No momento em que o Brasil enfrenta uma das mais graves crises de sua história, com milhares de empresas em situação de insolvência e 13,3 milhões de desempregados, é preciso ressaltar o relevante papel desempenhado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e pelo Serviço Social da Indústria (SESI). Ao longo das últimas décadas, as duas instituições têm atuado em favor da qualificação da mão de obra, da produtividade e da competitividade da indústria, bem como para a saúde, a segurança e a qualidade de vida de trabalhadores de todo o país.
SENAI e SESI foram decisivos na construção de um parque industrial forte e diversificado. Não há um único grande empreendimento implantado no Brasil nos últimos 70 anos que não tenha utilizado e se beneficiado dos serviços oferecidos pelas duas entidades. Hoje, elas são imprescindíveis para o enfrentamento dos desafios da quarta revolução industrial, que exige a constante adequação de empresas e trabalhadores às novas tecnologias e a mercados cada vez mais competitivos.
Desde que foi criado, em 1942, o SENAI formou 71 milhões de brasileiros para 28 áreas da indústria - da iniciação profissional até a pós-graduação tecnológica. Hoje, atende empresas e trabalhadores em 555 escolas fixas e 442 unidades móveis espalhadas pelo país, além de oferecer mais de 90 cursos a distância. Maior complexo de educação profissional e serviços tecnológicos das Américas, possui ainda 189 laboratórios acreditados pelo Inmetro e atende a milhares de empresas, com prestação de serviços e consultorias com impacto direto na produtividade da indústria.
A instituição está investindo cerca de R$ 2,5 bilhões na criação de 57 Institutos de Tecnologia - que prestam serviços em metrologia, testes de qualidade e consultoria em processos produtivos - e de 25 Institutos de Inovação, que realizam pesquisa tecnológica e desenvolvem produtos e soluções em parceria com empresas de todos os portes. Os Institutos de Inovação foram inspirados na rede de Institutos Fraunhofer, da Alemanha, com a qual o SENAI mantém uma antiga e produtiva parceria. Mais recentemente, foi firmado convênio com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), para implantação de boas práticas existentes nos Estados Unidos.
O SENAI desenvolveu uma metodologia que permite antecipar demandas da indústria e oferecer uma educação profissional conectada às tendências do mercado de trabalho. O método já foi transferido a 20 países da América do Sul e do Caribe. Em 2015, alunos da instituição conquistaram o 1º lugar na WorldSkills, a olimpíada internacional de educação profissional, à frente de equipes de países como Coreia do Sul e Alemanha. Naquele ano, a competição, realizada em São Paulo, reuniu estudantes de 62 países. Por tudo isso, o SENAI foi reconhecido pelas Nações Unidas como uma das três instituições mais importantes em educação profissional de qualidade no hemisfério sul.
Com 1.248 escolas e unidades de saúde, o SESI também tem cumprido com excelência a missão de levar educação básica, segurança no trabalho e saúde aos trabalhadores. A qualidade do ensino oferecido pela instituição, que apenas no ano passado realizou mais de 1,7 milhão de matrículas, é atestada pelos bons resultados alcançados por seus alunos na Prova Brasil, do MEC. Estudo do pesquisador Naercio Menezes, do Insper, revelou que alunos do SESI têm, em média, resultados superiores aos das redes municipais, estaduais e privadas, em língua portuguesa e matemática.
O SESI também é referência na oferta de serviços em saúde e segurança no trabalho. Entre os investimentos da instituição nessa área, estão os Centros de Inovação, que trabalham com diferentes linhas de pesquisa em Segurança e Saúde no Trabalho. Atualmente, há oito dessas unidades em funcionamento.
Além do SESI e do SENAI, o Sistema Indústria é composto pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), que prepara as indústrias para um ambiente de alta competitividade, oferecendo soluções em gestão, educação empresarial e desenvolvimento de carreiras. O sistema tem 71 mil funcionários, viabiliza formação educacional e profissional a 4,3 milhões de alunos, e beneficia com serviços de saúde e segurança no trabalho a 3 milhões de pessoas em 2700 municípios. Tudo isso é possível graças ao trabalho de governança e gestão estratégica superior feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelas 27 federações de indústrias.
É importante destacar que as atividades do SESI, do SENAI e de todo o Sistema Indústria são financiadas, em sua maioria, por contribuições compulsórias arrecadadas das empresas do setor. Os recursos e sua gestão são de natureza privada. De acordo com o Supremo Tribunal Federal, cabe ao poder público fiscalizar se estão sendo aplicados na missão institucional das entidades. Tal modelo de financiamento também existe em vários países, como Alemanha, França e Dinamarca.
Além de aplicarem de forma eficaz as contribuições aportadas pelas empresas, SESI e SENAI são administrados de forma transparente. Orçamentos, demonstrações contábeis e outros dados sobre a gestão financeira das duas instituições estão disponíveis em seus respectivos sítios na internet. Elas cumprem rigorosamente as exigências legais, prestam contas à sociedade e são fiscalizadas por nada menos do que nove instituições, entre as quais Tribunal de Contas da União (TCU); Controladoria-Geral da União (CGU); ministérios da Educação, do Trabalho e do Desenvolvimento Social e auditorias independentes.
Graças à aplicação eficiente e transparente dos recursos, a atuação do SESI e do SENAI é aprovada pelos empresários que contribuem para a manutenção do sistema. Pesquisa com amostragem de 3.921 indústrias revelou que 90% dos empresários aprovam a atuação das duas entidades e as consideram "essenciais para o desenvolvimento da indústria brasileira". Se não fosse esse modelo de financiamento, o déficit de mão de obra bem preparada, e os problemas de saúde e segurança no trabalho seriam imensamente maiores. Em um país de tantas incertezas, onde precisam vencer tantos desafios no dia a dia, as empresas dificilmente investiriam, de forma consistente, na qualificação de trabalhadores para o futuro, como faz hoje o Sistema Indústria. Mais do que nunca, o fortalecimento dessa estrutura é indispensável para o desenvolvimento da indústria e do Brasil.
Artigo publicado no jornal Valor Econômico nesta sexta-feira (1º).