O secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, o embaixador Mauricio Lyrio, afirma que o Business 20 (B20) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) foram fundamentais “para a implementação das decisões tomadas pelos governos do G20”. O diplomata também é o sherpa do G20, ou seja, o principal responsável pelas negociações do Brasil com os demais países do grupo. Sem o apoio da indústria, avalia ele, teria sido muito mais difícil concretizar as prioridades do G20 estabelecidas pela presidência brasileira.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como o senhor avalia a contribuição da indústria brasileira e da CNI para a formação da agenda do G20?
MAURICIO LYRIO - Considero fundamental. Desde o início da presidência brasileira do G20, em dezembro de 2023, nós temos valorizado o trabalho dos grupos de engajamento, que representam a voz da sociedade civil nas tratativas do G20, com destaque para o B20, ou “Business 20”, coordenado pela CNI. Trata-se de um dos grupos de engajamento mais tradicionais, que foi criado em 2010 e conta com mais de 1.200 representantes empresariais oriundos dos 21 membros do G20.
O B20 e, consequentemente, a CNI representam uma voz fundamental para a implementação das decisões tomadas pelos governos do G20. É a voz do setor empresarial privado. Sem o apoio desse setor, na forma de recursos financeiros e humanos e de poder de mobilização econômica, ficaria muito mais difícil concretizar as três prioridades do G20 estabelecidas pela presidência brasileira de turno: o combate à fome e à pobreza; o desenvolvimento sustentável e a justa transição energética; e a reforma do sistema multilateral global. Felizmente, temos contado com o engajamento da CNI nas discussões desde o primeiro dia.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Poderia destacar as três contribuições que considera mais relevantes?
MAURICIO LYRIO - Pela primeira vez desde a constituição do G20, representantes dos doze grupos de engajamento foram convidados a apresentar suas recomendações diretamente aos sherpas em reunião realizada no Rio de Janeiro, em 4 de julho. Na ocasião, o B20 apresentou uma série de propostas muito oportunas e realistas, das quais posso destacar três: o crescimento da produtividade agrícola de alimentos, particularmente em países em desenvolvimento, por meio de biotecnologia, tecnologias digitais, inteligência artificial e práticas agrícolas regenerativas; o impulsionamento de estratégias de transição energética que incluam biocombustíveis e energias renováveis; e o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC) por meio da retomada de seu Mecanismo de Solução de Controvérsias.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Que impactos a rodada de 2024, sob a liderança do Brasil, pode gerar para o setor produtivo nacional?
MAURICIO LYRIO - Os efeitos econômicos da presidência brasileira do G20 podem não ser facilmente sentidos no curto prazo, mas, caso as metas sejam cumpridas, o setor produtivo nacional pode beneficiar-se imensamente no médio e no longo prazos. Um exemplo: segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 735 milhões de pessoas no mundo passam fome e 2,4 bilhões sofrem por insegurança alimentar. O combate à fome e à pobreza, além de representar um imperativo humanitário, possibilitaria incluir essas pessoas na cadeia de consumo de alimentos, com ganhos enormes para a agricultura e a indústria. Outra meta defendida pelo Brasil – o alinhamento entre recursos financeiros internacionais e metas de combate à mudança climática – possibilitaria desbloquear bilhões de dólares em investimentos estrangeiros para obras voltadas à transição energética, à descarbonização da indústria e à exploração de recursos energéticos renováveis, com ganhos de escala para todo o setor produtivo.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Houve avanços no sentido de ampliar o acesso aos recursos para a transição energética e o enfrentamento das mudanças climáticas?
MAURICIO LYRIO - As discussões desses temas no G20 sempre representam um complemento em relação a fóruns climáticos, em especial a Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que o Brasil sediará em 2025. Ainda assim, a presidência brasileira contribuiu com o avanço das discussões ao criar a Força-Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima (FT-CLIMA), que une as trilhas de sherpas e finanças do G20 e promove um diálogo de alto nível entre governos, instituições financeiras e organismos internacionais sobre o clima.
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