Brasil desperta interesse de investidores nos Emirados Árabes Unidos

O embaixador brasileiro em Abu Dhabi, Fernando Igreja, afirma que os grandes grupos econômicos estão de olho na economia brasileira e na América Latina. O país chama a atenção por representar mais de 60% do comércio do continente com os emiráticos

O embaixador do Brasil em Abu Dhabi, Fernando Igreja, assumiu o posto há três meses, depois de uma temporada no governo em Brasília. Nos Emirados Árabes Unidos, Igreja se deparou com dois cenários: o crescente interesse dos investidores árabes pelo Brasil e o desejo dos brasileiros em investir e ampliar o comércio bilateral. Apesar da convergência aparente de interesses, ainda falta, diz o embaixador, transformar esses interesses em negócios.

No próximo dia 17, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) realiza, em parceria com a embaixada brasileira, o 1º Encontro Empresarial Brasil-Emirados Árabes Unidos na expectativa de trocar informações e prospectar mercados, clientes e negócios. Acompanhe a entrevista: 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Os Emirados Árabes Unidos estão entre os mercados mais dinâmicos do mundo em termos de comércio exterior. Mas é apenas o 26º parceiro comercial do Brasil. O que acontece? 

FERNANDO IGREJA – Atualmente, temos um pouco mais de 20 empresas brasileiras estabelecidas aqui, nos Emirados. O empresariado brasileiro já identificou o país como um destino importante, sobretudo como um ponto de fusão para toda a região do Golfo e do Oriente Médio. Mas evidentemente ainda há muita a se fazer, há muito espaço para o Brasil ocupar e de uma forma mais significativa. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Falta interesse? Conhecimento? 

FERNANDO IGREJA –
Há um certo desconhecimento do que é o Brasil. Mas os grandes grupos de investimentos que estão nos Emirados e são importantes, sabem das potencialidades da economia brasileira. Eles estão olhando para o nosso país. Isso eu acho que é uma coisa sensível. Os Emirados querem conhecer melhor toda a América Latina. Mas percebemos o grande interesse dos setores do governo e do alto empresariado no Brasil. Ele chama a atenção. Hoje é responsável por mais de 60% do comércio que os emiráticos têm com a América Latina. O que talvez falte, ainda, é transformar esse interesse em coisas práticas, em negócios. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Na sua opinião, o que é preciso para ampliar as relações bilaterais?

FERNANDO IGREJA –
É preciso usar os meios que existem. Vir aos Emirados, conhecer as facilidades para investir e montar uma empresa e descobrir quais são as necessidades e as demandas existentes. Dubai é um grande centro de exposições e feiras comerciais. Recentemente tivemos uma feira de produtos alimentícios em que o empresariado brasileiro teve uma boa participação, principalmente com o apoio do escritório da APEX-Brasil em Dubai. Há outro fator importante, que não é tão conhecido pelas empresas brasileiras, que são as zonas francas, especialmente em Dubai. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Como funcionam essas zonas francas?

FERNANDO IGREJA –
As empresas podem vir para cá, instalarem-se nessas zonas, sem nenhum ônus. Elas só pagam a instalação física. E a partir de um pequeno escritório podem negociar dentro de todo o país. Os produtos só ficam sujeitos a qualquer tipo de taxação, que aqui é pequena, no momento em que são internalizados. Os Emirados são uma plataforma para que as empresas possam chegar à Ásia, ao Oriente Médio, e à Costa Oriental da África, que também é próxima. A Tramontina, por exemplo, tem um grande depósito na zona franca e, a partir daqui, distribui para vários países da região. Então, há este atrativo. Também há conectividade, pois há dois voos diretos do Brasil, um de São Paulo e outro do Rio. Não é difícil chegar aos Emirados.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Mas há dificuldades em se obter vistos. Há empresários que dizem esperar até três meses.

FERNANDO IGREJA –
Foi assinado em março um acordo entre o Brasil e os Emirados Árabes para a supressão de visto de turismo nos passaportes diplomáticos, de serviço e passaportes comuns. Quanto ao passaporte diplomático e o passaporte de serviço, o acordo já está em vigor. Para os passaportes comuns, o acordo está sendo analisado no Congresso Nacional. A informação que eu tenho é que o acordo aguarda para ser votado pelo plenário da Câmara e, depois, seguirá para o Senado. Com esse acordo, o fluxo de pessoas deve se intensificar e com mais facilidade. Acredito que, com isso, evidentemente ficará mais fácil a concessão do visto de negócios. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – O acordo inclui o fim dos vistos de negócios?

FERNANDO IGREJA –
Não. Mas sem os vistos de turismos, os vistos de negócios serão emitidos de uma forma mais rápida. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Quais os setores mais atrativos para as empresas brasileiras nos Emirados Árabes?

FERNANDO IGREJA –
Há uma demanda de produtos de tecnologia mais avançada. Os Emirados como um todo, Dubai talvez de forma especial, são um pólo de inovação tecnológica no mundo, eles fazem experiências interessantes em várias áreas, especificamente em energia renovável. No Brasil há empresas que estão desenvolvendo tecnologia semelhante. Não podemos perder de vistas que os Emirados são um país rico, mas são um país em desenvolvimento, então há semelhanças com o Brasil, há possibilidade de integração nas mais diferentes áreas. Além do interesse normal de exportação para cá, eu acho que os Emirados oferecem uma boa oportunidade para as empresas se expandirem e buscarem cooperação em áreas de tecnologia. 

COBERTURA COMPLETA:
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