Entre os muitos componentes ligados ao mundo do trabalho que a nova era digital deixou para trás – além de objetos, equipamentos e comportamentos caídos em desuso –, está a sensação de que é possível concluir os estudos. No cenário atual, que exige profissionais não só antenados com o que está acontecendo no mundo, mas também dotados de espírito inovador, a aprendizagem precisa ser continuada e ocorrer ao longo de toda a vida (long life learning, no termo em inglês). Alguns podem encarar esse fato como uma dificuldade, mas a atitude correta, diante das múltiplas oportunidades profissionais que surgirão, é não desistir nunca.
O ambiente de trabalho está passando por profundas transformações, em consonância com as mudanças nos modelos de negócios e na produção, ocasionadas pela revolução digital. Muitas ocupações tradicionais estão se alterando radicalmente ou sendo extintas. Enquanto isso, outras surgem a todo instante. Nesse panorama de renovação, terão vantagens aqueles que tiverem habilidades tecnológicas, pensamento crítico, velocidade na execução de tarefas, flexibilidade e capacidade de aprender e de trabalhar em equipe.
Essas são algumas das competências técnicas e emocionais que devem fazer parte da educação profissional para dotar os trabalhadores dos instrumentos necessários ao bom desempenho de suas funções. O ensino, em todos os níveis formais e técnicos, precisa ser multidisciplinar, pois as tarefas serão cada vez mais complexas em praticamente todos os setores da economia – em especial, na indústria. É imprescindível preparar estudantes e trabalhadores para essa nova realidade, com a máxima urgência possível.
O Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, lançado em maio pelo recém-criado Observatório Nacional da Indústria, identificou a demanda futura por mão de obra para orientar a formação profissional de base industrial no país. Segundo o estudo, até 2025, o Brasil precisará qualificar 9,6 milhões de pessoas em ocupações na indústria: 2 milhões em formação inicial – para repor inativos e preencher novas vagas – e 7,6 milhões em formação continuada, que são os trabalhadores que precisam se atualizar. Ou seja, 79% da necessidade, nos próximos quatro anos, será em requalificação e aperfeiçoamento.
Uma boa notícia é que devem ser criadas 497 mil vagas formais em ocupações industriais, saltando dos atuais 12,3 milhões de empregos no setor para 12,8 milhões em 2025. Esses postos de trabalho demandarão conhecimentos em níveis de qualificação, técnico e superior. De acordo com o estudo, as maiores oportunidades estarão nas áreas de construção, metalmecânica, logística e transportes, alimentos e bebidas, têxtil e vestuário, automotivo, tecnologia da informação, eletroeletrônica, gestão e couro e calçados.
Para estimular a mudança nos sistemas de educação profissional no mundo, o Fórum Econômico Mundial lançou a Aceleradora de Competências (Closing the Skills Gap Accelerator, no original em inglês). O objetivo do programa é qualificar 1 bilhão de pessoas em todo o mundo em oito anos, especialmente em setores de alta tecnologia, como automotivo, de energia e de biotecnologia. No Brasil, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) coordena a força-tarefa, em parceria com o governo federal e a Microsoft. A meta é qualificar 4,2 milhões de trabalhadores em novas tecnologias até 2025.
O SENAI vai potencializar o trabalho que já realiza em formação profissional – com mais de 2 milhões de alunos por ano. Trará para a iniciativa o maior número de empresas que queiram apoiar a qualificação por meio de compartilhamento de informações e experiências, além de apoio no desenvolvimento de novos cursos. Nesse enorme esforço de capacitação para as exigências do novo mundo do trabalho, o Brasil pode contar com o SENAI, cuja excelência é reconhecida mundialmente, e com todas as instituições do Sistema Indústria.
*Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O artigo foi publicado na Revista Indústria Brasileira
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