Macroeconomia sólida, previsível e positivamente repetitiva é o que se espera do próximo presidente do Brasil. Essa é a avaliação do presidente do Fórum das Empresas Transnacionais Brasileiras (FET) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Dan Ioschpe. O empresário também é presidente do Conselho de Administração da Ioschpe Maxion, companhia com 31 unidades fabris em 14 países, líder mundial na produção de rodas automotivas, um dos principais produtores de componentes estruturais automotivos nas Américas e também líder na produção de equipamentos ferroviários no Brasil.
Nessa entrevista para a Agência CNI de Notícias, Dan Ioschpe, diz que a economia brasileira crescerá em 2018, mas a recuperação definitiva a partir de 2019 dependerá da condução do governo no controle da inflação, dos juros, o nível do emprego, da renda e dos investimentos, além da boa administração do gasto público. “Nós ainda temos grandes desafios, primeiro na questão da governança fiscal do estado brasileiro, que precisa ser endereçada, porque senão a macroeconomia não vai conseguir se sustentar no médio e longo prazo”, afirma.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – O que podemos esperar para a economia neste ano?
DAN IOSCHPE – Ao que tudo indica nós teremos em 2018 uma macroeconomia favorável com a inflação contida e com a taxa de juros relativamente baixa para os padrões brasileiros, embora os juros continuem altos na comparação de outros países, e também esperamos uma recuperação do emprego. Tudo isso deve ajudar no desenvolvimento da economia brasileira. Esperamos que haja um crescimento mais significativo, com a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), entre 2% e 3%. Esses percentuais são relevantes, principalmente após três anos de queda expressiva em 2014, 2015 e 2016. Tivemos um pequeno crescimento em 2017 e, agora em 2018 veremos provavelmente um crescimento maior.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Qual deve ser a preocupação?
DAN IOSCHPE – Nós ainda temos grandes desafios, primeiro na questão da governança fiscal do estado brasileiro, que precisa ser endereçada, porque senão a macroeconomia não vai conseguir se sustentar no médio e no longo prazo. Podemos ter um 2018 bom, 2019 e 2020 ruim. Se isso ocorrer não adianta. Nós temos uma eleição presidencial no caminho em que a sociedade brasileira vai debater os rumos que deseja que o Brasil tome.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Quais as prioridades das multinacionais brasileiras para os candidatos a presidente?
DAN IOSCHPE – O mais importante no caso brasileiro é um macroeconomia sólida, previsível e positivamente repetitiva. O controle do gasto público deve ser priorizado. Se nós atingirmos esse objetivo, poderemos passar para o segundo nível, que pode até andar em paralelo, que é continuar a inserção competitiva do Brasil no mundo. Com mais acordos internacionais, maior participação nos fóruns de comércio e de governança internacionais e ao mesmo tempo a melhoria das condições competitivas horizontais do Brasil. Com esses três aspectos, a governança macroeconômica, inserção internacional e a difusão da competitividade, provavelmente teremos bom caminho para todos, inclusive para a internacionalização das empresas.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Por que as empresas brasileiras devem ser incentivadas a investir no exterior?
DAN IOSCHPE – Quando o mercado doméstico vai muito mal, como vimos em 2014, 2015 e 2016, a atividade exportadora aumenta, pois as empresas brasileiras e as internacionais baseadas no Brasil vão buscar oportunidades fora do país. Mas o movimento de internacionalização requer uma certa maturidade de crescimento continuado das empresas que possibilite que elas tenham recursos econômicos e humanos para buscar esse caminho que não é simples.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – O que um país precisa para ter mais empresas internacionalizadas?
DAN IOSCHPE – O primeiro ponto é a macroeconomia adequada, estável e previsível, dificilmente, as empresas brasileiras vão conseguir gerar riqueza suficiente para poder dar os passos na sua internacionalização. Nós não vamos achar histórias de países com grau de confusão macroeconômica, que suas empresas conseguiram se desenvolver de forma exuberante. O primeiro ponto para o desenvolvimento tanto dentro quanto fora do Brasil é sim a questão da macroeconomia bem conduzida.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – A crise despertou o país para a importância da inserção internacional?
DAN IOSCHPE – Me parece que o Brasil, as empresas e a sociedade estão olhando a agenda de inserção competitiva de uma forma mais positiva, buscando participar de forma mais ativa das cadeias globais de valor nos mercados mundiais. Não fosse isso, nós não teríamos uma visão favorável, como tivemos em 2017, com as negociações entre Mercosul e União Europeia, e outros acordos comerciais que nós vamos ver pela frente.
O caminho ideal para termos mais sucesso passa por realizar mais acordos comerciais, por se fazer mais presente no mercado internacional, para que possamos abastecer essa cadeia de distribuição de produtos lá fora e sustentar o crescimento das empresas brasileiras no exterior.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Como e porque integrar mais o Brasil ao mundo?
DAN IOSCHPE – Está mais claro, inclusive por pesquisas realizadas pela própria CNI, que a atividade no exterior acelera o volume de exportação. As empresas que se internacionalizam exportam mais a partir do seu país de origem, no caso do Brasil, do que empresas só com unidades domésticas. Da mesma forma, as empresas com operações no exterior realizam mais inovação e mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento do que aquelas que não se internacionalizam no seu país de origem.
A internacionalização de empresas cria enormes possibilidades de movimentação de pessoas do Brasil para o exterior, aumenta capacidade gerencial dessas empresas, então não há um fato negativo. Também está claro, que uma dependência exagerada do mercado doméstico, especialmente para a indústria, não é um bom caminho. Normalmente, quando as empresas começam a exportar, com mais vigor, elas acabam verificando que a internacionalização é o próximo passo. Quanto mais internacionalizado se estiver, provavelmente mais a empresa vai exportar.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Quais os desafios que as multinacionais enfrentam no mundo em 2018?
DAN IOSCHPE – Os desafios que enfrentamos aqui, em via de regra, são maiores do que aqueles que a gente enfrenta fora, embora a arena competitiva, o grau de competitividade em termos de participantes da indústria e barreiras de entrada no exterior sejam maiores. Os desafios da competitividade no Brasil são mais íngremes do que lá fora.
Nós precisamos reduzir os entraves horizontais à competitividade do Brasil, por exemplo, insegurança jurídica, logística, complexidade da tributação, o custo de se realizar os procedimentos tributários, os juros reais, ainda acima da média internacional, e coisas do gênero.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Com o aumento do protecionismo mundial, é possível vermos um retrocesso na globalização?
DAN IOSCHPE – Eu não acredito que nós vamos ter um retrocesso da globalização. Estamos vendo a aceleração das trocas internacionais, seja de capital seja de propriedade ou de bens e essa aceleração vai continuar. Agora existem regiões do mundo e isso é um pouco do vai e vem, que em determinados momentos vão estar mais ou menos satisfeitas, ou politicamente alinhadas com esses fenômenos. Há países como China e Índia que estão se desenvolvendo numa velocidade muito rápida e estão cada vez mais interessados em fazer um inserção competitiva e participar mais e mais das cadeias globais.
Para o caso específico da internacionalização das empresas brasileiras, mesmo esse debate de alguns países importantes em relação a acelerar ou não o processo de globalização é de baixa relevância, pois nós estamos tão atrasados no processo que o mais relevante para nós não é isso.
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – O que é o mais importante?
DAN IOSCHPE – A estabilidade da nossa macroeconomia
AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Como a reforma tributária dos EUA nos afeta?
DAN IOSCHPE – O Brasil será um dos países mais afetados. Parte do espírito da reforma tributária americana é fazer com as que as empresas baseadas nos Estados Unidos ou sediadas nos EUA tenham mais competitividade do que elas têm hoje, do ponto de vista da tributação do país de origem. Embora os EUA de um lado tenham tido alguma posição contraria a movimentos de globalização em relação a acordos internacionais, agora, por outro lado, na questão da tributação está fazendo um esforço muito grande para que as empresas não deixem os Estados Unidos para serem competitivas e permaneçam com sua sede lá e possam realizar sua atividade de internacionalização.
Com a reforma tributária americana, o Brasil vai ter que revisar, com muita rapidez e inteligência, a sua visão da tributação dos ativos dos brasileiros no exterior, que hoje na nossa visão está razoavelmente fora de mercado. Estamos tendo uma tributação excessiva em relação a maior parte dos países relevantes do mundo. E, desta forma, as empresas baseadas no Brasil perdem competitividade na sua ação no exterior, o que é algo muito ruim para o país e para as empresas.