À frente de uma nova fase de relacionamento com as bases sindicais, o presidente da FIERGS, Heitor José Müller, que acaba de assumir seu segundo mandato, conta para o Portal da Indústria sua visão sobre os rumos do associativismo. O recém lançado projeto Inova Sindicato, que pretende aumentar e consolidar as bases sindicais do Rio Grande do Sul, servirá de referência para o Brasil inteiro.
De acordo com Müller, nos próximos quatro anos, o caminho do "novo Rio Grande" será fortalecer a representatividade sindical para defender melhor os interesses da indústria, afinal, não se faz um país sem uma indústria forte.
Portal da Indústria – Recentemente, a FIERGS iniciou uma nova fase no seu relacionamento sua base sindical, que teve como marco o seminário Inova Sindicato, realizado no início de maio, com o apoio do Programa de Desenvolvimento Associativo (PDA). Que mensagem a Federação buscou transmitir aos sindicatos durante o evento?
Heitor José Müller – O slogan do evento “Uma nova realidade. Um novo desafio” resume a mensagem central que procuramos transmitir aos nossos líderes sindicais neste encontro: os valores e o modo de vida das pessoas mudaram; as empresas precisaram se adaptar a um cenário globalizado, mais competitivo; as relações interpessoais e empresariais não são mais como eram ontem. Lidamos com mudanças que se consolidam com maior impacto e velocidade a cada dia. Neste contexto, as entidades sindicais e a própria Federação devem, em conjunto, fazer uma releitura da nova realidade e, conscientes do papel de cada ator na sociedade, propor um novo paradigma no qual o todo é infinitamente maior que a soma das partes. Não se faz promoção e defesa de interesses sem que se fortaleça primeiramente o associativismo. Não se constrói um ‘novo Rio Grande’ sem que se fortaleça a Indústria.
Portal da Indústria – Um dos objetivos do seminário Inova Sindicato foi proporcionar a troca de experiências entre lideranças e executivos de sindicatos, por meio da realização de mesas-redondas com representantes sindicais do Ceará e do Paraná. Como o senhor avalia momentos de intercâmbio como esses?
Heitor José Müller – O intercâmbio entre as lideranças sindicais talvez seja o melhor método de aprimoramento das práticas sindicais, lembrando as palavras do consultor Marcelo Lomelino, que enfatizou o fim da ‘era da ensinagem’ para o surgimento da ‘era da aprendizagem’. Na primeira, alguém ensina e outro aprende; na segunda, todos aprendem. Cada entidade sindical, não importando sua estrutura ou o número de empresas que representa, é um potencial mestre para seus pares e, em contrapartida, tem muito a aprender com a experiência destes. As mesas-redondas realizadas no seminário serviram para ilustrar os desafios enfrentados pelos sindicatos e, sobretudo, o quanto somos capazes de, não apenas superá-los, mas de transformar a realidade.
Portal da Indústria – O senhor concorda que promover o associativismo é fortalecer a voz da Indústria? Poderia mencionar um exemplo em que a atuação coletiva da FIERGS, dos sindicatos e das empresas trouxe resultados positivos para a indústria no Rio Grande do Sul?
Heitor José Müller – Eu tenho uma experiência pessoal sobre a importância desta ação coletiva. Quando militei nas entidades e associações dos ‘frangueiros’, nos reunimos, entre todos os concorrentes, num objetivo comum que era o de conquistar o mercado externo. Após reuniões, contratamos serviços especializados e rateamos os investimentos. Resultado: transformamos o Brasil no maior exportador de mundial de frangos. Por isso reitero que a força do associativismo pode ser direcionada à formulação de agendas de interesse para a proposição de políticas públicas. São exemplos dessas agendas a simplificação do Sistema Tributário, a redução da burocracia, a modernização das relações do trabalho etc. Seja para influenciar o ambiente de negócios ou tornar mais eficiente o ambiente de produção, o associativismo empresarial exige a aprendizagem e a colaboração entre os indivíduos a favor de proveitos coletivos. Participar do seu Sindicato e da sua Federação é importantíssimo. A aprendizagem só ocorrerá na prática crescente da participação, do engajamento, do associar-se na soma de esforços em busca da multiplicação de resultados. Assim, quer no enfrentamento de problemas internos ou na busca de condições favoráveis à competitividade no ambiente de negócios, o grande desafio do associativismo empresarial esta no rompimento da barreira do individualismo, na direção de uma cultura realmente associativa. Assim, a FIERGS sustenta que uma das melhores formas de lutar pelo crescimento e desenvolvimento das indústrias gaúchas é a união, união entre Federação, Sindicatos e Indústrias.
Portal da Indústria – No último dia 20 de maio, o senhor foi reeleito para seu segundo mandato à frente da FIERGS. Qual a estratégia da Federação para dar continuidade ao fortalecimento dos sindicatos no Estado e o incentivo ao associativismo?
Heitor José Müller – A estratégia não muda: fortalecer a representatividade sindical e o associativismo para melhor promover e defender os interesses da indústria. O que muda são as táticas e, por óbvio, as ações e os projetos que dela decorrem. Com o apoio do PDA, pretendemos promover iniciativas de excelência visando o desenvolvimento de nossas lideranças sindicais, a qualificação da gestão dos sindicatos patronais e a aproximação destes à sua base por meio de produtos que atendam às necessidades e superem as expectativas das indústrias. Vamos atuar ombreados aos sindicatos, dando-lhes suporte institucional, auxiliando naquilo que citamos inicialmente: a releitura da “nova realidade”, buscando efetivamente contribuir para a construção de um cenário favorável ao desenvolvimento do Estado e do País.