Powershoring pode transformar a economia brasileira

Em artigo publicado no Estadão, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, explica que a grande disponibilidade de energia limpa é um diferencial competitivo do país

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A corrida para conter o aquecimento global coloca o Brasil diante de uma oportunidade ímpar para revitalizar a indústria nacional e retomar o caminho do desenvolvimento econômico e social. Para que essa possibilidade se transforme em benefícios concretos, o País precisa adotar, com urgência, medidas capazes de ampliar a produção e o uso de fontes renováveis de energia.

Num mundo que caminha para a redução drástica do consumo de combustíveis fósseis, a disponibilidade de fontes de energia limpas, como a hídrica, a eólica e a solar, passou a ser uma vantagem comparativa dos países. Nesse cenário, o Brasil, que tem um admirável potencial para a produção de energias renováveis, poderá ser um polo de atração de indústrias e de investimentos, desempenhando um papel relevante na nova configuração das cadeias globais de valor.

Esses arranjos produtivos, que no passado se caracterizavam pela presença de fábricas em regiões onde os custos da mão de obra eram mais vantajosos, estão mudando. Em razão da necessidade de descarbonizar a economia para combater o aquecimento do planeta, um dos principais atrativos para a indústria passou a ser a oferta abundante e segura de energia renovável.

A nova estratégia de localização da produção com base na disponibilidade de energia limpa, tendência global conhecida como powershoring, será cada vez mais importante para as empresas reduzirem as emissões de gases de efeito estufa. Também será essencial para as indústrias atenderem à crescente demanda dos consumidores por produtos sustentáveis e se adequarem às regras internacionais de conservação do meio ambiente.


O powershoring pode ser decisivo para as empresas que são grandes consumidoras de energia, como as indústrias de aço, vidro, fertilizantes, cimento, papel e celulose e cerâmica. Esses e outros setores, que têm sido pressionados pelos custos da energia e pela urgência de descarbonizar a produção, podem encontrar no Brasil um destino seguro para a instalação de suas fábricas.


Dados do Balanço Energético Nacional deste ano mostram que as fontes renováveis tiveram uma participação de 47,4% na matriz brasileira, porcentual muito superior à média de 14,1% do mundo.

O País, que é o segundo maior produtor de biocombustíveis, atrás apenas dos Estados Unidos, também vem desenvolvendo tecnologias e modelos de negócios inovadores nesta área. Exemplo disso são os carros híbridos, movidos a etanol ou a eletricidade. Outra iniciativa são as células de combustível que convertem etanol em hidrogênio no posto de gasolina ou no próprio veículo para gerar eletricidade. Está em estudo, ainda, a produção de diesel, querosene de aviação e hidrogênio verde a partir dos óleos de soja, macaúba e dendê.

A esses fatores somam-se outros pontos positivos do Brasil. Entre eles, destacam-se: o sistema financeiro regulado, o mercado de capitais relativamente sofisticado, as cadeias industriais e as redes de serviços de apoio à produção e à gestão. Além disso, temos importantes centros de pesquisa e universidades com experiência no desenvolvimento de produtos e tecnologias, além de escolas que são referência na formação de mão de obra qualificada.

Somos um dos principais destinos dos investimentos estrangeiros diretos e contamos com uma expressiva presença de empresas multinacionais, que atuam em setores como automotivo, químico, siderúrgico, alimentos e finanças.

Dispomos de uma grande variedade de produtos minerais e agrícolas para uso industrial. Também temos uma localização privilegiada, distante de regiões com questões geopolíticas complexas.

Com essas características, o Brasil tem condições de aproveitar o movimento de powershoring para inaugurar uma fase de desenvolvimento industrial baseada em baixa emissão de carbono, respeito ao meio ambiente, inserção internacional e inovação.


A estratégia do powershoring tem potencial para beneficiar todas as partes envolvidas. Para as empresas, o acesso à energia limpa, segura e barata reduzirá o impacto ambiental das atividades, ajudará a diminuir os custos e a aumentar a competitividade. Para os países-sede dos empreendimentos que migrarem para outras regiões, poderá ser uma oportunidade para acelerar a transição para a economia de baixo carbono, pois diminuirá a demanda local por energia que libera gases de efeito estufa.


Para as nações ou regiões que receberem as indústrias interessadas em energia limpa, o powershoring deverá ser um importante indutor dos investimentos, da inovação, das exportações e da participação nas cadeias de valor. Esses elementos são essenciais para promover o crescimento econômico sustentado e a geração de emprego e renda.

É por isso que o Brasil precisa transformar suas vantagens comparativas em fatores importantes para o movimento do powershoring. Isso requer a implementação de uma série de medidas voltadas para a atração de indústrias que precisam de energia renovável, além de políticas robustas de apoio à inovação e ao desenvolvimento de tecnologias.

São indispensáveis iniciativas que incentivem a criação e a produção de equipamentos e serviços que aumentem a oferta de energia limpa. São igualmente importantes políticas consistentes que promovam os investimentos em biocombustíveis e outras fontes renováveis. Também é preciso estimular os investimentos na promissora área de bioeconomia e instituir o mercado regulado de carbono.

Essas e outras ações foram discutidas na conferência O powershoring e a neoindustrialização verde do Brasil, que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e outros parceiros realizaram em 15 de agosto, em Brasília.

Acreditamos que o powershoring é um caminho promissor para o Brasil revitalizar o setor industrial, gerar mais riquezas e crescer de forma vigorosa e sustentável. Por isso, empresários, governos e demais representantes da sociedade devem unir esforços para que o País adote as medidas adequadas e se beneficie deste movimento global, que pode transformar, para melhor, a indústria e a economia brasileiras.

*Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O artigo foi publicado no Estadão neste sábado (02).

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