Crescimento sustentável depende das reformas

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, avalia com otimismo momento atual da economia brasileira, sobretudo em comparação com os dois últimos anos, mas reconhece entraves para novos avanços

“Mesmo reconhecendo os desafios, temos que insistir nas reformas”, diz Goldfajn

A continuidade dos ajustes e das reformas, em particular a da reforma da Previdência, é importante para o equilíbrio da economia, diz o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Segundo ele, a economia brasileira deve seguir em trajetória de recuperação gradual. “Temos observado também a recomposição do poder de compra das famílias e a recuperação do consumo.

A retomada dos investimentos é o próximo passo esperado para gerarmos crescimento sustentável no médio e no longo prazos”, afirma. Ele diz ainda que o BC está preparado e vai atuar para garantir estabilidade econômica em 2018, quando haverá eleições presidenciais.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é sua avaliação sobre o desempenho da economia brasileira em 2017?

Ilan Goldfajn - Nossa situação econômica apresentou avanços importantes. Temos agora a conjunção de três fenômenos: a redução da inflação, a queda das taxas de juros e a recuperação da economia brasileira. A condução firme da política monetária, aliada à mudança na direção da política econômica de forma geral, foi decisiva para reduzir as expectativas de inflação e para colocá-la em trajetória de queda.

Além disso, em face das expectativas da inflação ancoradas em torno da meta e do alto grau de ociosidade na economia, a taxa Selic recuou 675 pontos-base desde outubro de 2016. Há também melhorias nas condições do nosso mercado de crédito e a economia brasileira dá sinais de recuperação, com geração de emprego.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA  - É possível afirmar que o pior realmente já passou?

Ilan Goldfajn - Após dois anos de recessão, o conjunto recente dos indicadores de atividade econômica mostra sinais compatíveis com a recuperação gradual da economia brasileira. Depois de um crescimento de 1% no primeiro trimestre deste ano, em comparação aos três meses anteriores, nossa economia teve um crescimento adicional de 0,2% no segundo trimestre de 2017. Em sequência ao bom desempenho no primeiro semestre, dados mais recentes continuam apontando para uma recuperação gradual. Até agosto, o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) acumula crescimento de 0,3% no ano.

A taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD-M) caiu para 12,4% em setembro, após atingir o pico de 13,7% em março de 2017. Além disso, na avaliação de analistas de mercado, as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são de 0,7% para 2017 e 2,5% para 2018. É importante enfatizar que essas expectativas de crescimento para 2017 e 2018 são maiores que as esperadas no final do ano passado.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA  - O mercado financeiro parece hoje mais otimista para o próximo ano. Quais as expectativas do Banco Central para 2018?

Ilan Goldfajn -
A expectativa do Banco Central é que a economia deve seguir em trajetória de recuperação gradual, cujos sinais são perceptíveis, como, por exemplo, os avanços observados no emprego. Temos notado também a recomposição do poder de compra das famílias e a recuperação do consumo. A retomada dos investimentos é o próximo passo esperado para gerarmos crescimento sustentável no médio e no longo prazos.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Tudo indica que o país fechará o ano com uma das mais baixas taxas de juros da história, mas as restrições fiscais e as dificuldades para a votação da reforma da Previdência podem prejudicar a manutenção dessa trajetória de queda dos juros básicos?

Ilan Goldfajn -
A taxa Selic recuou 675 pontos-base desde outubro de 2016 e as taxas de juros reais (juros nominais menos inflação), estimadas usando várias medidas, se encontram entre 2,5% e 3,1%, valores próximos aos mínimos históricos. A fim de garantir que a tendência de queda das taxas de juros reais seja sustentável, é necessário continuar os esforços de reduzir a taxa de juros estrutural. Para isso, temos que perseverar no caminho dos ajustes e das reformas.
 
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - As incertezas políticas, decorrentes da eleição presidencial, poderão afetar esse cenário?

Ilan Goldfajn - O cenário básico do Banco Central envolve fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, temos a combinação de possíveis efeitos secundários do choque favorável nos preços de alimentos e da inflação de bens industriais em níveis correntes baixos e também da possível propagação do nível baixo de inflação que pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado.

Mas por outro lado, há uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e dos ajustes necessários na economia brasileira, que pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária.  Esse risco aumenta se o atual cenário externo, favorável para economias emergentes, mudar.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Quais os principais obstáculos para uma retomada do crescimento sustentável da economia?

Ilan Goldfajn - A continuidade dos ajustes e das reformas, em particular a da reforma da Previdência, é importante para o equilíbrio da economia, com consequências favoráveis para a desinflação, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia brasileira. Mesmo reconhecendo os desafios, temos que insistir na agenda de reformas.

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