A conservação ambiental é essencial para o crescimento econômico e social sustentável

Em entrevista à Revista da Indústria Brasileira, o presidente do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Marcelo Thomé, afirma que as restrições hídricas atuais têm origem na redução do volume de chuvas e o adensamento de atividades que exigem mais água

"Precisamos atender nossas atuais necessidades sem comprometer as necessidades das gerações futuras" - Marcelo Thomé

Em entrevista à Revista da Indústria Brasileira, o presidente da Ação Pró-Amazônia e do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Thomé, destacou a necessidade de conservação do meio ambiente e o momento de crise hídrica vivido pelo Brasil. 

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“Hoje estamos mais preparados para enfrentar condições adversas. Há uma redução da dependência de geração hidroelétrica e um aumento expressivo das linhas de transmissão e dos mecanismos de precificação como as bandeiras tarifárias”, afirmou. Confira a entrevista: 

 

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é a importância da conservação ambiental para um crescimento sustentável?

MARCELO THOMÉ - A conservação ambiental é essencial para o crescimento econômico e social sustentável, pois, apesar das guerras e epidemias vividas pela humanidade, a população continua a crescer e a longevidade tem aumentado ano após ano. Assim, é importante entender o meio ambiente como fonte de alimentação, de medicamentos e de insumos para a indústria como um todo.

Precisamos atender nossas atuais necessidades sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Esse é o pensamento que deve orientar o crescimento econômico equilibrado com o meio ambiente e com o social. A participação do Governo, das empresas privadas e das associações sem fins lucrativos na construção de uma governança ambiental é de fundamental importância para a sociedade.

O Estado deve atuar como formulador de políticas públicas e fornecedor da infraestrutura necessária. O setor privado precisa se comprometer com práticas sustentáveis do ponto de vista socioambiental. E a sociedade organizada deve cuidar da conservação ambiental do meio ambiente, para as atuais e futuras gerações. 

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - O que levou ao atual contexto de restrições hídricas?

MARCELO THOMÉ - As restrições atuais têm origem na redução do volume de chuvas nos últimos anos e no adensamento de atividades que exigem um volume maior de água disponível comprometendo, inclusive, a geração de energia, tendo em vista que nossa matriz elétrica está vinculada à água.

Uma notícia boa é que o sistema de fornecimento de energia é interligado, fato que possibilita o fornecimento de energia, atualmente, do Nordeste, para as regiões que sofrem escassez hídrica, como Centro-Oeste, Sudeste e Sul e a manutenção dos setores produtivos, especialmente da indústria. 

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - De que maneira essa situação pode afetar a indústria brasileira?

MARCELO THOMÉ - A indústria brasileira de transformação, extrativista, da construção civil e de utilidade pública será afetada, em maior ou em menor proporção, em função de sua dependência de recursos hídricos. Observa-se, entretanto, que a indústria vem buscando garantir sua segurança hídrica, mediante a identificação de fontes alternativas de abastecimento público, tais como reuso de efluentes tratados, captação de água de chuva, utilização de bombas flutuantes, entre outras.

Mas é preciso criar estruturas que garantam o abastecimento de água e reduzir as perdas das redes de saneamento, as quais, hoje, poderiam abastecer todo o setor industrial brasileiro, além de identificar fontes alternativas de abastecimento.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Quando a atual crise hídrica deve ser resolvida? 

MARCELO THOMÉ - O Operador Nacional do Sistema (ONS) e a Agência Nacional de Águas e Saneamento esperam chuvas para o final da temporada seca, mas há especialistas menos otimistas com as previsões e chegam a prever chuvas escassas e, portanto, o agravamento da situação em 2022.  

Em 2001, o racionamento tornou-se realidade, mas com as chuvas de verão, as medidas foram suspensas e tudo voltou à normalidade rapidamente. Espero que se repitam as chuvas de 2001.

REVISTA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Do ponto de vista regulatório, o que ainda pode ser feito? 

MARCELO THOMÉ - As medidas regulatórias já estão sendo tomadas no que diz respeito ao ONS e à ANA mediante redução da vazão nos reservatórios, acompanhamento das condições de navegabilidade na hidrovia Tietê-Paraná e acionamento das usinas termoelétricas, ou seja, os órgãos de Estado estão atentos e operantes.

Entretanto, é necessário consultar os usuários, dentre os quais a indústria. Nesse sentido, tudo o que puder ser feito para diminuir custos de produção, como a redução de obrigações enquanto durar a escassez hídrica, será muito bem-vindo, uma vez que manter a competitividade da indústria é fundamental para acelerar a recuperação econômica do país. 

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