Congruência política e agenda para o desenvolvimento

Em artigo publicado na Revista Indústria Brasileira, Luciana Veiga, doutora em Ciência Política explica a necessidade de reforma tributária e de qualificação de mão de obra

Benjamin Page e Robert Shapiro, no artigo Effects of Public Opinion on Policy, de 1983, apresentam evidências de que a opinião pública afeta as políticas públicas mais do que estas impactam aquela. A pesquisa se refere à realidade dos Estados Unidos de 1935 a 1979 e avalia a congruência política, ou seja, a correspondência entre a opinião dos eleitores, a opinião dos representantes e as políticas que eles aprovam. Essa congruência é desejável na democracia, sobretudo quando é necessário combater o discurso antissistema político, que se estrutura sobre a sensação de que os governos não atendem aos anseios da população.

Na posse como ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin mencionou a necessidade da reforma tributária, da redução do Custo Brasil, da reindustrialização e da qualificação da mão de obra. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, comprometeu-se a controlar os gastos públicos, sem negligenciar a inclusão social, e destacou a urgência de uma reforma tributária capaz de gerar crescimento da economia, do emprego e da renda.

Esses discursos têm congruência com argumentos presentes na opinião pública, de acordo com pesquisa qualitativa realizada pelo Grupo de Investigação Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), entre os dias 12 e 24 de dezembro de 2022.

Da perspectiva do cidadão comum, a corrupção, os privilégios e o desperdício são uma afronta num país que precisa superar a pobreza e a desigualdade social. Da experiência que trazem de seu dia a dia, as pessoas apontam que não é solução sustentável expandir a dívida sem planejar como pagá-la para garantir a sobrevivência de hoje.

É unânime a percepção de que a economia precisa se fortalecer com controle da inflação e geração de emprego e renda. Os entrevistados desejam salário com poder de compra suficiente para levar a família a um restaurante. Aliás, se ter o dinheiro para a comida é o parâmetro para a sensação de segurança, proporcionar lazer à família é o sinal de que a economia do país oferece dignidade. A carteira assinada ainda mexe com os anseios de estabilidade e reconhecimento social de muitos brasileiros. No entanto, em parte por falta de capacitação profissional, muitos se encontram na informalidade e aspiram a crescer com seu próprio negócio.

Independentemente de qual seja o anseio de cada um, a população compartilha da necessidade da reforma tributária, da desburocratização e da qualificação da mão de obra, postura semelhante àquela expressa pelos ministros recém-empossados.

*Luciana Veiga é doutora em Ciência Política e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Foi presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) no biênio de 2020/2022.

O artigo foi publicado na Revista Indústria Brasileira.

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