Cidades sustentáveis podem ser oportunidade para o Brasil, afirma Boyd Cohen

Preservar o meio ambiente pode reduzir custos e aumentar as receitas das empresas, de acordo com o norte-americano Boyd Cohen.

Preservar o meio ambiente pode reduzir custos e aumentar as receitas das empresas. De acordo com o norte-americano Boyd Cohen, especialista em empreeendedorismo, inovação e cidades inteligentes, os gestores precisam enxergar nos riscos de mudanças climáticas oportunidades para dar mais eficiência aos processos, com economia de recursos e energia. Em entrevista à Agência CNI de Notícias , Cohen enfatiza também novos modelos de negócios e tecnologias que podem surgir para promover o avanço de cidades sustentáveis, o que poderia ser uma oportunidade para o Brasil. “Curitiba saiu na frente como uma cidade sustentável, mas, desde então, o Brasil não avançou tanto quanto outros países na transformação para cidades inteligentes e sustentáveis”, destaca.

No livro Capitalismo Climático , que redigiu em parceria com Hunter Lovins, Cohen destaca que “o capitalismo do clima é uma oportunidade para que as empresas e as comunidades reinventem a si mesmas para o século XXI, revigorando desse modo a economia e a força de trabalho, criando milhões de novos empregos locais e reafirmando a liderança no conhecimento, na inventividade e na inovação tecnológica”. Confira a seguir os principais trechos da entrevista de Cohen, que participou no último dia 22 de setembro do evento CNI Sustentabilidade , no Rio de Janeiro.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O senhor defende que a questão climática reflete uma crise do capitalismo e que o clima e a economia estão ligados tanto na causa quanto na cura dos problemas atuais. O problema climático não seria uma consequência do próprio capitalismo, que tem por base intrínseca o consumo?

BOYD COHEN - Essa é uma boa pergunta. Não estou certo de que o capitalismo está diretamente atrelado ao consumismo, mas, infelizmente, ambos andam cada vez mais juntos na maioria das sociedades. E, sim, o consumismo contribui para a mudança climática. Sou otimista com alguns aspectos da economia colaborativa, que pode ampliar o alcance a produtos sem a necessidade de comprá-los. Essa é uma de muitas soluções que contribuem para o que alguns chamam de pós-capitalismo. Sob outra perspectiva, no meu primeiro livro (Capitalismo climático), eu e Hunter Lovins demonstramos que em alguns casos a economia pode crescer – pelo acesso a energia renovável, veículos elétricos, casas “verdes” e alimentos orgânicos – de formas que efetivamente contribuem para atenuar a mudança climática.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Qual o papel dos governos nesse processo de impulsão da economia aliada à solução dos problemas climáticos?

BOYD COHEN - Acredito que governos nacionais e regionais podem estimular iniciativas positivas da economia colaborativa. Podem também contribuir positivamente com planejamento urbano adequado e sistemas de transporte público e, é claro, pelo estímulo à utilização de fontes de energia renováveis por meio de tarifas feed-in (mecanismo legal que obriga concessionárias de energia a comprarem eletricidade renovável a valores acima do valor de mercado).

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O senhor defende que a melhor e mais rápida maneira de proteger o clima é reduzir o uso desnecessário de energia fóssil. Como acelerar esse processo visto que a economia mundial está fortemente enraizada nos combustíveis fósseis? Em quanto tempo o senhor avalia que podemos ter as fontes renováveis como protagonistas no fornecimento energético?

BOYD COHEN - Precisamos nos concentrar nas nossas cidades para que sustentem uma transição rápida [para uma economia de baixo carbono]. As cidades precisam ser projetadas para abrigarem populações densas e, assim, reduzir nossa necessidade pelo transporte individual. Cidades como Copenhagen e Estocolmo já definiram suas metas para neutralizarem suas emissões de carbono por meio de energias renováveis, edifícios verdes, transporte público, ciclovias etc. Países poderiam estimular políticas urbanas para cidades verdes e inteligentes e, por elas, nações livres de carbono.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - No livro Capitalismo Climático , o senhor mostra que a redução de gases de efeito estufa pelas empresas impacta diretamente em questões como retenção de talentos e melhoria da criatividade e o moral no local de trabalho. A força de trabalho vai valorizar mais a conservação ambiental em relação a salário e outros benefícios diretos aos trabalhadores? Como será essa relação?

BOYD COHEN - A Geração Y tem mostrado mais interesse em responsabilidade social do que gerações anteriores. Não tenho certeza se é um atributo mais atraente que salários e benefícios, mas é um instrumento poderoso de atração e retenção de talentos. Mas só o é se for uma política sincera da empresa. Aparentar ser ambientalmente responsável não funciona no longo prazo nem com consumidores nem com empregados.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Quais as perspectivas para o Brasil com o crescimento das energias renováveis? De que forma o país precisa se preparar para estar entre os principais players nesse mercado?

BOYD COHEN - Eu diria que o Brasil já é um ator importante no mercado global de energias renováveis. O país é líder mundial na produção de etanol e possui empresas relevantes no cenário mundial, como a Gamesa, de energia eólica. O uso de energia hídrica cresceu substancialmente nas últimas décadas. O Brasil tem muito potencial e acredito que pode fazer muito mais na questão urbana. Curitiba saiu na frente como uma cidade sustentável, mas, desde então, o Brasil não avançou tanto quanto outros países na transformação para cidades inteligentes e sustentáveis, embora o Rio de Janeiro tenha feito progresso. Por exemplo, há grandes avanços no conceito de ecodistritos e novas formas de geração local de energias renováveis, como geração a partir do lixo ou de biomassa; tecnologias de refrigeração e calefação que preservam os recursos hídricos da região e outras tecnologias encontradas nos ecodistritos.

Leia também

Relacionadas

Leia mais

Práticas sustentáveis precisam ser viáveis economicamente, diz presidente do Conselho de Meio Ambiente da CNI
Produção e consumo sustentáveis são tema de seminário na CNI
Indústria brasileira investe em produtos sustentáveis que reduzem consumo de água

Comentários