência no processo de digitalização é a disposição para mudanças dentro da cultura empresarial. "O grande desafio é ter a visão de negócios no caminho certo. Se tiver um mindset que dificulta mudanças, se tem uma cultura na empresa que dificulta a adoção de novas tecnologias, você vai ter uma dificuldade grande para enfrentar uma mudança repentina como foi a mudança que a pandemia trouxe", afirmou.

Marika Lulay, CEO da GFT Technologies SE 

Para a CEO da multinacional de tecnologia com origem alemã, investimentos em inteligência artificial e blockchain foram fundamentais no início da pandemia. "Decidimos acelerar as mudanças porque após a primeira onda haveria um surto de digitalização e as pessoas gostariam de trabalhar com empresas com experiência nisso", afirmou também no painel sobre digitalização. Ela citou como medidas bem sucedidas a adaptação da comunicação ao mundo digital e o onboarding digital.

Marcos Oliveira, CEO da Iochpe Maxion

Presente no Brasil e na Alemanha, a empresa do setor automobilístico estabeleceu prioridades em comum nas operações dos dois países, incluindo compartilhamento de melhores práticas, projetos conjuntos e comunicação contínua para fortalecer a cooperação, afirmou o empresário brasileiro. Oliveira também ressaltou o papel de institutos brasileiros voltados para inovação, como os do Senai, no fomento da indústria 4.0. "Desenvolver iniciativas compartilhadas entre fornecedores e clientes é uma boa estratégia para ajudar a reduzir resistência à mudança", afirmou no painel sobre digitalização.

Judith Wiese, diretora de Sustentabilidade e membro do Conselho de Administração da Siemens AG 

Investimento em digitalização, automação e uso inteligente dos dados são elementos apontados como centrais pela representante da empresa alemã dentro da estratégia de resiliência para os negócios. Essas ações permitem lançar produtos mais rapidamente no mercado e foram usadas em projetos globais como o que resultou na produção da vacina contra Covid-19 desenvolvida pela Biontech com a Pfizer. Esse aprendizado também poderá ajudar na produção do imunizante no Brasil. Wiese também apontou o trabalho próximo ao cliente em conjunto com pesquisadores locais como estratégia eficiente para as empresas.

Gilney Bastos, presidente da White Martins

Para o representante da multinacional brasileira especializada em gases, o desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde (produzido a partir de fontes renováveis) no Brasil é fundamental para o crescimento econômico. "Se  a gente pretende fazer esse país crescer precisa investir em hidrogênio verde", afirmou no painel sobre o uso do combustível sustentável. Bastos ressaltou que para alcançar o potencial de produção são necessárias políticas públicas claras, regulamentação para padronização da produção e do armazenamento e atuação de agências certificadoras de produtos verdes para exportação.

Ricardo Cavalcante, presidente da FIEC

Também participante do no painel sobre hidrogênio verde, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) afirmou que o estabelecimento de parcerias entre os dois países nas áreas de tecnologia e inovação "fará diferença para poder implementar o hidrogênio verde na velocidade em que o mundo está cobrando". Ele citou que os mais de 10 acordos envolvendo empresas estrangeiras para produzir o combustível no Ceará representam mais de 20 bilhões de euros em investimentos. De acordo com ele, a capacidade de energia eólica e solar do estado irá passar dos atuais 2,8 GW para 10 GW nos próximos 4 anos.

Heino Buddenberg, CTO do Waelzholz Group

A experiência da Alemanha na construção de infraestruturas de energia, na gestão de custos no âmbito da transição energética e no aproveitamento de energias renováveis podem trazer soluções para viabilizar a comercialização do hidrogênio verde brasileiro, na avaliação do representante da empresa alemã do mercado de aço. Buddenberg apontou como desafios o transporte para exportação do combustível e um financiamento que permita a atuação conjunta de investidores estatais e privados a fim de criar um "mecanismo de mercado que funcione".

Tim Holt, membro da Diretoria Executiva da Siemens Energy AG

Alcançar a viabilidade econômica da produção do hidrogênio verde para alcançar um comércio de grande escala, um principais desafios para desenvolver esse mercado, pode ser superado, na opinião do empresário da empresa alemã de energia. "Podemos baixar os custos quando temos foco adequado. Reduzidos 30% dos custos [nos setores de energia eólica e solar] com a construção de unidades maiores. Precisamos de processos automatizados e de otimizar a relação com os fornecedores", afirmou Holt no painel sobre o combustível do futuro. Ele destacou a necessidade de fomento estatal e de vontade do setor privado por meio de parcerias entre empresas nesse processo.

Hubertus von Baumbach, presidente do Conselho de Administração da Boehringer Ingelheim

A cooperação entre países e entre empresas além das fronteiras e a proteção da propriedade intelectual são elementos cruciais para a saúde no cenário pós-Covid-19, na avaliação do representante da empresa alemã. Para Ingelheim, a cooperação entre governos, agências reguladoras e empresas foi fundamental para manter linhas de abastecimento para pesquisa e, portanto, honrar a produção de medicamentos. De acordo com ele, foi possível firmar mais de 320 projetos de transferência de tecnologia. "Precisamos de esforços de inovação e de pesquisa porque sem isso não teríamos alcançado os resultados que temos agora", afirmou.  

Janete Vaz, presidente do Grupo Sabin

Melhorar a legislação da validação de novos métodos, exames, equipamentos e medicações é importante para dar mais segurança e celeridade na incorporação de novas tecnologias no setor de saúde, destacou a empresária brasileira. Vaz defendeu também uma readequação da integração da saúde suplementar com o SUS que levou a um "colapso do modelo de gestão" atual focado na remuneração pelo procedimento e não pelo serviço.

Rafael Lucchesi, diretor geral do SENAI

Um modelo mais eficiente de parceria pública privada voltado para o fomento à inovação brasileira em conjunto como os institutos da rede Senai e como laboratórios como Fiocruz e Butantan o uso de novas tecnologias que permitem uma resposta mais rápida são as tendências da saúde para o pós-pandemia, na avaliação do diretor geral do Senai. Para Lucchesi, é possível "criar uma agenda de bem estar, proteção da saúde, maior segurança sanitária para o país e de impulsionamento econômico e tecnológico''. Essas mudanças podem reduzir a dependência brasileira com a importação de medicamentos, equipamentos de proteção individual (EPIs) e ingredientes farmacêuticos ativos (IFAs)."O Brasil tem plenas condições para isso. Tem sofisticação empresarial, setor de saúde consolidado e base científica", completou.

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